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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NOTAS SOBRE ARTE

A arte é uma forma de conhecimento que exige leituras e reflexões específicas.

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Sua apreensão não se limita ao olhar do primeiro instante. Sem as informações necessárias passam despercebidos a pesquisa e o aprofundamento da linguagem. A aparência satisfaz o olhar desavisado.

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"Só se vê aquilo que se olha". (Merleau-Ponty). O que percebemos numa obra  de arte é aquilo que recolhemos em nosso modelo de ver. O homem é inserido numa sociedade, numa linguagem, por onde aprende a ver, pensar e sentir. A linguagem é o dispositivo através do qual ele se apropria das coisas, dos seres, das formas e das cores.

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Como arte pode ser qualquer coisa, em nome da arte contemporânea, somos muitas vezes colocados diante de alguma coisa que dizem ser arte. Qual o critério?

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Para o artista não basta saber pintar, muito menos se apropriar de imagens ou objetos, de forma aleatória, é indispensável ter referências e dispor de um método. Cada artista concebe sua arte a partir de sua própria teoria, mesmo que esta não esteja explicitamente formulada.

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Uma obra encerra múltiplas possibilidades de indagação. Recriamos as imagens em nossa percepção, e as modificamos subjetivamente de acordo com nossa experiência de vida. Projetamos sobre elas os nossos valores e nossas inquietações. As obras de arte se completam de formas diferentes na imaginação de cada espectador. É também objeto de decoração, acrescenta ao espaço habitado a curiosidade de um abrigo poético.

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Falar de arte é preciso aprender o método de observar sua produção, é preciso ir do conceito à obra e da obra ao conceito.

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Compreende-se a arte a partir da obra, um processo ligado à experiência e ao pensamento que aciona certas condições subjetivas do conhecimento. Se conhece o artista através de sua obra, e esta é uma invenção da atividade do artista, (Heidegger).

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É um fazer político localizado. A arte tem sua própria materialidade. Ela não é lugar de apoio para outras políticas, mesmo essas chamadas culturais que ignoram questões acerca das linguagens e suas transformações. "Ao curso de grandes períodos históricos, juntamente com o modo de existências das comunidades humanas, modifica-se também seu modo de sentir e perceber", (Walter Benjamin). A arte participa dessas mudanças como tarefa política de transformar a realidade dentro de um território determinado do saber.

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A arte está sujeita a um sistema de poder estranho ao fazer cultural. A arte deixa de ser vista como um fenômeno cultural, para se tornar um fato exclusivamente social e de mercado. O problema não é o mercado, ele é necessário e tem um papel importante no circuito da arte, mas a importância que ele vem assumindo como agente principal do circuito. Ele até facilitou a produção, sem dúvida, mas fez com que o valor de troca levasse a reflexão à recessão.

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Estamos atravessando um momento, onde é cada vez mais difícil a produção cultural sem a interferência da mídia e dos interesses do mercado. Se a ética desta sociedade é o consumo, tudo passou a ser determinado pela lei do mercado: a saúde, a educação, a cultura, etc.

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O intelectual e o crítico são dispensáveis numa sociedade, onde o mundo do pensamento é pouco tolerável, por outro lado, os patrocinadores, os empresários da arte, os profissionais de marketing, os curadores... são os protagonistas da arte.

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O artista que era um artesão desqualificado até século xiv, a partir do Renascimento passou a ocupar um lugar de destaque no território do conhecimento, e neste novo milênio ele é considerado o vilão da cultura.

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O que vem ocorrendo com as artes plásticas e a cultura de uma forma geral, faz parte do espetáculo de uma sociedade que vê na retenção de riquezas o objetivo da vida. Uma instituição cultural dispõe de poucos recursos, fica por conta dos patrocinadores a programação e a política cultural.

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