domingo, 17 de junho de 2012

Análise a respeito do Pensamento e linguagem e do Método


O problema do método na psicologia sobre o qual incide a obra de Vigotsky permeia todas as ciências humanas no século XX. Nesse momento, discute-se e assume-se que não há como limitar esse campo de estudo a uma epistemologia positivista como acontece com as ciências ditas exatas. Essa discussão inicia-se quando percebemos que não há como excluir a subjetividade desse tipo de trabalho, e não é por isso que deixa de ser legítimo.
            Ao Vigotsky dizer que o sujeito constrói-se em relação com o meio, questiona-se o método da psicologia, uma vez que o empirismo não dá conta de relações tão complexas e relativas, pois não há como regulamentar, generalizar e quantificar tais situações.
            Portanto, a preocupação passa a ser entender a gênese dessa subjetividade do ser humano, em não entender apenas o fim, mas o processo, ou seja, interpretá-lo. O que é o que acontece – mais uma vez comparando – com as outras ciências humanas, como por exemplo, a história, onde não cabe mais a questão acerca da veracidade de um acontecimento, mas sim suas interpretações e implicações na sociedade.
            Assim, a preocupação torna-se entender essa subjetividade que é tão característica do ser humano, sua gênese. Na teoria, o ponto de partida torna-se os signos, e para Vigotsky mais precisamente, a linguagem que é mediadora da subjetividade entre os indivíduos, pois é produzida social e historicamente e materializa as significações produzidas nesse processo socio-histórico.
            Mas mesmo assim é possível estabelecer um estudo de cunho científico, pois apesar do indivíduo ser dotado de sua unidade, ele ainda é construído socialmente e porta tais aspectos de seu meio, portanto não podemos abolir o método e da formulação de teorias, mesmo porque exceções são permitidas e bem-vindas inclusive para fins de enriquecimento do estudo.
            Contudo, nota-se o quão importante é a linguagem na teoria vogotskyana e sua relação com a gênese do pensamento. Para ele, funções mentais são relações sociais internalizadas, os signos são instrumentos psicológicos, então a mediação aparece como ponto de partida fundamental. Então, ele vê a linguagem com a função de comunicação, mas que tem como função primordial a organização do pensamento generalizante, portanto, quando as crianças aprendem a linguagem, passam a conceber o mundo de outra forma, o que podemos exemplificar com a protagonista do filme “O milagre de Anne Sullivan”, a Helen Keller, que passa a relacionar-se com as outras pessoas e com o mundo de outra maneira após aprender uma forma de linguagem, e acima de tudo passa a conseguir ter um aprendizado. A linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos.
            A linguagem como pensamento generalizante é o que organiza e agrupa idéias e coisas semelhantes entre si, e é o que a faz um instrumento do pensamento. Quando a linguagem existe isolada do pensamento – fase pré-intelectual – só há certa linguagem de alívio emocional e contato social, como o balbucio dos bebês, não tem função de signo. E quando há o pensamento separado da linguagem – fase pré-verbal – nota-se apenas uma “inteligência prática”, onde o indivíduo consegue modificar o ambiente para solucionar alguns problemas.
            A articulação da linguagem com o pensamento é fundamental na espécie humana, pois o biológico transforma-se no sócio-histórico, assim o indivíduo insere-se num grupo cultural. O pensamento verbal passa a dominar na ação psicológica humana.
            Tais questões são cruciais na obra de Vigotsky. Segundo o autor, o pensamento passa a existir por meio de palavras.
            Com isso, a reflexão torna-se inclusiva em relação às ciências humanas por colocar as relações histórico-sociais como fundamentais na filogênese do indivíduo e, ao acrescentar análises antes não relevantes para a psicologia ele a enriqueceu de forma incomparável tirando-a de uma análise meramente quantitativa e linear que não dá conta da abrangência, pluralidade e subjetividade da mente humana, e também pode explicar as diferenças entre os indivíduos de forma mais satisfatória a coerente.
           
Filme

O milagre de Anne Sullivan. Ano/País/Gênero/Duração: 1962/EUA/Drama/102min Prod.: Fred Coe. Dir.: Arthur Penn Rot.:  William Gibson 

Bibliografia

SMOLKA, Ana Luísa B. O (im)próprio e o (im)pertinente na apropriação das práticas sociais.
OLIVEIRA, Marta Kohl. Pensamento e linguagem.
AGUIAR, Wanda. A pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica: contribuições para o debate.

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