quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os 50 filmes que mais perturbadores da história


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Lembra dos nossos 11 filmes mais insanos da história? O post que definitivamente colocou a gente no mapa da internet e criou nossos primeiros fãs (se é que temos algum). Art Vandelay, usuário do site Listal, criou uma lista similar, com os “50 Mindfuck Movies” (ou 50 filmes que estuprarão sua mente). E, amigos… tem alguns clássicos por lá (2001 - Uma Odisséia no Espaço, Laranja Mecânica, Blade Runner), alguns dos meus filmes favoritos (Clube da Luta, Primer, Old Boy) e alguns dos filmes que já estão na lista para Eu ver (Kontroll e Synecdoche, New York, por exemplo). Clique na imagem e seja feliz. Aguarde para breve resenhas de alguns deles, já que ultimamente não vejo muita coisa no cinema.

Capitão América - O Primeiro Vingador Por Felipe Storino

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Não é segredo pra ninguém que a grande preocupação atual do Marvel Studios é com o vindouro filme dos Vingadores. A maior prova disso é Thor, filme que se preocupa muito mais em mostrar no cinema elementos da Casa das Idéias do que desenvolver o personagem. Felizmente, apesar de ter o subtítulo de “O Primeiro Vingador”, o filme do Capitão América não comete os mesmos erros da adaptação do deus do trovão e desenvolve bem a história de Steve Rogers. Isso, claro, sem deixar de lado as sementes para o filme da superequipe da Marvel.
A cena de abertura já deixa claro para os fãs como a história vai terminar, enquanto deixa os novatos intrigados com o que acabaram de ver. Ela mostra um grupo de exploração encontrando um avião enterrado na neve. Ao entrar no veículo, eles descobrem o escudo do Capitão América congelado. A partir daí, a história vai para 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, onde um franzino Steve Rogers tenta desesperadamente se alistar no exército dos EUA.
Logo nesse começo, o que chama bastante a atenção é a magreza do jovem Steve. Os efeitos utilizados para diminuir a altura e emagrecer o ator Chris Evans são bem impressionantes. Quando ele interage com outros personagens, em nenhum momento nós deixamos de acreditar que Steve é daquele jeito. E boa parte do filme é com o personagem com este físico. É também nesse início que o público é apresentado à Bucky Barnes, melhor amigo de Steve e que, ao contrário deste, é aceito no exército.
Claro que depois de muito sofrer nas mãos dos valentões, Rogers consegue entrar para o projeto do super-soldado e acaba se tornando o Capitão América. A transformação do jovem soldado, com um close nos olhos arregalados, faz referência a outro herói Marvel que também estará em Vingadores.

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Infelizmente, Capitão América – O Primeiro Vingador possui um dos grandes defeitos do filme do Thor: a tentativa exagerada de fazer comédia. Nada contra um pouco de humor nesse tipo de filme, os dois Homem de Ferro possuem cenas engraçadíssimas, mas sempre sem perder o ritmo. Já em Capitão América, o humor parece ter a função de não deixar momentos sem diálogos ou não deixar a coisa muito séria. A ordem provavelmente era que o filme usasse a fórmula de ação e humor de Homem de Ferro, mas os roteiristas não foram bem sucedidos nessa tarefa.
Em determinada parte, Steve Rogers se joga em cima de uma granada enquanto todos os outros recrutas saem correndo, uma cena perfeita para mostrar a coragem dele e porque ele deveria ser escolhido para ser o Capitão América. Infelizmente, pouco antes da cena terminar, o personagem de Tommy Lee Jones, general Chester Phillips, diz para o doutor Erskine “ele continua magrelo”. Ora, o objetivo do soro do supersoldado não era justamente fornecer super-força ao soldado? Pra que um comentário desses então? E quando Steve e Peggy Carter finalmente se beijam, lá está o general de novo com a brilhante fala “eu não vou te beijar”.
Mas é óbvio que todos devem querer saber é das cenas de ação. E elas são muito boas, mas bem que podiam ser mais constantes. O filme perde muito tempo mostrando o Capitão América como uma marionete do governo para conseguir mais apoio durante a guerra. São cenas interessantes e que servem para mostrar como ele se tornou um verdadeiro herói, mas não havia necessidade de durar tanto tempo. Eu gostaria de ver o Capitão batalhando um pouco mais na Segunda Guerra, vencendo batalhas quase perdidas contra os nazistas e tal. Mas quando ele vai para o combate já é para enfrentar a Hidra, comandada pelo Caveira Vermelha, que se voltou contra Hitler.
De qualquer forma, é empolgante ver o Capitão América em ação, arremessando o escudo e se defendendo dos tiros numa velocidade impressionante. Além disso, os fãs da Marvel podem se divertir procurando participações especiais, como a de DumDum Dugan, ou ainda ver Bucky Barnes lutando ao lado do Capitão América. E nessa onda de participações especiais, o filme aproveita para mostrar Howard Stark, pai de Tony Stark, que trabalha criando armas para o exército americano. Inclusive, é ele quem cria o escudo do Capitão.

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A maior derrapada de Capitão América – O Primeiro Vingador é perto do final do filme, quando eu esperava uma batalha épica entre o bandeiroso e o Caveira Vermelha, que acaba sendo bem rápida. Para não dar nenhum spoiler, basta dizer que, infelizmente, aqui mais uma vez pesou a decisão de tentar unificar os universos dos heróis no cinema. Provavelmente, os mais ansiosos pelo filme dos Vingadores vão adorar o final, mas como eu já comentei na resenha de Thor, eu preferia que os filmes funcionassem bem sozinhos e não que já nascessem como parte de uma franquia.
Melhor do que Thor, mas inferior a Homem de Ferro, Capitão América – O Primeiro Vingador praticamente abre as portas para o filme da superequipe da Marvel deixando as expectativas dos fãs lá no alto. Agora resta esperar para ver se essas expectativas serão realmente alcançadas ou se esse filme vai botar tudo a perder. E fica a torcida para que, depois do lançamento de Vingadores nos cinemas, o Marvel Studios volte a fazer filmes solos interessantes, como foram Homem de Ferro e Hulk.

Captain America - The First Avenger (EUA, 2011)
Diretor: Joe Johnston
Duração: 124 min
Nota: 7,5

E o 2D começa a sofrer bullying


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Ressurreição da tecnologia 3D… quando falamos (Eu, o Felipe Storino e o Sherman) disso em nossas resenhas - devidamente rechaçadas - de Avatar, expomos lá nosso receio que o 3D virasse uma esperança de Hollywood recuperar quedas de rendimentos em bilheterias que cada vez mais assustavam poucos levaram alguma fé ou deram crédito. Quer saber de uma coisa? Deu certo. E muito!
Analisemos o histórico de bilheterias (sem inflação). Por muito tempo, tínhamos apenas um campeão de arrecadação que havia superado a barreira de US$ 1 bilhão de dólares, algo como um disco de platina para um filme: o amado e odiado Titanic, com seu US$ 1,8 bilhão de dólares em bilheteria, feito considerado quase insuperável em sua época. Isso em 1997. Em 2004, a conclusão da melhor e maior obra cinematográfica de todos os tempos, O Senhor dos Anéis, conseguiu ultrapassar a barreira de US$ 1 bilhão em 100 milhões de dólares.
E assim a coisa prosseguiu. Dois anos depois, o divertido Piratas do Caribe: O Baú da Morte conseguiu US$ 1,06 bilhão, e dois anos depois foi a vez do espetacular Cavaleiro das Trevas garantir US$ 1 bilhão. Quatro filmes bilionários em toda a história do cinema sem o 3D, num ritmo mais ou menos compassado. Veio Avatar em 2009 e ressurgiu definitivamente o 3D, depois da tecnologia ser abandonada e só servir de lembranças por causa de óculos toscos distribuídos nas salas.
Pois bem, em dois anos tivemos mais quatro filmes bilionários, o que me parece uma influência direta do aumento de preço que a tecnologia proporciona. Alice no País das Maravilhas (1,02 bi), Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (1,03 bi), Toy Story 3 (1,06 bi) e agora Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 conseguiram o feito. Com certeza essa é uma mensagem positiva pra Hollywood, com uma corrida de estúdios adquirindo equipamentos, fazendo conversões toscas e garantindo um aumento inflado de bilheteria, o que pode render uma bolha no futuro. Caso parecido ocorreu nos quadrinhos e a indústria ainda não se recuperou.
Bom, não vou reclamar. Minha pouca experiência com o 3D não foi satisfatória e não realmente faço questão alguma de ver o filme com essa tecnologia, que mais me parece perfumaria barata. Mas, se tem quem goste, acho ótimo, é bom que executivos param de chorar com relação a queda nas bilheterias.

