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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A nacionalidade sueca de Afrodite


Entender determinadas facetas do Santo de Ouro Afrodite de Peixes, um dos personagens mais complexos e cheios de referências na trama de ‘Saint Seiya’, sempre representou dificuldades. Entretanto, pouco a pouco essas dificuldades são superadas, e vamos conhecendo cada vez mais os significados por trás desse carismático guerreiro, o que também contribui para um entendimento mais geral da obra de Massami Kurumada.

Bem, sobre as regiões do globo terrestre relacionados com Afrodite de Peixes, é fácil saber o motivo de Kurumada lhe dar a Groenlândia como local de treinamento: é que o mar em torno dessa ilha é a mais importante região pesqueira do mundo. Agora, com relação à Suécia, sua terra natal, precisou-se de uma pesquisa muito mais profunda e paciente para se entender tal razão, e agora chegam ao fim todos esses anos de espera desde que ‘Saint Seiya – Os Cavaleiros do Zodíaco’ chegou ao Brasil. Para esclarecer essa questão, precisamos conhecer a tradicional arte da “linguagem das flores”.

A linguagem das flores, algumas vezes chamada de floriografia, foi um meio de comunicação da Era Vitoriana no qual flores e arranjos florais eram usados para enviar mensagens codificadas, permitindo que indivíduos expressassem sentimentos que de outra forma não poderiam ser ditos.

O rei Carlos XII trouxe a arte da Pérsia à Suécia (o primeiro país ocidental a adotá-la) no início do século XVIII (após um período de exílio do rei no Império Turco-Otomano), dali se espalhando o costume pela Europa, com a tradução do sueco primeiro para o inglês (quando a floriografia foi adotada pela nobreza da Inglaterra) e depois para outros idiomas. A floriografia mais explorada foi a das rosas, a roseografia.

As nuances da linguagem estão agora praticamente esquecidas, mas rosas vermelhas ainda significam amor romântico e apaixonado; rosas cor-de-rosa, amizade e carinho; rosas brancas ainda sugerem virtude e castidade, pureza e paz; rosas champanhe, admiração e reverência; rosas amarelas significam felicidade, amizade e devoção; e rosas negras são usadas para significar morte (pois o preto é a cor da morte), segundo antigos costumes, assim como ódio e despedida (porém, num entendimento positivo ela significa renascimento após a morte; também, é devoção escrava, já que uma autêntica rosa negra é impossível de ser criada – menos para o Santo Afrodite, diga-se de passagem). Embora estas possam não ser as traduções exatas dos sentimentos vitorianos, as rosas ainda nos falam muito (para saber mais, veja abaixo, em ‘Simbolismo’).

Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Linguagem_das_flores (adaptado, corrigido e ampliado)

http://en.wikipedia.org/wiki/Rose (em inglês)


Nos animes e mangás
Atualmente, nas histórias em quadrinhos e desenhos animados do Japão as rosas, quando associadas a personagens masculinos, trazem a estes uma significação de homossexualidade ou, pelo menos, de afeminação e/ou delicadeza, e isso tem origem nos próprios mangás – no princípio, nos ‘doujinshi’ (mangás não-oficiais, “fanzines”).

Em 1971, uma revista direcionada ao público homossexual no Japão chamada ‘Barazoku’ criou os eufemismos "Barazoku" (“tribo das rosas”) para descrever a comunidade gay e "Yurizoku" (“tribo dos lírios”) para a comunidade lésbica.

Muitos animes e mangás famosos no Brasil (exibidos e lançados por aqui ou não) trazem uma série de personagens masculinos associados a rosas (ou à cor-de-rosa, cor essa batizada com tal nome em diversos idiomas – línguas românicas, grega e polonesa – em homenagem à “rainha das flores”), que são abertamente homossexuais ou, pelo menos, afeminados e/ou delicados (os chamados ‘bishounen’, palavra japonesa que tanto quer dizer “rapazes bonitos” como “homossexuais masculinos”), tais como: o General Blue, de ‘Dragon Ball’; James (Kojiro, no original) da Equipe Rocket, de ‘Pokemon’; Tuxedo Mask, de ‘Sailor Moon’; Mash, de ‘Macross’; Kurama, de ‘Yu Yu Hakushou’; Leiga (Reiga), de ‘Shurato’; Vega (Fábio Lacerda), de ‘Street Fighter II – Victory’; Aburatsubo, de ‘Mahou Tsukai Tai’; entre outros. ‘Saint Seiya’, o anime mais famoso no Brasil, mostra o também mais famoso personagem ligado às rosas: Afrodite de Peixes (e sua encarnação anterior, Albafica) – sem falar em Shun, que usa uma armadura cor-de-rosa, de Misty, cuja roupa é da mesma cor, e de Sorrento, com o seu cabelo rosado, e em vários outros personagens ‘bishounen’ de ‘Saint Seiya’ (mas que não se relacionam com rosas ou a cor-de-rosa).

