quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Professores despreparados para o método adotado no país comprometem desempenho no Pisa


Falta de formação do corpo docente impede que sistema educacional baseado no construtivismo se reflita em uma educação mais eficiente
Renata Honorato
“Optar por um modelo democrático construtivista requer professores preparados e essa é uma carência do Brasil” - Neide Noffs, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Faculdade de Educação da PUC-SP

O desempenho brasileiro abaixo da média no relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) passa por um ciclo vicioso em que o sistema educacional adotado no país - o construtivismo - não funciona porque os professores estão despreparados para aplicá-lo com eficiência. É base do construtivismo que professores trabalhem como tutores e ensinem os alunos a 'construírem', organizarem e controlarem o seu conhecimento. Sem o preparo adequado, quem deveria ser o condutor do aprendizado pode tirá-lo dos trilhos.

OCDE: Desempenho de alunos brasileiros está bem abaixo do ideal

Para Cláudio Gomide, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (UNESP), a desvalorização social do papel do professor reflete em profissionais sem formação inicial e continuada. "Sem um regime de trabalho justo e plano de carreira é impossível que uma instituição mantenha um corpo docente de qualidade apto à função de ensinar”, diz. “Optar por um modelo democrático construtivista requer professores preparados e essa é justamente a carência do Brasil”, afirma Neide Noffs, coordenadora do curso de Psicopedagogia da Faculdade de Educação da PUC-SP. A especialista ainda completa: “É preciso que existam propostas pedagógicas adequadas a cada região. O Brasil é muito grande e não é possível abordar a educação de um ponto de vista único em todos os estados”.
Embora a posição do Brasil no ranking do Pisa seja insatisfatória, os números indicam uma pequena evolução, se comparados aos dados de 2006. Noffs associa essa melhora a algumas mudanças de legislação que ocorreram nos últimos anos. Ela cita, por exemplo, a recente obrigatoriedade na apresentação de planos curriculares na rede pública municipal. “A fiscalização melhorou, mas é preciso que o país acompanhe de perto essas medidas operacionais”, lembra.
Para Gomide, o tímido aperfeiçoamento está vinculado ao crescimento da inclusão educacional no Brasil. “Mais crianças começaram a frequentar a escola e isso melhora o desempenho de modo geral, mas não é suficiente para elevar o nível do setor”, pondera. “Ainda sofremos com a falta de acesso à informação e com o total desconhecimento dos valores que movem cada aluno”, ressalta o especialista ao citar as razões pelas quais os brasileiros são tão mal avaliados em exames internacionais.

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Problema invisível – Segundo o relatório do Pisa, com base na opinião de escolas brasileiras, o uso de álcool e drogas ilícitas, aliado a prática do bullying - palavra inglesa usada para designar o ato de intimidar e atormentar –, é o que mais compromete o rendimento dos alunos brasileiros. O problema é velho conhecido de países ricos, como Estados Unidos e Grã-Bretanha, mas parece comprometer mais a educação por aqui do que em nações desenvolvidas.
De acordo com os especialistas, há motivos de sobra para tais fatores influenciarem o setor no Brasil. “Faltam psicólogos nas escolas que possam ajudar os alunos e a sociedade a enfrentarem esses problemas. Hoje todas essas questões ficam nos ombros dos professores, que se dividem entre vários colégios para conseguir renda”, lembra Gomide. Noffs concorda com o acadêmico e complementa: “As medidas de penalização em outros países são mais severas. Nos EUA, por exemplo, um aluno de oito anos pode ser preso se for flagrado praticando o bullying. Aqui a gente simplesmente finge que isso não acontece.”

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