Só acho que estão levando isso longe demais. Essa semana resolvi ver Capitão América nos cinemas e aproveitar meu tempo livre. Ao consultar a programação daqui, qual não foi minha surpresa ao ver que só tinha duas opções nada boas: a) ver o filme em 3D, e b) ver dublado. Posso estar forçando a barra um pouco antes da hora e fazendo alarmismo, mas essa atitude me parece uma forma de empurrar as pessoas para o 3D de forma nada sutil, que é bem caro, diga-se de passagem. Não satisfeito, fui olhar a programação de outro grande cinema aqui do estado (o último, as coisas não são fáceis nas subcapitais) e… toma de novo, nem 2D tinha. E pelas minhas conversas via Twitter, pessoas de outros lugares tiveram problemas parecidos!
Pelas minhas consultas no site do Kinoplex, em Juiz de Fora não existem cópias 2D, em Brasília alguns cinemas Kinoplex possuem, outros só cópias dubladas (nenhuma 2D legendada em Brasília), em Fortaleza somente um Kinoplex tinha 2D legendado, entre outras cidades que não olhei, mas o quadro comprovou que: a) o problema não é só aqui no Espírito Santo, e b) o 3D é a prioridade total (só estranho darem tanta ênfase nas cópias dubladas, já que esse é um filme 12 anos). Não sei se o problema está nos cinemas ou nas distribuidoras que não disponibilizaram cópias suficientes, mas me parece uma tendência ainda em seu início.
Alguns me dizem que é a ordem natural das coisas. O cinema já passou por inúmeros avanços tecnológicos, como as cores, o som, efeitos especiais, widescreen, e o 3D é somente mais uma delas. Me parece um bom argumento e um possível sinal de minha velhice, mas não consigo olhar com bons olhos uma tecnologia que se impõe ao ponto dos produtores criarem filmes e situações pensando em como amplificar os efeitos do 3D. Ademais, o 3D não é algo universal, existem pessoas que simplesmente não o suportam por motivos físicos, além de filmes que não se adequam bem a tecnologia - como os filmes escuros, o que gerou reclamações por causa do citado Harry Potter, completamente soturno. Fora que ela torna o cinema uma atividade ainda mais limitada, cara - equipamentos 3D custam mais caro, filmar em 3D dá mais trabalho, etc - e cada vez menos criativa, pois com orçamentos inchados se pode correr menos riscos.
Não sei qual será o futuro da adoção da tecnologia pelos estúdios americanos, mas me parece que uma coexistência entre o 2D e o 3D não existirá por muito tempo. No fim das contas, ainda tenho os piratas que nunca me abandonam e com certeza disponibilizarão uma cópia 2D fresquinha.

O Ritual


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Matando a saudade do Nerds Somos Nozes estou mais uma vez aqui para falar sobre mais um filme. Minha ausência infelizmente tem se dado em virtude dos estudos os quais tenho me dedicado intensamente, mas hoje resolvi retornar para também diminuir um pouco a abstinência que me consome, afinal de contas graças ao nosso amigo e editor chefe FiliPêra aprendi que escrever também é um vício extremamente prazeroso.
Sem jogar “conversa fora” vamos ao assunto principal: O Ritual. Em minha vida como cinéfilo jamais fiz distinção entre os filmes, nunca me importei com o gênero em si, mas sempre quis assistir a um bom filme. Apesar de não ter esse preconceito nunca gostei de filmes de terror sempre achei uma babaquice assistir um filme que me fizesse morrer de medo, tomar altos sustos ou ficar a noite inteira sem dormir, nunca me diverti com isso (até porque alguns também são nojentos). Então nunca busquei por títulos desse gênero.
Quando me deparei com o Ritual me simpatizei logo com o elenco: Anthony Hopkins, mas quando li a sinopse pensei logo que seria um filme ao estilo Exorcista. Recentemente, um amigo que assistiu veio conversar comigo sobre o filme e disse que havia gostado muito. Ele, assim como eu não curte filmes de terror, foi quando pensei: “Bem, se ele curtiu acho que vou assistir”.
O Ritual conta a história de Michael Kovak (Colin O’Donoghue) um jovem que perdeu a mãe muito cedo, desde então ele tem sido criado pelo seu pai (o Holandês Rutger Hauer). Todos em sua família só podem tomar dois rumos: trabalharem em uma funerária ou se tornarem padres. Vendo que não pode fugir desse destino, Michael toma uma decisão: deixar seu trabalho na funerária que tanto odeia e se tornar seminarista. A idéia inicial era de passar quatro anos estudando as custas da igreja e, quando finalmente chegasse a hora de se tornar padre ele simplesmente daria uma desculpa dizendo que “não era o que ele queria” ou qualquer coisa parecida, o que ele tão astutamente o faz.

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Só que as coisas não saem tão bem como planejado. Após surgir a hipótese de ter que pagar a sua estadia durante os quatro anos que giraria em torno de cem mil dólares a igreja, Michael acaba fazendo um trato com o padre “diretor” da escola (já que o mesmo acredita no “potencial” de seu estudante): Michael terá que ir a Roma e participar de um curso sobre exorcismo. Mesmo durante o curso Michael, cético sempre questiona seu professor alegando que aquilo não existe e que nada mais é do que fruto de uma perturbação mental. Para ele as pessoas naquele estado deveriam ser tratadas por médicos psiquiatras ou até mesmo serem controladas por remédios, mas não por padres.
Até que seu professor Padre Xavier (Ciarán Hinds) decide encaminhá-lo ao Padre Lucas Trevant (nada menos que Anthony Hopkins). Padre Lucas é um jesuíta de fé oscilante perito em exorcismo, mas que possui métodos um tanto quanto não ortodoxos. É daí em diante que a brincadeira começa.
Como eu havia dito esse não é um filme onde cabeças giram ou vômitos voam para todos os lados. A Direção do sueco Mikael Håfström (Quarto 1408) é construída a partir de diálogos inteligentes levando a pessoa que está assistindo e se perguntar até que ponto o que acontece é loucura ou espiritual. Não só isso, mas levando aos mais céticos questionarem se aquilo realmente existe.
A atuação de Anthony Hopkins é perfeita, com o seu olhar ao estilo “Hannilbal” e com um sarcasmo brilhante ele consegue impor medo em qualquer um que assistir. Já o quase estreante Colin O’Donoghue conseguiu fazer bem o seu papel sem grande brilhantismo, assim como Alice Braga que faz o papel de uma jornalista em busca da verdade trás dos rituais de exorcismo, como sempre ela não consegue mudar aquela cara de paisagem de TODOS os filmes em que atua.

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Bem, se você é uma pessoa que assim como eu não é muito fã de tomar sustos, mas mesmo assim está a fim de assistir ao filme aconselho chamar alguns amigos e assisti-lo de preferência durante o dia. Contudo se você é um daqueles que curte um bom filme de terror, bons sustos vale a pena conferir o filme, pois você não vai se arrepender.
Até a próxima!

The Rite (EUA, 2011)
Direção: Mikael Håfström
Duração: 114 minutos
Gênero: Terror
Nota: 8