Os títulos especificamente ‘yaoi/shounen-ai’ (voltados para relacionamentos homoafetivos entre homens) quase sempre apresentam rapazes homossexuais associados a rosas, delicados ou não.

Ah, e antes que eu me esqueça, não estou afirmando aqui que Afrodite é homossexual (ainda que eu tenha a minha própria opinião a respeito). Como todas as discussões sobre a sexualidade do Santo de Peixes nunca chegam a conclusão alguma (graças, principalmente, ao preconceito de alguns fãs que são do signo zodiacal de Peixes), não quero também eu começar uma agora.


Albafica
Alba, espécie de rosas cujo nome literalmente significa "brancas", deriva de 'Rosa alvensis' e é associado de perto à 'Rosa alba'. Essas são algumas das rosas de jardim mais antigas, provavelmente levadas à Grã-Bretanha pelos romanos. Os arbustos desabrocham anualmente na primavera com flores brancas ou rosa pálido. Eles, os arbustos, freqüentemente se caracterizam por uma folhagem verde-cinzenta e crescem como uma trepadeira – e Albafica é mestre na criação de vastas trepadeiras de rosas brancas (além de vermelhas, claro). Entre os exemplos de albas, temos a 'Alba Semiplena' e a 'Rosa Branca de York'.

Páginas em inglês na Internet dizem que o significado do nome de Albafica é “grupo de flores brancas”, pois ‘alba’ quereria dizer, em grego, “branco”, enquanto a partícula “fica”, que também viria do grego (“ficus”), significaria “grupo de flores”. A informação é muito suspeita, primeiro por que tais palavras não vêm do grego, mas do latim, e a ligação da partícula “fica” com a forma “ficus” é exageradamente especulativa. Outras referências podem ainda ser bastante esclarecedoras.

No dicionário Aurélio da língua portuguesa, encontra-se uma palavra bem próxima do nome deste Santo de Peixes na grafia, bem como reveladora de características do personagem: ‘albafar’. ‘Albafar’ quer dizer “perfume, incenso” (lembrando que os poderes dos guerreiros da Casa de Peixes se baseiam principalmente no aroma mortal das rosas demoníacas), e é também o nome de certo peixe plagióstomo (=cartilaginoso, como o tubarão). Também é o nome de um peixe do tipo teleósteo, isto é, dotado de ossos.

Nos países de língua portuguesa, especialmente em Portugal e Cabo Verde, identificamos ainda a forma ‘albafora’, outro nome do mesmo peixe plagióstomo, e 'albacora' (variedade: ‘alvacora’), peixe do mesmo gênero que o atum ('Germo alalunga').

O tubarão-albafar (Hexanchus griseus) é uma espécie de tubarão da família Hexanchidae. Pode atingir 5 m de comprimento e 600 kg de peso. Está associado a habitats marinhos de recife, até 2300 m de profundidade, e ocorre em zonas subtropicais.


Rosas
Uma rosa é um arbusto florido do gênero 'Rosa', e a flor desse arbusto. Existem mais de uma centena de espécies de rosas selvagens, todas do hemisfério norte e a maioria de regiões temperadas.

O nome se origina do latim 'rosa', emprestado diretamente de um dialeto da Grécia colonial no sul da Itália: 'rhodon' (forma eólica: 'wrodon', do aramaico 'wurrdã', do assírio 'wurtinnu', do iraniano antigo '*warda' [cf. armênio 'vard', avéstico 'warda', sogdiano 'ward', parto 'wâr']). Arbustos de rosas, ou roseiras, são freqüentemente usados por proprietários de casas e paisagistas com o propósito de proteger a casa. Espinheiros pontiagudos de muitas espécies de rosas impedem pessoas não autorizadas de entrar em propriedades privadas. Deve vir dessa característica paisagística das roseiras que Kurumada imaginou usá-las para proteger o acesso principal ao templo de Atena no Santuário (onde se encontra o salão do Papa), bem como impedir a passagem do exército dos Titãs para o recinto sagrado dos guerreiros da deusa da paz.

A rosa sempre tem sido apreciada por sua beleza e tem uma longa história de simbolismo. Os gregos e romanos antigos identificaram a rosa com suas deusas do amor, respectivamente Afrodite e Vênus, além da Ísis dos egípcios. Em Roma, uma rosa selvagem era posta na porta do aposento em que assuntos secretos ou confidenciais eram discutidos. A expressão 'sub rosa', ou "sob a rosa", significa manter um segredo – derivado dessa antiga prática romana.

Os primeiros cristãos identificaram as cinco pétalas da rosa com as cinco chagas de Cristo. A despeito dessa interpretação, seus líderes hesitavam em adotar isso por causa de sua associação com os abusos romanos e o ritual pagão. A rosa vermelha era eventualmente adotada como um símbolo do sangue dos mártires cristãos. As rosas passaram a ser também associadas com Maria, a mãe de Jesus.

