segunda-feira, 21 de maio de 2012

Lady Gaga nos anos 80, de Whitney a Bruce Springsteen em “Born This Way”

Lady GaGa - Born This Way
Depois de falar sobre a cultura da fama a qualquer custo e do desejo de ser vista e reconhecida simplesmente por se divertir, Lady Gaga volta se sentindo mais responsável por fazer diferença no mundo, com outra vontade em seu segundo cd “Born This Way“, lançado essa semana no mundo todo. Ela quer passar a mensagem positiva que o título do disco sugere, de aceitação e confiança, mas acabou sendo um pouco vítima da própria vontade e nós saberemos porque.
Ao contrário do “The Fame” que foi escrito todo em estúdio, a cantora-moto na capa serviria para uma excelente metáfora sobre como “Born This Way” foi montado: na estrada. Escrito principalmente em seu tourbus e após shows, Gaga disse durante meses que estava escrevendo um álbum para entrar pra história, o hino de uma geração, provavelmente embriagada na adrenalina do pós-show, porque dá para ver que “épico” para ela significa grandeza, dominação, energia e excesso, fatores aqui estampados em francês, inglês, espanhol, alemão, em unicórnios, na igreja, no carro, seduzindo homens, mulheres, presidentes com rock, glam-rock, pop, synth-pop, techno, trance, disco, eurodance, Catolicismo, política, profanidades, orgulho gay e UFA cansei!
“Born This Way” está longe de ser o hino de uma geração, até porque eu acho que isso é quase impossível de fazer hoje em dia e explicarei porque. Os excessos aqui produzem bons e maus resultados, e são eles que vamos ver abaixo:

Como já disse na introdução, a premissa mais importante no disco é “que você tem que se aceitar como é”, e sabendo que ela estudou 13 anos em escola católica, fica mais fácil entender o porque de tantas referências religiosas com heaven, hell, paradise, chapel, Jesus, Judas, prayer sendo tags constantes na construção das faixas. Para a maioria das pessoas é vontade de chamar atenção através da polêmica, com certeza tem muitas pitadas disso mesmo, porém temas sacros fizeram parte de sua vida e é assim que ela é, e agora que é uma popstar sabe muito bem utilizá-los para vender sua música.
A igreja já começa nos primeiros 3 segundos do cd na faixa escrita por ela e seu colaborador de longa data Fernando Garibay. “Marry The Night” à primeira vista parece tranquila com um órgão de igreja enquanto ela canta “I’m gonna marry the night/I won’t give up on my life“, mas na velocidade da luz a música vira e se torna agressiva, 2 minutos de cd e já temos hi-NRG club-pop estourando a caixa com drums massivos, riffs longos de guitarra, synths e mais synths, agudos esticados e atitude de Bonnie Tayler ou Pat Benatar. A música fala sobre uma noite na cidade de liberdade e curtição com os amigos. A guitarra na faixa tem uma peculiaridade muito presente em outras do disco, ao invés de ser intríseca e complexa é simplesmente barulhenta, uma ode ao hair metal, que é bem mais sobre atitude rock’n'roll do que técnica rock’n'roll. Uma das partes mais interessante é o solo no final, assim como em muitas músicas os solos são as melhores partes. Não tem agradado a muitas pessoas mas é uma das minhas favoritas pela mensagem simples: “Vamo se acabar na noite”, bons tempos de “The Fame”…
Dizem as lendas que a música seria o primeiro single. Apesar de ser uma das minhas favoritas achei melhor “Born This Way” ter sido o lead single, mesmo que não tenha suprido as expectativas de ser o hino de uma geração, a nova “Thriller”, e qualquer outro adjetivo grandioso que ela usou para descrevê-la, a produção de Fernando Garibay tem todos os elementos que ela quis usar no disco (influência de anos 80, tempero de rock, mensagem positiva), mas preserva a estrutura clássica pop para garantir bons números nas tabelas e nos bolsos da gravadora, essencial para emplacar hoje em dia.
Born This Way ao vivo no Graham Norton Show
Muito tem-se dito sobre ser uma cópia carbono de Madonna (e acredite, a outra italiana vai aparecer mais vezes) especificamente de “Express Yourself”, mas eu fiquei pensando: a idéia era produzir um single inspirado no melhor dance-pop que década de 80/começo de 90 ofereceu, ou seja, facilmente iria beirar no trabalho de Madonna não é? Todos os méritos garantidos a Kylie, Debbie Harry, Cindy Lauper e qualquer outra cantora pop dos anos 80, mas convenhamos que no geral Madonna é a referência em música pop nos anos 80 e 90, fazer algo sem se parecer com nada que ela já tenha feito é um missão quase impossível.