The Man from Earth



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A julgar pela capa, The Man from Earth parece um típico sci-fi, mas não é. É um deliciosíssimo trabalho construído sobre uma ideia originalíssima, da qual subtraem-se diversas análises. É um filme para pensar, mas nem por isso difícil de entender. Este longa é dotado de uma ideia muito simples, da qual muitas pessoas também já devem tê-la imaginado, mas a construção dos diálogos e as conexões das ideias propostas nessa envolvente história são sua maior virtude.
The Man from Earth encaixa-se naquele modelo de filme que se passa num ambiente só, que acabam por exigir do diretor e roteirista muito mais agilidade do que o normal, já que a possibilidade do filme se tornar monótono são elevadíssimas. Nesses filmes, em geral, o espectador não tem muita coisa para se identificar, senão somente a ideia desenvolvida, que, obrigatoriamente, tem que se mostrar inovadora. Pois bem, uma vez que esse risco é habilmente driblado, já se tem meio caminho andado para agradar o público, basta sua narrativa manter um ritmo linear evolutivo no contexto do problema e história de seus personagens. E este longa consegue tudo isso. Esses filmes possuem essa peculiaridade de alternar com o público uma carga maior de adrenalina e tensão da trama, onde a possibilidade de envolvimento é bem maior. A exemplo, tem o recente Enterrado Vivo, e os mais antigos Jogos Mortais, O CuboPonto de Mutação, Janela Secreta e Festim Diabólico; muito ou pouco, a trama destes filmes fundamentam-se num local específico que geralmente serve apenas como pano de fundo para a história.
Em The Man from Earth a história é ousada: John Oldman é um professor universitário, e está de malas prontas para mudar-se da cidade e largar seu atual emprego. Para sua despedida, convida seus colegas professores para um encontro em sua residência. Naquela noite qualquer, tudo não passaria de apenas um dia fadado à sua singela confraternização se John não decidisse revelar um detalhe de sua vida para os demais: que possui 14.000 anos de idade. Uma vez feita essa revelação, o filme adota uma linha investigativa e desmembra-se com uma característica clara de entrevista.
Este tom de entrevista que o longa adota intercala duas necessidades básicas: responder às imediatas dúvidas dos demais colegas de John e as mesmas incertezas presentes nos espectadores. Com a justificativa de que queria se mostrar transparente com os demais colegas antes de sua viagem de despedida, esse é o motivo que impulsiona-o a revelar sua verdadeira identidade. John troca de cidade e amigos a cada dez anos, para que seus colegas não percebam a sua incapacidade de envelhecimento da pele.
Assim, as inúmeras explicações de Oldman (percebeu o trocadilho?) revelam como ele viveu na pré-história, como desenvolveu-se nos grupos primatas, como acompanhou a evolução da humanidade, sua relação com os maiores pensadores e filósofos, as invenções humanas e sua relação com familiares e a perda de todos aqueles que possuía admiração. Após estas repostas emergenciais, se observa uma tendência de impor a dúvida ao espectador sobre todas as afirmações feitas por ele, onde começa-se a perceber os pontos de maior genialidade da trama. Seguindo uma iniciação explicativa científica sobre os fatos, os diálogos se alteram e evoluem para um patamar religioso, que é obrigatório, diante da realidade revelada sobre John. Ele caracteriza, assim, sua relação com Buda, com as diversas religiões e o Cristianismo.
Outro ponto interessantíssimo do filme é a ambientação escolhida para o desenvolvimento narrativo de toda a história. Entre seus colegas professores, estão pessoas de nível profissional altíssimo, em diversas áreas: um arqueólogo, um biólogo, um psicólogo e uma religiosa devota ao Cristianismo. Essas pessoas representam um pouco da diversidade de estudos e pensamentos humanos que direcionam-se a tentar explicar e entender um ponto em comum: a história e origem humana. Nesse sentido, o trabalho do desconhecido diretor Richard Schenkman consegue não ser tendencioso, algo que poderia comprometer em muito seu trabalho. A apresentação de suas ideias de cunho científico e religioso tentam unicamente observar e apontar para uma análise investigativa sobre a história humana, apresentando através dos demais personagens, a total incapacidade de uma conclusão real sobre esta condição. As características apontam para uma total ignorância e arrogância do homem em querer garantir que sua história se passou realmente como está documentada.
A característica mais importante dessa história é construir e desconstruir suas afirmações, mostrando a capacidade que temos de pensar conforme o meio e a sociedade ao nosso redor, formulando nossas opiniões pautadas nessas análises já existentes e as defendendo como imutáveis. O que o filme consegue fazer nesse sentido é surpreendente. John transforma o pensamento de veteranos estudiosos, torna-os condicionados ao SEU pensamento, e tem a ousadia de destruir toda a história contada em apenas poucos minutos, fator que acaba revelando a fragilidade de pensamento dos seres humanos.


Será que é o Bruce Dickinson que tá atuando?


The Man from Earth não parece querer mais que isso. Propõe-nos uma história que, a primeira vista, parece absurda, mas convence-nos com a grandeza de sua audácia e belíssimo roteiro. Apesar do perigo de transformar tudo numa baboseira sem tamanho, convence verdadeiramente em suas intenções de mostrar-nos um ponto-de-vista diferente sobre a incerteza que os humanos possuem sobre suas origens. É profundo mesmo em seus pequenos 87 minutos de duração.
Este longa americano á uma excelente dica de filme independente, pautado na liberdade narrativa com um propósito incomum. Não tem uma produção foda (teve apenas duzentos mil dólares de investimento), nem atores de ponta, e foi disponibilizado para download gratuito na internet pelo seu próprio diretor. Uma pena que sua divulgação não tenha ocorrido na mesma proporção de seu merecimento, algo comum por aqui, e que nem possibilitou uma tradução de título no Brasil.

The Man from Earth (EUA, 2007)
Diretor: Richard Schenkman
Duração: 87 min
Definindo-o em uma palavra: Inovador
Nota: 10

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2


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Finalmente, depois de 10 anos, chega ao fim nos cinemas a história do bruxo Harry Potter. Com um primeiro filme bem infantil, a saga soube crescer com seu público não apenas nos livros, mas também nos cinemas, com filmes cada vez mais sombrios e violentos, preparando o terreno para o grande final. E, felizmente para os fãs, o final é realmente grandioso e traz o sentimento de que realmente todos esses anos valeram a pena.
O filme começa exatamente onde terminou o anterior, com Voldemort se apossando da Varinha das Varinhas e Harry e seus amigos se escondendo. Ajudando no clima de tristeza que impera nesse começo, nenhuma palavra é dita nos primeiros minutos, o único som é uma música melancólica, enquanto vemos os personagens com expressões de derrota. Não é preciso mais nada para o espectador entender que as coisas vão de mal a pior agora que o Lorde das Trevas está cada vez mais poderoso. Não resta dúvidas de que dividir a última parte da história em dois filmes foi a decisão mais acertada, cenas mais contemplativas como essa do começo seriam impossíveis com apenas um filme.
Com o clima mais sombrio de toda a saga, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 conta também com excelentes cenas de suspense, como a invasão dos jovens bruxos no banco onde Belatrix Lestrange guarda seus tesouros. Claro que os fãs mais devotados já sabem tudo o que vai acontecer, mas quem acompanha apenas pelo cinema vai ficar realmente tenso em determinadas partes.
Mas o que chama mesmo a atenção são as cenas da batalha em Hogwarts. Confesso que eu esperava uma batalha bem sem graça, com meia dúzia de bruxos de cada lado se enfrentando e Harry derrotando Voldemort ao fim. Porém, para minha grata surpresa, me deparei com uma batalha sensacional, envolvendo não apenas centenas de bruxos, mas outros tipos de criaturas, como gigantes e estátuas de pedra. E a pancadaria rolou solta, com vários personagens morrendo de ambos os lados. Essa batalha também serviu para que personagens que ficaram meio de lado em filmes anteriores tivessem mais destaque, como Neville Longbottom e a professora Minerva McGonagall. Aliás, Neville protagoniza algumas das melhores cenas do filme, como a explosão de uma ponte que dá acesso a Hogwarts.
A produção ainda tem espaço para cenas bastante emotivas, como a revelação dos verdadeiros planos de Severo Snape ou de que é preciso um sacrifício para derrotar aquele-que-não-deve-ser-mencionado. Outra cena que chama a atenção é quando Harry Potter se encontra com alguns fantasmas em uma floresta, algo que com certeza vai arrancar lágrimas dos mais sensíveis.

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O grande ponto fraco do filme fica por conta de como é mostrada a morte de alguns personagens importantes. Ou melhor, de como elas não são mostradas. A câmera se limita a mostrar rapidamente os corpos no chão ou amigos e parentes chorando as mortes. Mas logo em seguida já estamos seguindo Harry Potter em sua busca por respostas e até esquecemos daqueles personagens que morreram, já que são muitas as revelações do enredo nesse momento.
Até mesmo a morte de alguns vilões não pode ser devidamente aproveitada pelo público, uma vez que logo já pula para outra cena. Esse tipo de coisa já havia acontecido anteriormente, quando Sirius Black morre, e voltou a acontecer neste filme. Felizmente, a morte de um personagem importantíssimo da saga foi mostrada até com mais violência do que eu imaginava, o que faz o espectador realmente sentir aquela perda.
Infelizmente, mesmo com a divisão em dois filmes, algumas coisas ficam meio confusas de se entender, como o motivo do golpe de Voldemort não matar Harry Potter, por exemplo. Eu, que não li os livros, tive que dar uma olhada na internet pra entender o que havia acontecido. Em compensação, o embate final entre os dois ficou bem emocionante, alternando entre a cena da luta e a cena dos amigos de Harry tentando destruir a última das horcruxes, com o mais inesperado dos personagens salvando dia.

