quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

1.O papel da família na educação


O conceito de família nem sempre foi o mesmo, sofreu alterações de acordo com o evoluir dos tempos.

No Antigo Regime, não existia os termos criança ou adolescente, a criança não tinha infância, era considerada um "adulto jovem". A este propósito, Philippe Ariés (1988: 10-11) refere que:

"passava-se directamente de criança muito pequena a adulto jovem, sem passar pelas várias etapas da juventude de que eram talvez conhecidas antes da Idade Média e que se tornavam o aspecto essencial das sociedades evoluídas dos dias de hoje".
A educação da criança não era assegurada pela família. Cedo as crianças se envolviam com os adultos em actos sociais tradicionais, de ajuda aos pais, nos labores habitacionais no caso das meninas e nos meninos na conservação dos bens e negócios familiares. Era deste modo que adquiriam conhecimentos e valores essenciais à sua formação.
A família não demonstrava afectividade, embora o amor fosse um sentimento presente. A afectuosidade registava-se nas pessoas próximas às crianças tais como as amas, os serventes, os vizinhos, etc. (Ibidem.).
Na época do Estado Novo, à esposa era-lhe incumbida a responsabilidade pela educação dos filhos, auferindo dependência económica quase total do marido. Aliás " o pai surge como o único angariador de sustento familiar (…) se ele desaparece, não há dinheiro para comprar o necessário" (1989: 359-360). Com as alterações sociais pós 25 de Abril, a família sofreu grandes transformações, que já tinham sido encetadas noutros países já democratizados. Diminuiu o número de filhos por casal, o casamento tornou-se mais instável com um número crescente de divórcios, aumentando as famílias monoparentais e reconstruídas, as mulheres passaram a ter uma actividade profissional, estudarem até mais tarde, auferindo de independência económica e relegando muitas vezes a maternidade para segundo plano.
Hoje, em família abordam-se temas que eram impensáveis no passado. Os pais já não são os senhores absolutos da lei e da ordem, nem os únicos cuidadores dos bens da família. Por seu turno, as mães não são unicamente as protectoras do lar e zeladoras da educação e formação dos filhos.

O Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (1996:95) reforça que:
"a família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afectivo e o cognitivo, assim como a transmissão dos valores e normas".
Todavia, devido às exigências actuais, os pais cedo colocam os filhos em amas, creches ou infantários. Chegam a casa exaustos de um dia de trabalho, têm ainda as lides domésticas ou trazem trabalho para casa. A criança é colocada sozinha a ver televisão ou a brincar sem um adulto que lhe dê atenção. A relação familiar centra-se prioritariamente nas necessidades físicas da criança, ou seja, na alimentação, na higiene, no descanso, …
Desde criança que as novas tecnologias imediatamente as seduzem e permitem a aquisição de novos saberes. O seu conhecimento vai progredindo através das informações que recebe do meio onde se insere, do meio familiar, do grupo de pares, da escola, dos meios audiovisuais, …
Enquanto jovens, o lazer e o convívio com os colegas tem uma importância primordial no seu processo de socialização e formação. Machado Pais (1993) refere que as culturas juvenis são fortemente viradas para o lazer, de certa forma em oposição ao saber tradicional da escola e da família, que privilegia a ordem e a certeza, o ensino e a transmissão de conhecimentos e experiências entre pares.
Embora haja uma certa continuidade na transmissão de valores de pais para filhos, a verdade é que os jovens de hoje adquirem a sua identidade não só dentro, mas também fora da família, através de discursos variados que a escola e a família poderão ou não integrar. Todavia, a família não se pode demitir do seu papel e atribuir responsabilidades aos outros agentes educativos na formação dos seus descendentes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.