As rosas são tão importantes que a palavra significa "cor-de-rosa" ou "vermelho" em diversas línguas (tal como as românicas, a grega e a polonesa, como já visto acima).


Simbolismo
De acordo com o livro "A Linguagem das Flores", de Robert Bangert, certas cores da rosa trazem consigo determinados significados simbólicos (as grafadas em riscado se referem às usadas por Afrodite/Albafica em ‘Saint Seiya’):

- Vermelha: amor, "eu te amo"
- Cor-de-rosa: graça, sentimentos gentis de amor
- Róseo escuro: gratidão
- Róseo claro: admiração, simpatia, desejo, paixão, alegria de viver, juventude, energia
- Branca: inocência, pureza, discrição, amizade, reverência e humildade
- Amarela: quase sempre se liga a alegria e amizade profunda ou amor platônico. Em países de língua germânica, entretanto, elas podem significar ciúme e infidelidade
- Amarelas com extremidades vermelhas: amizade, "apaixonando-se"
- Laranja ou vermelho-coral: desejo, paixão
- Champanhe: admiração, reverência
- Borgonha: beleza
- Azul: mistério
- Verde: serenidade
- Negra: usada para significar morte (pois o preto é a cor da morte), segundo antigos costumes, assim como ódio e despedida. Num entendimento positivo ela significa renascimento após a morte. Também, devoção escrava (já que uma autêntica rosa negra é impossível de ser criada)
- Púrpura: proteção (amor paterno/materno)
- Violeta: amor à primeira vista
- Vermelhas e brancas juntas: união
- Vermelhas e amarelas juntas: alegria, felicidade e exaltação

A rosa tem também vários atributos literários e sobrenaturais, e mesmo a sua folhagem tem seu próprio significado: esperança.


E as rosas venenosas?
Sua origem é outro mistério ainda a ser desvendado...

Bem, na versão brasileira do mangá clássico e do anime, Afrodite diz a Shun (na Batalha das Doze Casas) que nos tempos antigos rosas envenenadas eram usadas para proteger o palácio real de invasores. Mas que tempos antigos são esses? Que palácio e de que lugar? Que invasores? Poderia ser o palácio do rei Carlos XII, que teve uma série de conflitos com Estados vizinhos à Suécia (vencendo todos, menos a Rússia, à qual se rendeu), mas ainda não encontrei nada sobre isso.

Infelizmente, em nenhuma outra passagem da trama essas perguntas são respondidas, se é que a versão brasileira foi corretamente traduzida do japonês (ou do idioma que por sua vez traduziu do japonês). Digo isso porque, bastando retirar da sentença o termo “envenenadas” e mudar alguns pequenos detalhes, a frase assume outro significado, e bem mais de acordo com o mostrado nesta pesquisa mais acima: “antigamente rosas (ou roseiras) eram usadas para proteger palácios (ou castelos de um modo geral) de invasores”. Lembremos que roseiras mesmo hoje em dia são usadas com o propósito de proteger determinados lugares.

Na hipótese de a versão brasileira estar equivocada, então usar rosas venenosas como a arma de Afrodite e proteção para o templo de Atena é uma idéia original de Kurumada ou tirada de algum outro lugar; se não, então ele se inspirou mesmo nas tais possíveis rosas desse tal palácio real que serviam para protegê-lo de tais invasores. Só o tempo e pesquisas mais apuradas dirão.


Golpes de Afrodite/Albafica
Por fim, tem-se aqui a relação dos golpes dos guerreiros do templo de Peixes baseados em rosas:

- Rosa Demoníaca (ou Diabólica) Real (Royal Demon Rose): a característica das roseiras como proteção dos espaços já foi manifestada acima, na parte “Rosas”; já a origem da sua toxicidade ainda não foi explicada (geralmente, os frutos das rosas, em especial os da roseira brava, são venenosos; mas nada se fala a respeito dos espinhos e do aroma); o termo “real” se refere a “realeza”, talvez lembrando o rei Carlos XII da Suécia.

- Rosa Piranha (Piranha Rose): os seus espinhos são tão duros e afiados quanto os dentes das piranhas, os mais terríveis peixes carnívoros, encontrados nos diversos rios brasileiros (como o Tocantins, São Francisco, Paraguai e os da bacia Amazônica); suas pétalas negras também são imperfuráveis, altamente resistentes.

- Rosa Sangrenta (Bloody Rose): tem sua origem no mito da morte de Adônis (deus fenício da vegetação); ao procurar pelo seu amado morto, Afrodite feriu seus pés numa roseira branca, tornando em vermelho as flores que absorveram o sangue da deusa.

- Espinho Carmesim (Crimson Thorn): esse ataque exclusivo de Albafica consiste no disparo de espinhos envenenados constituídos pelo seu próprio sangue, que é venenoso; não aparenta ter alguma origem fora do mangá, exceto que algumas sociedades usam, de forma similar, dardos envenenados como armas, tais como os ninjas no Japão e tribos aborígines do Brasil.

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