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Embora eu ainda ache que um final trágico para o protagonista tornaria a história realmente inesquecível, é impossível não sair do cinema com um sorriso por tudo ter acabado bem. Não apenas em termos de história, mas também por ser um filme que faz justiça aos melhores momentos do bruxo no cinema. Respeitando o final bem intimista do livro e deixando de lado as grandes festas em comemoração pela derrota do mal, que são comuns em filmes de fantasia, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2 encerra com maestria uma das mais importantes sagas dos últimos anos.

Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 (EUA, 2011)
Diretor: David Yates
Duração: 130 min
Nota: 9,5

Paul



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Paul é um filme com elementos que andam ausentes em diversas produções atuais. O primeiro é a habilidade em ser um filme fabulesco sem parecer em nenhum momento infantil (e é claro que um protagonista cético e desbocado facilita o trabalho). O Segundo é a elegância com que  o roteiro destila sua crítica/homenagem à cultura pop americana dos últimos 30 anos, mesmo sendo uma comédia rasgada.
Paul conta a história de um alienígena, que dá nome ao filme, em sua tentativa de regresso ao planeta natal após sofrer um acidente e ter ficado preso na Terra durante anos sob custódia das autoridades. Durante sua fuga ele conta com a ajuda dos recém-conhecidos nerds Graeme Willy(Simon Pegg) e Clive Gollings (Nick Frost) enquanto são perseguidos pelo implacável agente Zoil (Jason Bateman).
Já nos primeiro minutos do filme o roteiro dá o tom quando Gollings diz para Willy "Mesmo estando tão longe de casa, me sinto bem aqui" se referindo à feira Comicon realizada anualmente em San Diego nos Estados Unidos. Mas a frase é mais abrangente. Ela se refere ao domínio dos roteiristas em explorar a cultura pop americana mesmo sendo naturais da Inglaterra. E a maneira como as referências pipocam de forma orgânica na tela durante toda a projeção confirmam a metalinguagem sugerida.
Em seu filme anterior (o ÓTIMO "Hot Fuzz"), Pegg já havia apontado sua crítica aos valores e costumes ingleses. Desta vez quem não escapa são os americanos. O "redneck" truculento e boçal, o agente federal ambicioso, imigrantes, o nerd obtuso e o fanático religioso vão sendo utilizados como munição. Aliás, o tema religião é abordado abertamente no filme rendendo uma belíssima poesia visual quando somos apresentados a uma personagem cega de um olho que passa a enxergar com ambos os olhos após ter tido uma "revelação" científica. Brilhante.
A direção de arte de Richard Fojo confere um ar vintage e divertido ao filme desde a escolha das cores pastéis, utilizadas tanto na cenografia quanto no figurino, até o manejo de elementos visuais que nós mantém no clima de aventura sem malícia. Percebam como não há gadgets eletrônicos como celulares e computadores, salvo por parte dos antagonistas que também dirigem pick ups pretas modernas em oposição ao furgão colorido dos heróis. De maneira hábil Fojo mantém um "glow" dourado, mágico, que pontua diversas cenas e escolhe elementos como ternos, iluminação fluorescente e o frio concreto pra representar os vilões.

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No decorrer da projeção é preciso ficar atento às inúmeras referências e sátiras em cima de medalhões como "De volta para o futuro", "E.T", "Contatos imediatos de terceiro grau", "Indiana Jones" e "Star Wars" só para citar alguns. Quando os protagonistas param em um bar no meio da estrada, prestem atenção à música que está sendo tocada pela banda.
Repleto de reviravoltas e abusando dos clichês sem deixar de soar original, Paul resgata a ingenuidade dos filmes antigos sob uma ótica atual.

Paul (Reino Unido, 2011)
Diretor: Greg Mottola
Duração: 104 min
Nota: 9

Namorados Para Sempre


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Amor e ódio, início e fim. Entre os extremos se encaixam os por quês. Torna-se difícil aceitar a negação do direito de amar quando o sentimento ainda floresce. A história que dispõe-se a travestir-se de um excelente drama acaba por revelar um romance encantador. Sua preciosidade é presente devido à vasta quantidade de virtudes e grandes acertos na sua montagem, fatores não-corriqueiros que elevam-no à condição de filme para cinéfilo, passando longe de ser um programinha-pipoca-para-pombinhos-apaixonados.
[Início do parágrafo obrigatório explicativo] A situação é demasiado explícita, mas cabe explicar. Namorados Para Sempre é um grande "pega-ratão". Com um título mais doce que açúcar, um slogan mais pegajoso que chiclete e lançado no dia dos namorados, pequenas não devem ter sido as frustrações de muitos casais ao ver o filme. Porém, é um engano certeiro, se é que se pode afirmar. [Fim do parágrafo obrigatório explicativo]
Concentrado em abordar com honestidade a realidade da maioria dos romances, sua trama sustenta-se na transposição do início de uma relação até seu término. A narrativa não linear, que alterna entre passado e presente, engrandece e alterna os sentimentos de dor e paz. Seu passado, obviamente, consiste em apresentar a origem da relação, revelando-se cativante e envolvente na história de amor entre Dean (Ryan Gosllng), o mesmo que fez outro grandioso romance, Diário de Uma Paixão (The Notebook, 2003) e Cindy (Michelle Williams). Aliás, grande virtude se dá à sua narrativa ser apresentada de forma a misturar os momentos dessa história, criando um sentimento de dúvidas frequentes com respostas imediatas, além de uma posição comparativa entre os dois momentos.
A escolha e intenção do roteirista e diretor Derek Gianfrance é narrar a queda de um romance devido à seus atos. Ao fim, não se engana quem entende que, de fato, os fins podem justificar os meios. Nos minutos introdutórios, a feição alegre de Dean brincando com aquela que futuramente seria apresentada como sua fillha não-biológica e o desgosto demasiado inserido nos olhos de Cindy, revelam o resultado e os interesses finais dessa história. Cindy, contudo, só apresenta seu primeiro sorriso à Bobby (Mike Vogel), que seria um dos pontos de desentendimento da relação.
O longa sobressai-se aos demais filmes do gênero devido à uma característica simples: retratar um romance com uma carga de sentimentos coerente, pautada numa história com nexo e capaz de não revelar antecipadamente o seu desfecho. Muito bem construída, a história demonstra-se simples, retratando e fidelizando-se à realidade de um casal comum, com seus altos e baixos, tristezas, decepções e emoções,  mas compreendendo na importância de cada cena, a necessidade de transcender as telas e emocionar o espectador. Nesse sentido, Namorados Para Sempre busca retratar o dia-a-dia do casal com uma narrativa que alterna entre passado e presente. Nestes dois momentos, apresenta-se as razões pela qual o romance se desbota, confunde-se e se perde no tempo, incapaz de manter a paixão e o interesse do início do relacionamento. Dentre outros exemplos, cabe ao cotidiano a tarefa de revelar-se o maior problema do jovem casal.
Paixão, felicidade, planos, amor, destino, acomodação, incerteza, incompreensão, desmotivação, negação, passado e realidade. A relação constitui-se em sentimentos e emoções, e demarcam a linha evolutiva ou não da história que transpõe uma alternância excessiva de razões que justificam o seu destino.

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Para Dean e Cindy, cabe retratar a penalização de um sentimento de culpa. Sem maiores vilões, seus semelhantes anseios enfraquecem-se na força generalizada da desesperança que os consumiu. As forças cessam e nem mesmo o "quarto do futuro" emerge algum sentimento adormecido. É a constatação do dia-a-dia que os demonstra a nova realidade, e descobrem-se incapazes de atingir maior felicidade.
Por fim, sua qualificação romântica não coincide com uma oportunidade de acompanhar um filme "água com açúcar", do tipo que muito serve para amaciar o coração dos mais brutos. Compreende-se, no entanto, como sendo um longa pesado, com altíssimo nível de carga emocional, mas, ainda, com um interesse tão verdadeiro quanto cruel de narrar e quebrar o estereótipo de uma boa quantidade de longas que qualificam-se românticos.

