Parangolé, Hélio Oiticica
O tropicalismo foi um movimento musical surgido no Brasil, no final da década de 1960, que atingiu outras esferas culturais (artes plásticas, cinema, poesia): o marco inicial foi o III Festival de Música Popular Brasileira (MPB) realizado pela Rede Record de Televisão em 1967. Sofreu grande influência da cultura “pop” – brasileira e internacional – e de correntes da vanguarda artística (como o concretismo que se instalou na poesia e nas artes plásticas e visuais).
Também conhecido como movimento da “Tropicália”, o tropicalismo revelou-se transgressoramente inovador ao mesclar aspectos tradicionais da cultura nacional com inovações estéticas ostensivamente importadas, como a “pop art”. Também inovou ao possibilitar um sincretismo entre vários estilos musicais originalmente heterogêneos como o rock, a bossa-nova, o baião, o samba e o bolero. As letras das músicas possuíam um tom poético, elaborando críticas sociais e abordando temas do cotidiano de uma forma inovadora.
Sem título, Carlos Vergara
O movimento tropicalista não estabeleceu, como seu objetivo principal, utilizar a música como arma de combate político à ditadura militar que vigorava no país e, por este motivo, foi muito criticado por aqueles que defendiam as chamadas “músicas de protesto”., Antes de qualquer coisa, os tropicalistas acreditavam que a inovação estética musical já era uma forma por si só revolucionária. Outra crítica que os tropicalistas frequentemente receberam diz respeito ao uso de guitarras elétricas em suas músicas. Muitos músicos tradicionais e nacionalistas acreditavam que esta era uma forte influência da cultura “pop-rock” americana, o que fatalmente prejudicaria a música brasileira, denotando uma influência nefasta e uma invasão cultural estrangeira.
Os principais representantes do tropicalismo foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia (todos baianos), Os Mutantes, Torquato Neto, Tom Zé, Jorge Mautner, Jorge Ben e Rogério Duprat. Dentre os lançamentos em vinil, os discos tropicalistas que mais sucesso fizeram na época foram “Louvação” (de Gilberto Gil, em 1967), além de “Tropicália ou Panis et Circenses” (diversos artistas), “Os Mutantes”, “Caetano Veloso” e “A Banda Tropicalista do Duprat” (com arranjos e regência do maestro Rogério Duprat), todos lançados em 1968. Entre as músicas tropicalistas mais tocadas nas paradas de sucesso do momento constam: “Tropicália”, “Alegria, alegria” (composições de Caetano Veloso que apareceram em 1968), “Panis et Circenses”, também dele em parceria com Gilberto Gil (1968) e ainda, em 1969, “Atrás do trio elétrico” (de Caetano Veloso), “Cadê Teresa?” (de Jorge Ben) e “Aquele abraço” (de Gilberto Gil).
Aloysio Zaluar, O Clóvis vem aí, foto,
Pin. do Est. de SP
Logo após a sua explosão inicial, o tropicalismo transformou-se num termo corrente da indústria cultural e da mídia. E, a despeito das polêmicas geradas inicialmente, acabou consagrado como ponto de clivagem ou ruptura, em diversos níveis: comportamental, político-ideológico, estético. Ora apresentado como a face brasileira da contracultura, ora como o ponto de convergência das vanguardas artísticas mais radicais (como a antropofagia modernista dos anos 1920 e a poesia concreta dos anos 1950, passando pelos procedimentos musicais da bossa nova”), o tropicalismo e seus maiores nomes passaram a ser amados ou odiados com a mesma intensidade.
A intervenção histórica operada, sobretudo pelo Tropicalismo musical,foi tão contundente que mesmo aqueles que, na época, não se identificaram com seus pressupostos, não lhe negaram a radicalidade e a abertura para uma nova expressão estético-comportamental.
Geralmente, seus eventos fundadores são localizados em 1967, no já mencionado festival da Record, com as inovadoras propostas de Caetano e Gil, embora o tropicalismo, como movimento assim nomeado, tenha surgido no começo de 1968. As manifestações tropicalistas em outros campos artísticos também datam dessa época. No teatro, com as experiências seminais do Grupo Oficina – as montagens de “O rei da vela”, de Oswald de Andrade, e de “Roda Viva”, de Chico Buarque.No cinema, acompanhando a radicalização das teses do Cinema Novo em torno do lançamento do filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Convém citar, ainda, as experiências das artes plásticas, sobretudo as elaboradas por Hélio Oiticica – talvez a área menos reconhecida pelo grande público, apesar de ter sido ali que a palavra “Tropicália” ganhou significado concreto.
A Bela Lindoneia, Rubens Gerchman
A importância do tropicalismo residiu, acima de tudo, em seu mérito artisticamente inovador, que serviu para modernizar a música popular brasileira incorporando e desenvolvendo novos padrões estéticos. Nesse sentido, foi também um movimento cultural revolucionário que, embora muito criticado no período do seu surgimento, influenciou diretamente e inspirou poeticamente todas as gerações musicais brasileiras nas décadas seguintes
"...Da música, o Tropicalismo propagou-se a outras áreas do fazer artístico, atingindo inclusive as artes viauais, sendo detectável a sua influência em algumas manifestações amibentais de Hélio Oiticica, na cenografia de Hélio Eichbauer (Rei da Vela, 1967) e em pinturas artísticas como Rubens Gerchman e Carlos Vergara, pesquisadores do folclore urbano. O Tropicalismo pictórico caracterizou-se pela utilização de cores 'psicodélicas' , com predomínio do verde e do amarelo, e pelo emprego de elementos formais identificáveis com a realidade cultural brasileira, no que possui de mais óbvio - da banana ao Pão-de-Açúcar, da escola de samba ao papagaio. Estes temas brasileiros articulam-se, porém, segundo uma sintaxe internacional, na qual repercute fortemente a presença da PoP Art norte-americana. Em determinados momentos, o Tropicalismo pictórico aproxima-se epidermicamente de movimentos remontando à década de 1920, como o Antropofagismo e o Pau Brasil de Tarsila e de Oswald de Andrade. (José Roberto Teixeira Leite, in Dicionário Crítico da Pintura no Brasil, pág. 513, 1989, Artlivre, Rio de Janeiro."
Fontes
Revista Brasileira de História (Print version ISSN 0102-0188): Rev. bras. Hist. vol. 18, n. 35. São Paulo: 1998. Tropicalismo: as relíquias do Brasil em debate, de Marcos Napolitano(UFPr) e Mariana Martins Villaça (História Social-USP) – texto disponível em www.brasilescola.com.
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