Depois do caos das duas primeiras músicas, um dos pontos mais altos do disco, a nada religiosa “Government Hooker“. Entre muitos erros um GRANDE acerto. Não se engane pelo começo caricato com Gagaaaaaa-gauuuuooohhh que em um primeiro momento vai lhe fazer pensar QUE PORRA É ESSA? Synths mecanizados meticulosos sobre camadas certas de guitarra, um baixo de arrepiar martelando em uma atmosfera dark e techno-pop deliciosa se sobressaem sobre a mania dela de meter um gaga-alguma-coisa toda hora. DJ Shadow deu um banho de produção em RedOne aqui.
Sobre o que a música fala ninguém sabe direito. De acordo com Gaga ela se inspirou em Marylin Monroe + uma meretriz política. Sei lá, faça a analogia que quiser, mas sabendo que uma das frases é “I’ll be your hooker/Government hooker“, outra é “I’ll do anything as long as you fuck me and pay me” e em mais uma ela dá a dica “Put your hands on me/ John F Kennedy” eu vou supor que seja um romance tórrido do ex-presidente americano com a atriz americana ou alguma metáfora para alguém que é pau mandado do governo, ainda não me decidi sobre o personagem que imaginarei quando estiver me acabando ao som da faixa.
Depois da sutileza vem o escarcéu em “Judas“, que se ela quisesse se manter na temática religiosa poderia muito bem se chamar “Apocalypse”, o caos impera. RedOne nem se preocupou com evoluir a faixa aos poucos. Uns “o o o o o o o” no começo e já pula pro pancadão que não termina até o fim. É dançante a faixa, acho até melhor que o primeiro single, mas é bem desconexa, é a epítome do excesso de energia da cantora, tudo junto e misturado ao mesmo tempo. Também acho que teve um pouco de vontade de recriar a magia de “Bad Romance” da onomatopéia que gruda na cabeça com um refrão viciante, porém não creio que deu certo. Mais uma vez a garota católica usa metáforas religiosas ao se colocar no lugar de Maria Madalena na dúvida entre Jesus e Judas. Uma pitada de Gaga falando de seu universo e uma pitada de tema-polêmico-que-rende-assunto, mas não vou entrar no mérito de discutir esse aspecto. A letra é bem bobinha com umas frases como “But in the cultural sense/I just speak in future tense” e a dança no vídeo então nem se fala. Eu não teria escolhido como single…
Judas ao vivo no Graham Norton Show
Americano” deixa um pouco de lado o highway-rock-american-dream para conversar com os chicanos com a ajuda de Fernando Garibay mais uma vez, mas aqui misturando o que poderia ser disco-Flamenco com Mariachis. Eu vi pessoas dizendo que seria mais uma vez uma pitada de Madonna, entretanto acho que não parece nem um pouco, está quilômetros de distância da sutileza latina de “La Isla Bonita” ou outras faixas em espanhol de Madge. Mesmo assim fiquei com uma pulga atrás da orelha porque sabia que esse Latin-Disco cafona-divertido não me era estranho e matei a charada. A faixa é bem 70′s disco, e quem arrasava na buati na década de 70? ABBA! Na parte de “Don’t you try to catch me, Don’t you try to catch me” da canção só consigo pensar em “Does You Mother Know” + “Voulez-Vous” + esteróides do quarteto sueco.
Apesar da aparência caricata no espanhol galhofa de Gaga, olhando a letra mais de perto (debaixo de 40 camadas de instrumentos) tem uma mensagem bem séria que toca em assuntos delicados como leis de imigração e casamento gay. No twitter disse que “Americano” é o que o sonho americano significa para ela e deu dicas de que poderia ser sobre um romance lésbico ao finalizar com a hashtag #LipstickRevolution. Bem…isso não é explícito, eu estou supondo, rs.
Hair” começa com o saxofone de Clarence Clemons, um pouco desconfortável para nós em pleno 2011, mas ele não veio por acaso. Clemons é o saxofonista da E Street Band, que por sinal é do Bruce Springsteen, e o que Gaga quer aqui é alcançar o que Springsteen fez muitas vezes como por exemplo em “Born In The USA“: hinos de libertação e pra cantar com orgulho de ser quem você é, não é isso a mensagem do cd? E aqui ela faz isso dizendo que é tão livre quanto seu cabelo, você também acha isso não é, Willow?