Blue Valentine (EUA, 2010)
Diretor: Derek Cianfrance
Duração: 112 minutos
Definindo-o em uma palavra: Dramático
Nota: 9

2001 - Uma Odisséia No Espaço


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Por trás de todo gênio há um pouco de louco. A incompreensão inicial, contínua e a incapacidade de entender essa obra de forma definitiva é o caminho pra se entender melhor aquilo que a própria obra propõe. Aquilo que o traz aversão inicial e prolongada, misturando-se com o tempo, com a dúvida e a incerteza de seu próprio pensamento quanto às ideias alheias sobre este mesmo produto, é o mesmo caso que será julgado com desprezo e com brilhantismo. Se o homem, em sua história, não conhece a verdade ou a razão sobre aquilo que ele mesmo quer achar uma explicação sem saber se de fato exista, esta dúvida aparentemente eterna ou, quem sabe, erroneamente interpretada por quem se considera detentor de uma verdade absoluta e adquirida, esta será a maior obra da sétima arte capaz de resumir em infinitos tipos de análises aquilo que hoje representamos no universo e conhecemos sobre nós mesmos. Pouco.
Não se trata de uma tentativa de apresentar algo incompreensível, mas sim de retratar com frieza e exatidão o que ainda não compreendemos. A maior habilidade desta obra se dá na imensa capacidade de atingir tudo aquilo que inicialmente foi proposto. E isso não é pouca coisa. Essa ideia se fundamenta e ganha força quando se analisa o conteúdo principalmente filosófico e extremamente abrangente da proposta. É como se tentássemos abraçar o mundo, resumi-lo, traduzi-lo, explicá-lo e, principalmente, defini-lo por completo, a nós mesmos. Também não se trata de uma filosofia barata ou pensamento mascarado de procurar complexidade e profundidade inexistentes sobre uma abordagem rasa, de poucas análises e fundamentos. O que se procura, na verdade, é a sua dúvida e o seu conhecimento maior sobre si mesmo.
Se na nossa própria história, oriunda de milhares de anos, não nos mostra nem nos dá capacidade de um pensamento único sobre a explicação do todo, esta, dentre aquilo que a humanidade neste momento de sua história é capaz de produzir, será a melhor explanação sobre a aceitação da incapacidade atual de saber o que significa o mistério. Através das áreas do conhecimento por nós desenvolvidos e interpretados da natureza que nos mantém, obtivemos conclusões através de experimentos e hoje julgamos o nosso próprio universo e tudo aquilo que nele está contido em busca somente da única coisa que realmente nos parece interessar: cessar a angústia humana sobre sua razão de existir. Não, não penseis que ela já fora encontrada, demo-nos ao direito somente de imaginar que estamos a caminho, tão somente, sem inclusive tentar medir o tempo, julgando-nos perto ou distantes deste objetivo, já que nem sobre ele temos tanto conhecimento.
Esta obra única da história do cinema é assinada por um gênio, que em outra oportunidade já fora descrito aqui. Marcado por sua capacidade de sempre fazer adaptações para o cinema extremamente qualificadas de obras literárias, nessa obra aqui descrita, há um algo mais. Trata-se, novamente, de Stanley Kubrick. A obra: 2001 - Uma Odisséia no Espaço. Esta é a representação máxima de sua filmografia, de sua capacidade de expressão. Tanto que ela poderia ser encarada de forma paralela, sem a obrigatoriedade de comparações diretas a outros filmes, como outra obra qualquer da história do cinema. Isso porque o que este trabalho busca propor está justamente muito além de uma simples explanação, de uma apresentação de ideias tramadas num roteiro na tentativa de fazer cada expectador compreender a ideia do diretor, do roteirista, julgando tão somente o conteúdo da história que foi proposta. 2001 é mais.
Quer mais, muito mais. E para chegar a seu objetivo, liberta-se de qualquer pensamento pré-definido sobre representação das ideias através das imagens. Se a abrangência e o interesse são infinitamente amplos, o comportamento e a apresentação do conteúdo tem que acompanhar o compasso. E o longa se mostra imenso nas imagens e na profundidade, e é, sem sombra de dúvidas, um filme muito atual. Não se trata de um filme para cinéfilos, não se trata de puramente entretenimento, não se trata de diversão. Seria esta uma magnífica expressão sobre um ponto-de-vista particular de explanar e demonstrar estas ideias através de um veículo de comunicação a toda a parte interessada.
Não serão, portanto, discutidos e demonstrados interesses pontuais na elaboração da trama e do roteiro sobre a obra. Não cabe criticar personagens nem interpretação de atores. Não cabe tentar encontrar simples palavras e argumentos para resumir tão cruamente o que é de uma abrangência infinitamente maior. Vale, sim, parar e analisar o todo, tudo que nele se insere, na ilusão de achar uma resposta unânime. Assim, Kubrick inicia sua épica jornada mostrando ao expectador quem ele é, de onde ele provém. Atribui, assim, um choque inicial, muito bem interpretado. Nos primeiros trinta minutos seremos primatas, desprovidos de uma inteligência mais aguçada, mais convincente e cômoda sobre si.
Nisso, a proposta de voltar três milhões de anos no tempo, com a ausência – óbvia – da fala, não propõe nada, ao contrário, obriga o espectador a tirar conclusões, a entender-se, a encontrar respostas, aquilo que ele fará ao longo de todo o filme. Entraremos em contato com um misterioso monolito, instintivamente o estudaremos, assim como faremos posteriormente com o mesmo monolito, passados os três milhões de anos, dando a idéia de não-progressão, ou de uma progressão imaginária e ilusória. Somos ainda como primatas na vastidão da complexidade do universo.
Isso, claro, marcado por uma trilha sonora indescritível, mas que aqui, cruelmente, tentarei fazer. Diante do interesse maior deste longa, não se poderia, jamais, abdicar-se da oportunidade de utilizar-se o cérebro de cada espectador sem a consciência do próprio para fazê-lo entender a mensagem central de cada cena. A demonstração lenta dos acontecimentos e a narrativa sem pressa da história tenta-nos fazer acompanhar o ritmo, nos acalmar e preparar para o que está por vir. Serão as inconfundíveis e marcantes trilhas sonoras dos filmes de Kubrick que resumirão em áudio aquilo que se poderia falar. Porém, assim como tudo no longa, é melhor propor a interpretação do que entregar uma explicação pronta no conforto de entender facilmente uma ideia. Daí, até chegar à marcante cena do homem entrando em contato com seu primeiro instrumento de trabalho e manuseio, já se espera ter preparado o terreno para o que tem por vir.

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Passados estes minutos introdutórios, faz-se o maior corte da história do cinema: três milhões de anos. E parece que estamos em contato com uma nova espécie: o homem detentor de conhecimento. Sua inteligência está no foco do filme, e o fará ir à Lua e à Júpiter. Longe, como sua imaginação. Porém, outras propostas seguirão, dando início às abordagens mais contemporâneas, principalmente a relação do homem com a máquina, utilizando-se de uma inteligência artificial, representada pelo computador HALL-9000. Esta odisseia no espaço buscará mostrar que tudo pode ser maior, muito maior que nossa própria imaginação. Que o bloqueio intelectual fará o homem parar no tempo, inconsciente de sua própria capacidade e de seu próprio limite. Porém, uma vez que não se conhece a existência do todo, o limite não haverá, será somente encontrado quando tudo lhe for explicado, e até lá, pode-se decorrer um tempo inimaginável, incalculável, tanto quanto obstáculos ainda não esperados. Esta jornada audaciosa do homem poderá lhe custar um contato mental proporcional ao seu interesse, onde se propõe uma leitura sobre a possibilidade de uma existência de inteligência paralela à do homem.
Quando a obra termina, claro, muito se observa. Há quem não entenda nada, há quem diga que entendeu tudo, há quem discorde, concorde, questione, ame, odeie ou considere-o um excelente resumo do atual estágio da inteligência da vida humana. Resultarão, por fim, diversas interpretações sobre a obra que tenta interpretá-lo. Nessa instabilidade sobre uma conclusão e definição única da obra de Kubrick, todos poderão considerá-lo uma viagem, em qualquer sentido, mas que propõe e atinge com excelência seu interesse original: enaltecendo o pensamento, a interpretação, a imaginação. Aliás, quando da elaboração do livro escrito por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, tudo já se resumia no pensamento de seus autores, afirmando que “se algum dia alguém disser que entendeu o significado e a obra por completo, nós fracassamos”.

