A imagem típica e tão
difundida do ator silencioso, com o rosto maquiado de branco em máscara
de expressão chorosa ou radiante, é o resultado de uma longa evolução
histórica, cujas raízes remontam ao teatro da Grécia clássica.
Pantomima - também conhecida por mímica
- é uma forma de expressão teatral que recorre de modo preferencial ou
exclusivo aos gestos e à expressão corporal. As concepções modernas de
pantomima levaram as correntes mais importantes da atualidade a
apresentar características ecléticas, com o uso de componentes
específicos dessa forma artística e a assimilação de elementos da dança e
do teatro convencional.Na Grécia, a pantomima era uma farsa derivada da comédia em que os atores, acompanhados de música e dança, parodiavam cenas da vida cotidiana ou baseadas em episódios mitológicos. As primeiras formas conhecidas datam do século V a.C. e foram encontradas nos fragmentos conservados dos escritos do comediógrafo Epicarmo. Outros escritores gregos, como Sófron de Siracusa, Herondas e Teócrito, e mesmo Sócrates e Platão, deram à pantomima qualidade literária comparável à de outros gêneros.
Na península itálica, a mímica nasceu das farsas populares encenadas nas ruas, das danças mais ou menos lascivas, das bufonarias e outros quadros mais realistas do teatro popular, num amálgama de elementos de que é impossível determinar precisamente as origens. Os romanos Décimo Labério e Publílio Siro, do século I a.C., foram os principais cultores da mímica, a que deram características próprias: a mordacidade e o tom licencioso dos temas; o caráter popular e grotesco dos personagens. A esses arquétipos autores clássicos como Plauto e Terêncio recorreram posteriormente em suas comédias.
Ao fim do século I a.C., os espetáculos de danças mímicas foram superados, no gosto e na preferência do público, por uma mímica mais teatral, que então surgiu com características bem definidas. Essa forma de teatro viveu um período de apogeu com atores como Pílades e Batilo de Alexandria, e tornou-se parte essencial das representações teatrais. Acompanhado de um coro, que recitava ou cantava um texto, e de músicos, o mímico, vestido com uma grande túnica e com o rosto coberto por uma máscara, interpretava peças trágicas ou cômicas com gestos e movimentos do corpo e das mãos.
A sobrevivência desse tipo de teatro popular na Itália, graças às companhias de atores itinerantes que apresentavam, nas praças das aldeias e cidades, cenas burlescas da vida cotidiana, desenvolveu de modo gradual a commedia dell'arte, gênero que faz uso de peças mais ou menos improvisadas, em que os atores interpretam situaçÍes típicas e personagens arquetípicos, como Arlequim, Pantaleão, Colombina, Polichinelo, o Doutor, Escaramuche e outros. A commedia dell'arte floresceu na Itália no século XVI e logo estendeu-se por toda a Europa.
Na França, as barreiras linguísticas que se impunham aos atores italianos privaram-nos da palavra e deram, por consequência, novas características aos personagens interpretados na commedia dell'arte: o Arlequim e o Pierrô conquistaram enorme popularidade na pantomima francesa clássica do século XIX, que teve entre seus mais célebres artistas Paul Legrand e os irmãos Jean-Baptiste Gaspard e Jean-Charles Deburau.
No início do século XX, Louis Rouffe, Séverin Caffera e Georges Wague deram novo impulso à pantomima clássica com suas criaçÍes de Pierrô, mas o gênero não tardou a se esgotar por força de suas limitaçÍes. Surgiu então uma nova concepção - derivada da redescoberta do movimento e do corpo - baseada na valorização da mímica como "arte de expressar sentimentos" com o corpo, e não como meio de representar palavras por meio de gestos.
A invenção do cinema, com a difusão de filmes silenciosos, bem como a renovação da dança e do teatro, graças às idéias de François Delsarte e de Jacques Copeau, respectivamente, determinaram o nascimento da pantomima moderna. Com a fundação do teatro Vieux-Colombier, em 1913, Copeau deu início ao movimento de inovação nas técnicas e conceitos da pantomima, que seriam reformulados por seus discípulos Étienne Decroux, Jean-Louis Barrault e, sobretudo, Marcel Marceau, criador do famoso personagem Bip e autor de célebres dramas pantomímicos, como Le Manteau (1951; O mantô). Marceau e Barrault deram curso às pesquisas iniciadas por Decroux, que conferiram ao mímico mais liberdade e poder de expressão, elementos essenciais em que se baseiam as montagens teatrais de encenadores como o polonês Jerzy Grotowski e de grupos experimentais como o americano Living Theatre.
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