sexta-feira, 26 de julho de 2013

CÁLICE - CHICO BUARQUE

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (Cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça (Cale-se!)

ANÁLISE: A princípio pode-se perceber três apelos. Ele pede pra que afaste dele o cálice, que pode ser de calar a boca, "cálice" da taça de vinho e "cálice" da igreja, onde contém o vinho, que simboliza o sangue. Lembrando que naquela época as pessoas não tinham o direito de "livre expressão", não tinham o direito de satirizar, mesmo estando na razão, nem de expor o que sentia. Na música aparentemente repetitiva e que por isso torna-se bastante repetitiva, foi uma grande ousadia, do grande gênio Chico Buarque. O que pode ter revolucionado e também por assim dizer revoltado, a sociedade daquela época, considerando assim, um grande avanço através da música para o despertar do raciocínio lógico e auto-crítico daquele meio social.

"essas três perspectivas semânticas são conjugadas construindo um sentido de subversão da ordem vigente à época - a ditadura. o pai, passa a ser o governo autoritário; o cálice é a situação opressiva q adveio desta ordem; e o sangue remete ao drama q algumas pessoas sofreram por s oporem ao governo. considerando o contexto da época qnd os militares alegaram estar protegendo a nação, como um pai (daí a intertextualidade co a passagem bíblica, no q toca ao seu legado patriarcal e trágico), contra os males do "comunismo", a canção-poesia-manifesto é uma resposta negando a "ajuda", configurado mesmo como o fatídico cálice de sangue e exigindo a saída, o afastamento do governo militar. assim o sacrifício quase "heroico" e mítico da população pretendido pelo governo não foi assumido pela parcela intelectual e revolucionária do brasil, expressado então brilhantemente por chico. este sim um heroi brasileiro, ñ "um gladiador silva do brasilzilzilzilzilzilzilzilzilzilzilzilzilzilzil, penta campeão" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.