2001: A Space Odyssey (Reino Unido - EUA, 1968)
Diretor: Stanley Kubrick
Duração: 141 min
Definindo-o em uma palavra: Atemporal

Nota: 10

X-Men - Primeira Classe


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Thor, Lanterna Verde, Capitão América e X-Men – Primeira Classe. De todos esses filmes, que começaram a ser produzidos mais ou menos na mesma época, o quarto filme da equipe mutante da Marvel era o que menos me inspirava confiança. A Fox já havia feito uma bagunça com os personagens no terceiro longa e ainda teve a coragem de cometer Wolverine. Então, quando Primeira Classe foi anunciado, era impossível não achar que o filme seria apenas um caça-níquel tentando ganhar uns trocados na aba dos excelentes filmes do Marvel Studios. Felizmente, a Fox trouxe Bryan Singer para escrever o roteiro e colocar ordem na franquia. E o resultado é um dos melhores (se não for o melhor) filme dos X-Men.
O filme começa com o jovem Erik Lehnsherr – o futuro Magneto – no campo de concentração nazista, quando utiliza seus poderes em público pela primeira vez, ao tentar salvar sua mãe de ser levada pelos soldados alemães. Uma cena que já apareceu em um dos filmes anteriores, a diferença é que aqui nós vemos o que aconteceu depois, com o jovem mutante sendo torturado psicologicamente por Sebastian Shaw, que deseja utilizar os poderes do garoto. Na mesma época, em outra parte do mundo, o pequeno Charles Xavier conhece uma garota que consegue mudar de aparência e descobre que não é o único com poderes. Após essa introdução, o filme pula para os anos 1960, que é a época em que se passa a história.
Fazer uma história ambientada no passado de outros filmes já produzidos é complicado, existe sempre o risco de acabar mostrando algo que contradiz os filmes anteriores. Porém, fazer isso se mostrou a decisão mais acertada para dar um novo fôlego aos X-Men no cinema, com cenas de ação sensacionais e com uma história mais focada na equipe como um todo, não sendo um Wolverine e X-Men como foram os outros. Mas o verdadeiro trunfo de Primeira Classe é mostrar como começou a amizade de Charles Xavier e Magneto, sempre deixando claro para o público que eles não são inimigos que se odeiam, apenas dois amigos com ideais diferentes.
Aliás, em nenhum momento o roteiro, escrito por Bryan Singer junto com Ashley Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e Matthew Vaughn (que dirige o filme), apresenta Magneto como vilão e Xavier como um homem perfeito. Pelo contrário, o sempre bondoso Professor X, interpretado por James McAvoy, é mostrado aqui como um homem cheio de falhas e até alguns preconceitos. Apesar de pregar que os mutantes devem se aceitar e serem aceitos do jeito que são, reparem como ele sempre se sente incomodado quando a Mística aparece em sua forma natural.

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Do outro lado, temos Michael Fassbender interpretando brilhantemente um Erik Lehnsherr atormentado pelos anos que em que viveu no campo de concentração e buscando vingança pela morte da mãe. Mais do que um simples terrorista mutante, o que vemos é apenas uma pessoa traumatizada e com medo de passar por todo o terror nazista novamente. Impossível não torcer pelo personagem, mesmo sabendo que futuramente ele será o grande inimigo dos X-Men.
Melhor do que as interpretações de McAvoy e Fassbender individualmente, só mesmo quando os dois aparecem juntos. São eles que protagonizam algumas das melhores cenas do filme, como quando Xavier tenta ajudar Magneto a superar seus traumas para utilizar os poderes com mais eficiência. Após compartilhar uma memória da infância do amigo, Xavier se emociona e agradece por poder ver aquele momento. O último diálogo entre os dois no filme é de emocionar por mostrar toda a amizade e preocupação que um sente pelo outro, mesmo quando estão em lados opostos.
Claro que um filme de super-herói de verdade também precisa ter ação e não apenas boas atuações e diálogos interessantes. E, utilizando a Guerra Fria como pano de fundo, o que não falta em X-Men – Primeira Classe são cenas de ação. E todas com efeitos especiais muito bem feitos e de tirar o fôlego, sendo que Magneto rouba a cena mais uma vez nesse quesito. Em determinado momento ele destrói um navio utilizando a âncora e as correntes do próprio para fazer o serviço. Como as melhores cenas de ação estão perto do final do filme, não vou comentar sobre elas, mas com certeza fazem valer o ingresso do cinema.
Apesar desse novo filme ainda mostrar os mutantes tentando se encaixar no mundo, a existência deles não é conhecida por todos, o que faz com que ainda não estejam sendo caçados. Devido a isso, o tom desse novo filme não é tão sombrio quanto os primeiros. Pelo contrário, o ritmo é de aventura, bem ao estilo dos quadrinhos, com viagens e mudanças de cenários constantes. Até os uniformes negros da franquia X-Men deram lugar à roupa azul e amarela, que era utilizada pela equipe quando surgiu nas HQs. E mesmo com esse estilo mais aventureiro, o diretor Matthew Vaughn conseguiu alcançar um equilíbrio perfeito entre as cenas de ação e as de drama, nunca deixando o filme cansativo com exageros de um dos dois lados.

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Infelizmente, o filme possui algumas incongruências quando pensamos nos primeiros filmes. Fica no mínimo estranho, por exemplo, que o Professor X e a Mística sejam tão amigos em Primeira Classe e na trilogia original ela não demonstre se importar com ele. E, posso estar enganado, mas no primeiro filme Xavier diz que Magneto construiu o elmo que o protege de poderes telepáticos, algo que é mostrado de forma diferente nesse novo filme. Porém, nada que consiga estragar a diversão.
Como todo bom filme de super-heróis, X-Men - Primeira Classe possui vários easter eggs para os fãs de longa data dos mutantes. É divertido ficar tentando identificar quem são os personagens que aparecem rapidamente quando Xavier está fazendo uma busca com o computador Cérebro. E duas participações especiais vão fazer os fãs pirarem.
Com certeza vai ter muito fã da Marvel reclamando do fato de Alex Summers aparecer nessa primeira equipe, ou dizendo que a Rainha Branca foi pouco aproveitada na história (e foi mesmo), mas é preciso ter em mente que é impossível adaptar uma HQ sem fazer algumas modificações. E mesmo com essas pequenas mudanças, X-Men – Primeira Classe é um filmaço que faz jus aos grandes momentos da equipe nos quadrinhos. Com certeza já está na minha lista de filmes preferidos de super-heróis. Ponto para a Fox dessa vez.

X-Men – First Class (EUA, 2011)
Diretor: Matthew Vaughn
Duração: 132 min
Nota: 10

Três Homens Em Conflito


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Os elogios realmente fazem sentido. É altamente satisfatória a sensação de deparar-se com um trabalho que se percebe diferenciado, e faz jus à sua fama de clássico. É o sentimento pós-filme de estranheza, de mudança e de uma tímida e interna felicidade que nos permite julgar este longa com os adjetivos que, por um momento, nem parecem existir. Tamanho elogio não condiz com perfeição, porém há uma necessidade de elevá-lo à um patamar de diferenciação, junto à algumas obras que fizeram por merecer a recorrente lembrança por seus inúmeros motivos.
Sergio Leone foi um diretor italiano de poucos e grandiosos filmes. Não é exagerado, portanto, tamanho reconhecimento pelo cinema que deixou em seu período de atividade. Com maior relevância, destaca-se, além desta obra, Era Uma Vez no Oeste, Por uns Dólares a Mais e Meu Nome É Ninguém, como trabalhos notáveis do gênero western, ao qual era recorrente a sua atuação. Era Uma Vez na América foi o único trabalho grandioso não-western, centrando sua trama num contexto policial, de crimes e máfias.
Na obra em destaque, Três Homens em Conflito também marca um ator de gênero. Clint Eastwood lança-se nesta obra como um ícone, uma representação direta da imagem que transpiram os fora-da-lei, a qual sustenta até hoje (AKA Chuck Norris). Envolvendo estes grandiosos do cinema, há ainda a composição que Ennio Morricone realizou unicamente para este trabalho, assim como fez com outros longas de Leone e também em obras mais recentes, como Os Intocáveis e Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009).
Perfeitamente adequada, a trilha sonora composta por músicas como Ecstasy Of Gold, The Sundown, The Desert, Marcia, The Story Of a Soldier e The Ugly Main, transpõem o clima de disputa, de ódio e de vingança que os pistoleiros se inserem. Com todas as marcas do gêneros cultivadas, Três Homens em Conflito, torna-se desde então a obra clássica dos filmes da turma de pistoleiros. Filmado praticamente todo na Espanha (com somente algumas pequenas cenas na Itália), a fotografia é bem realizada e mostra o clima desértico, de calor insuportável, assim como a maquiagem, principalmente em cenas de queimadura facial.
Tratando-se da trama, que além do western central insiste consistentemente na comédia, destacam-se as grandiosas cenas sem diálogo. Leone investe em jogos de cena bem realizados para mostrar justamente as emoções mais afloridas dos personagens envolvidos em disputa e dominados por ódio e ganância. Com cortes rápidos e zoom olho-a-olho, é quase impossível não se envolver na batalha. A troca de olhares frios entre eles tenta transmitir a segurança que eles fingem possuir, e assemelham-se até com jogadas de pôquer. São estas as primeiras e últimas cenas utilizadas pelo diretor.

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O Bom, o Mau e o Feio a que o título se refere são uma analogia ao comportamento de cada um dos três personagens centrais da trama. Vivendo de modo muito arriscado para o sustento que conseguem, Loirinho, o bom (Clint Eastwood), Angel Eyes, o mau (Lee Van Cleef) e Tuco, o feio (Eli Wallach) descobrem a existência de uma cova num cemitério que contém 200 mil dólares perto de onde ocorre a guerra civil americana. Isto é o estopim para eles começarem a corrida do ouro. Entretanto, a interdependência que eles possuem causa uma situação controversa: o bom sabe onde fica a cova, e o feio, o cemitério. Num jogo de faz-de-conta, fingem-se ser confiáveis, amigos e capazes de dividir o tesouro, mas sabem que, no fundo, é cada um por si. As grandes interpretações cômicas de Tuco durante grande parte do filme com um humor espontâneo e não-gratuito garantem o sucesso de muitas cenas, a destacar-se as do deserto e da guerra.
Como um bom faroeste, há de haver um grandioso duelo final. Este desfecho resume com honestidade àquilo que se apresentou dos três pistoleiros. O Bom escreve o nome da cova numa pedra e eles iniciam a grandiosa cena final. Não é surpresa afirmar, contudo, que aquele que for melhor e matar os demais, ficará com o ouro. Ao fim, algumas situações são lembradas em decorrência das posturas antiéticas que tiveram durante as suas trajetórias. O longa fecha com chave de ouro (sem piadinha) a jornada que traduz em 160 minutos a busca incessante e cega por dinheiro de três homens que odeiam-se entre si, e querem que a recompensa venha também em ver o inimigo tombar ao chão.

Il buono, il brutto, il cattivo (Itália, Espanha e Alemanha Ocidental, 1966)
Diretor: Sergio Leone
Duração: 161 min
Definindo-o em uma palavra: Épico.
Nota: 10

[Capetalismo Addendum #3] Trabalho Interno


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O dinheiro foi para o paraíso (…)
O ciberespaço é nossa versão do paraíso!
Hakim Bey

Em 2008 percebemos como a versão 2.0 do Capitalismo americano é um estranho castelo de cartas, construído sobre um perigoso e lamacento pântano prestes a devorar tudo e todos. Aparentemente do nada, tudo começou a ruir, num efeito cascata ainda mais assustador do que o experimentado por Wall Street em 1929. Apesar de, naquela época, ouvirmos a palavra CRISE diariamente, creio que poucos entenderam como a coisa toda funcionou, e por quais motivos tudo desabou.
Os motivos pra essa onda devastadora de destruição, que mais uma serviu ao propósito moderno do Capitalismo - tirar o dinheiro das camadas mais baixas da população, e manda-lo pra elite - está escondido numa palavra aparentemente inocente: desregulamentação. A imagem que se tem geralmente é que o Estado é um freio ao crescimento empresarial, com taxas e impostos altos, comissões burocráticas que freiam o desenvolvimento do Capitalismo, entre outras tarefas inglórias. Esse tipo de afirmação, que pode ser vista em qualquer notícia de qualquer jornal econômico, dá a entender que as empresas sozinhas - o chamado Livre Mercado (já me disseram que o termo está incorreto usado nesse contexto, se você achar o mesmo, por favor, me corrija nos comentários, explicando o melhor uso da palavra) - podem avaliar riscos, proteger-se do canibalismo do mercado, e tomar as melhores decisões globais.
A saída para alcançar essa situação de liberdade seria a desregulamentação, ou o afrouxamento de regras estatais que encurralam o setor econômico. Na teoria, quase tão lindo quanto o Comunismo, mas na prática… bem, deu merda, e das piores! E é sobre isso que trata o excelente documentário Inside Job (algo como Trabalho Interno, uma expressão pra designar crimes cometidos pela Máfia).
Primeiramente deve-se entender o setor financeiro para se entender a crise. Nos EUA, existem três pilares modernos desse setor: os bancos de investimentos, que servem somente pra pegar o dinheiro de seus clientes e aplica-los no melhor negócio; as seguradoras, que criam uma base de segurança pra essas operações; e as agências de avaliação, que analisam os investimentos do mercado e as classificam em níveis de segurança. Até algumas décadas atrás, existiam regras que limitavam essas empresas a tamanhos bem definidos, impedindo que existissem gigantes do setor financeiro que, caso falissem, levassem a economia do país inteira com eles.
A certa altura do documentário, o megainvestidor George Soros constrói uma metáfora perfeita pra essa situação. O setor de serviços financeiros dos EUA pode ser visto como um petroleiro. Para impedir que o sacolejo do óleo presente dentro de seus gigantescos compartimentos o afunde, o petroleiro possui diversas estruturas para dividi-lo, e tornar esse balanço menor. A divisão dos depósitos do navio é que o impede de afundar.
Assim era o setor econômico, com empresas de médio porte, que caso falissem, seriam rapidamente absorvidas por outras e trariam consequências igualmente menores. A desregulamentação extrema que o setor experimentou há quase 30 anos destruiu essas barreiras, permitindo a existência de monolitos financeiros sustentados por uma base de areia movediça, prestes e desmoronar. E é aí que se encontra o principal motivo da crise, que iniciou assim que o governo soltou o cabresto de Wall Street.

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Ronald Reagan - o grande cowboy americano
Pode-se dizer que tudo começou no governo Reagan, em meados da década de 1980. Sem entrar em muitos detalhes, Ronald Reagan era um mero garoto-propaganda de grandes empresas e teve sua campanha massivamente apoiada por elas com um intuito bem claro: acabar com a regularização.
O que começou com essa infiltração política tomou outros contornos nos anos 1990, quando o Setor Financeiro se associou a nascente Indústria da Alta Tecnologia para criar “complexos produtos financeiros”, conhecidos como Derivativos. Em tal tarefa de tornar a economia um labirinto cada vez mais insondável e inexpugnável, os economistas foram ajudados pelo fim da Guerra Fria, que despejou no mercado uma grande quantidade de físicos e matemáticos do mais alto calibre, agora desempregados com o encolhimento da Indústria Militar. Agora eles criavam o que investidor Warren Buffet inteligentemente definiu como “Novas Armas de Destruição em Massa”.
Os derivativos, o principal vetor da vindoura destruição financeira, transformaram os investidores não mais em lobos com um olfato aguçado e instintivo em busca de investimentos sólidos, mas em apostadores de alto risco. Em oito anos, os derivativos já movimentavam US$ 15 trilhões em apostas que não tinham qualquer controle ou fiscalização.
Quando se tentou regula-los, em meados de 2008, a resposta foi devastadora e ameaçadora: um conjunto de 13 banqueiros se reuniu com o Secretário do Tesouro do Governo Clinton - Larry Summers - e simplesmente bateu o martelo. O resultado foi a criação de uma lei que impedia os derivativos de serem regulados.
Então, quando o novo Reagan assumiu - e atendia pelo nome de George W. Bush - o Mercado Financeiro estava altamente concentrado e cercado de aparatos legais, pronto para começar um predatório processo de pilhagem e destruir a si próprio.

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O problema atingiu especialmente o setor de habitação por motivos bem comuns: todos estão comprando casas, todos os anos, o que transforma o setor de imóveis e construção num dos mais movimentados de todos, com um poderoso volume de empréstimos efetuados por minuto. A desregulamentação trouxe uma mudança importante: se antes alguém que emprestasse dinheiro pra alguém comprar uma casa tinha todo o cuidado com isso, tanto pela demora em receber de volta, quanto pela possibilidade de calote, esse medo desapareceu.
Agora, as empresas que realizam os empréstimos, podem vender essas hipotecas para bancos de investimentos, que os combinam com outros milhões de empréstimos que compram - como compras de carro, dívidas de cartão, créditos educativos -, os chamados derivativos, e dão origem ao que é chamado de Obrigações de Dívidas Garantidas, os CDO.
Finalmente, os bancos de investimento vendem os CDOs para investidores no mundo inteiro. Então, quando alguém paga uma parcela da casa que acabou de comprar, esse dinheiro não vai pro credor que fez esse empréstimo, mas pra uma série de investidores no mundo inteiro.
Essa gigantesca cadeia não-regulada de compra e venda de dívidas é justamente o grande problema, dada as regras nada lisonjeiras presentes nela. Agências de avaliação carimbam notas altíssimas em cima desses CDOs, o que faz deles bastante populares. Os credores, por sua vez, não estavam mais preocupados com a solubilidade do empréstimo, já que os venderim mesmo, começando a fazer empréstimos do mais alto risco. Os bancos de investimento também não se importavam, já que quanto mais CDOs vendiam, maiores os seus lucros a curto prazo, enquanto as agências de avaliação não podiam ser responsabilizadas por uma nota mal feita, e ainda tinham o bônus de quanto mais altas notas distribuíssem, mais elas recebiam.
Mais e mais hipotecas do mais alto risco foram realizadas, já que quanto maior o volume, maior o lucro de todos nessa complexa cadeia. E, para piorar, o risco desses empréstimos era camuflado a partir do momento em que eles eram combinados com outros derivativos e formavam os CDOs. Os bancos até as preferiam, já que quanto maior o risco do empréstimo, maior a taxa de juros que podem cobrar. Essa aparente segurança, falta de responsabilidade e um belo crescimento dos lucros, levou a um aumento violento de empréstimos dos mais arriscados, com casos de clientes que pegavam emprestado até 99% do valor de um imóvel, o que seria considerado um suicídio em tempos passados. Caso o cliente não conseguisse pagar os empréstimos… ele simplesmente saía da casa e ia ser feliz em outro lugar.

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Henry Paulson e Ben Bernanke
Quem saca um pouco de economia já entendeu que essas facilidades extremas de compras de casa gerou um aumento bastante grande de seus preços, com cada vez mais bilhões de dólares fluindo nesse mercado pronto a explodir. E tudo isso por motivos espúrios, somente a gana por lucros cada vez maiores do setor de financiamento, que inclusive mudaram hábitos de compra e venda de casas pelos clientes; mesmo os que tinham dinheiro pra compra-la a vista, financiavam com prazos cada vez maiores e juros ainda maiores. Como resultado, os empréstimos de alto risco (chamados subprime) cresceram de US$ 30 bilhões por ano no fim da década de 90, para mais de de US$ 600 bilhões em 2007.
Em crises imobiliárias passadas (como na década de 80 quando o valor das casas aumentou 53%, em média), o preço das casas teve um aumento considerado abusivo, girando em torno de 60%. Já em 2007, o preço das casas praticamente quadruplicou, um aumento de cerca de 194% em menos de 10 anos.
Agora o pior, que creio que vocês já perceberam: esse dinheiro, contado como lucro e reinvestido como receita, não era real, era somente uma criação artificial prestes a desaparecer e levar meio mundo que investia nele para o ralo. Foi o que aconteceu quando o preço ficou tão grande, que os mutuários começaram um calote generalizado e o dinheiro das transações simplesmente sumiu.
Se instalava a crise, se espalhando a diversos setores, já que muitas outras empresas investiam seus lucros em especulação e no setor imobiliário. A aventura dos bancos de investimento foi tão grande, que eles chegaram a “investir” 33 vezes mais do que suas próprias receitas, a chamada taxa de alavancamento. Isso significa que se as empresas perderem 3% de suas receitas com calotes, elas se tornam insolúveis e precisam pedir falência.
Após as quebras generalizadas, começou outra ação praticamente criminosa: os bancos e empresas que efetivamente se enterraram no lamaçal das falências receberam cerca de US$ 3 trilhões de ajuda do governo. Naturalmente eles foram ajudados pela intensa infiltração que Wall Street realizou no governo e nas principais universidades de economia dos EUA.

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Eliot Spitzer - ex-governadorr de NY que renunciou após se envolver com uma rede de prostituição. Executivos de Wall Street envolvidos nas mesmas atividades (e denunciados do que ele), jamais foram incomodados

No centro do filme, personagens famosos como Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central americano (o FED), Henry Paulson, ex-Secretário do Tesouro dos EUA (ex-presidente do banco de investimentos Goldman Sachs e ex-executivo mais bem pago de Wall Street), e outros políticos e banqueiros importantes, que em vários momentos disparam depoimentos incríveis e aterradores. Ligando tudo, uma narrativa precisa (com voz de Matt Damon), embora com momentos essencialmente complicados para o espectador comum (nada que uma rápida pesquisa não ajude).
Enquanto a mídia procura continuamente inimigos para apontar, é impressionante como os verdadeiros vilões de uma crise que sugou anos de recursos globais. Ponto para Charles Ferguson pelo brilhantismo na construção do documentário, que ainda fez uso de depoimentos de gente como o megainvestidor George Soros, Christine Lagarde, ministra de Economia da França, Dominique Strauss-Kahn, membro do Partido Socialista francês que hoje é diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) - preso anteontem -, entre outros.
Veja, e já emende numa sessão com Capitalismo - Uma História de Amor.

Inside Job (EUA, 2010)
Diretor: Charles Ferguson
Duração: 120 min
Nota: 9

Thor


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A melhor decisão que a Marvel tomou com relação a seus personagens no cinema foi começar a produzir seus próprios filmes. Com isso, tivemos excelentes adaptações como Homem de Ferro e O Incrível Hulk, que além de ser fiel aos personagens, também começaram a construção do Universo Marvel no cinema. Mas enquanto os filmes do latinha e do gigante verde funcionavam perfeitamente sozinhos (com referencias a outros personagens aqui e ali), Thor parece muito mais um pré-Vingadores do que um filme solo do personagem. O roteiro se preocupa muito mais em preparar o terreno para o vindouro filme da superequipe do que desenvolver o personagem título.
A história começa em Asgard, mostrando o deus do trovão a ponto de se tornar rei no lugar de Odin. O problema é que ele é muito arrogante e acaba cometendo algumas besteiras, fazendo com que o pai de todos os deuses o mande para a Terra, onde Thor deve aprender a ser um rei melhor. A partir daí, a história se divide em duas partes, uma passada no nosso planeta e outra na morada dos deuses, onde vemos as maquinações de Loki, o deus da trapaça meio-irmão de Thor. As partes que se passam em Asgard são geralmente divertidas, seja pelos combates ou pelos belos cenários, apresentando um planeta realmente digno dos deuses.
Um dos grandes problemas do filme é que o protagonista está preso na Terra e as cenas passadas no nosso planeta são meio decepcionantes. Thor é um cara que veio de outra dimensão e tem costumes vikings, mas tirando a cena em que ele quebra uma caneca para mostrar que quer mais comida, o deus do trovão é extremamente civilizado. Sem contar que em pouquíssimo tempo ele já está muito bem adaptado à vida na Terra.
Um personagem em um lugar estranho poderia render boas cenas cômicas, mas elas se resumem basicamente a mostrar Thor sendo atropelado a toda hora, já que ele não está acostumado com carros. Como eu já mencionei, o filme se sai bem mesmo é como um prelúdio d’ Os Vingadores, mostrando vários easter eggs do universo Marvel e com a Shield tendo grande participação na história. Até o Gavião Arqueiro aparece em determinado momento.
Felizmente, as cenas de combate não decepcionam e parecem realmente saídas de uma história em quadrinhos. É realmente empolgante ver Thor girando o Mjolnir e derrotando vários gigantes de gelo de uma vez ou ainda arremessando o martelo e acertando os inimigos à distância. E a cena final, quando Thor vai salvar o mundo, é realmente épica. No lugar de algumas cenas bestas na Terra (Thor e Jane Foster conversando em frente a uma fogueira pra que?), teria sido muito mais interessante colocar mais algumas lutas.
Para os que já assistiram os outros filmes do Marvel Studios, Thor provavelmente vai ser bem divertido, principalmente se você lembrar que ele é um prelúdio para Os Vingadores. Os mais fanáticos pelo universo Marvel – como nosso amigo Voz do Além – vão se divertir procurando todas as referências. Infelizmente, toda essa integração entre os filmes deixa uma dúvida preocupante, será que daqui pra frente para entender o filme de um personagem teremos que assistir as adaptações de todos os outros? Eu sinceramente já estou com saudades dos filmes que funcionam sozinhos e Thor não é um deles.

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Um último parágrafo só pra falar do 3D, já que eu não tinha muito tempo disponível e fui obrigado a assistir nesse formato. O 3D convertido é simplesmente uma merda, principalmente quando o filme utiliza muitos cenários em computação gráfica, como é o caso de Thor. Quando os cenários são bem feitos, nós realmente “acreditamos” que eles existem, mas o 3D simplesmente acaba com essa magia em quase todas as cenas de Asgard. Ao invés de proporcionar profundidade de campo, ele simplesmente evidencia que os atores estão na frente de um fundo verde. Bem diferente de Avatar, por exemplo, que foi todo filmado em 3D e não apenas faz parecer que os cenários existem, mas faz com que o expectador se sinta dentro deles.

Thor (EUA, 2011)
Diretor: Kenneth Branagh
Duração: 114 min
Nota: 7,5

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