Porém o saxofonista pode ser do Bruce, mas a produção é do RedOne, que pega pesado na cacofonia e no excesso mais uma vez. A idéia é boa, mas tem um vício muito constante no disco: a mesma música consegue passar por trocentos gêneros em 3 minutos. Tem o começo acústico, depois a confusão enquanto Gaga canta com saxofone de fundo + synths, um “o o o o o”, riffs de guitarra, drums, um bassline pulsante, depois uma seção no meio (muito boa por sinal) mais eletrônica só com riffs e synths e uma parte no final sing-along quase sem instrumentos pra cantar só com palminhas. É muita informação, mas o espírito da música tem me pegado, comecei odiando e com o tempo ela tem crescido em meu conceito.
Mais um giro pelo mundo em “Born This Way”, “Scheiße“, que se você não usar esse caractere alemão deve escrever “Scheisse” e não “ScheiBe”, tem uma pegada house e é cantada mezzo-inglês mezzo-alemão. Eu tenho a impressão que se você fala alemão deve achar uma bobagem o que ela está cantando na língua, tem muito cara de frase pronta sabe? Igual em “Lady Marmalade” que a gente achava o máximo a parte do Voulez-vous couché avec moi, ce soir? e era a parte mais bobinha da música, rs. De acordo com ela foi escrita um dia depois de ir em uma festa safadinha em Berlim e é sobre ser mau sem precisar pedir permissão. UIA! Bem, pelo menos Berlim tem a maior balada do mundo, ótimo lugar na Europa para se compôr um eurodance. Não me conquistou muito.
Depois de gritar que nem uma louca o cd todo a primeira possibilidade de uma baladinha em “Bloody Mary“, que na verdade é um midtempo electro-pop com uma aura gótica-hipnótica que de acordo com a própria compositora é sobre viver no meio do caminho entre realidade e a fantasia. Se é real não sei, mas tem de tudo que a fantasia de Gaga é composta: reforço no grave, temática religiosa, repetição da palavra Gaga várias vezes no que parece ser um canto gregoriano, poesia sacro-artística, etc. Trocadalho do carilho, já que “Bloody Mary” pode ser uma bebida ou a Mary que é bloody, cheia de qualidades.
Eu sei que você está pensando isso e eu também estou. Bem Madonna não é? Obviamente não teve intenção de parecer uma faixa do catálogo da Rainha do Pop, mas o tom de sua voz, principalmente no refrão, e a produção ficaram a cara do que Madonna faria. Diminua um pouco os elementos e você poderá colocar “Bloody Mary” bem ali no “American Life”, logo antes de “Easy Ride”.
Black Jesus – Amen Fashion” é sobre a facilidade de mudar de estado de espírito, tão fácil quanto mudar de roupa. Uma das mais fracas no cd, não me diz nada, e a temática religiosa já foi usada à exaustão de formas melhores. “Jesus is the new black“, seriously Lady GaGa, coughin’ during my interview? Fez muito bem em ficar de bonus track. Prefiro outra “Fashion” de seu repertótio, essa. De acordo com ela é a preferida de Justin Timberlake…bem, ele não podia ser perfeito não é?
Lady Gaga – Government Hooker
Miss Germanotta sempre foi conhecida por viver para seus fãs, seus little monsters, ao mesmo tempo que isso realmente é bem legal da parte dela, vem a calhar como uma ótima estratégia de marketing para ficar bem na fita com os fãs e a mídia. Mata dois coelhos com uma machadada só. E “Bad Kids” é a música feita para eles, teoricamente a partir das histórias que seus little monsters contaram a ela enquanto estava na estrada. O synth-pop robótico 80′s é um tributo à todas as crianças rebeldes. Ela já foi uma e sabe como é isso. Só uma observação: a premissa inicial do disco é que você tem que se sentir bem como você nasceu, e aqui a mensagem seria mais para quem escolheu ser rebelde. É das poucas faixas que trata de escolha e não destino.
Fashion of His Love” também é bonus track da special edition, porém bemmm mais relevante que a anterior. Uma das mais bonitas do disco na minha opinião. A letra é um tributo a seu ex-amigo e ex-fashion designer Alexander McQueen. No pouco tempo que se conheceram realmente ficaram bem íntimos. Achei fofs! <3 A produção de Space Cowboy (outro amigo e colaborador de longa data) tem uma vibe feel-good e é uma das que tem mais êxito em capturar a aura do que foi os anos 80. Durante entrevistas a pokerfacer disse que um dos ícones da década que a inspiraram no disco foi Whitney Houston, e a referência ao trabalho de Whitney está descarada aqui, praticamente uma homenagem em 2011 à “I Wanna Dance With Somebody“, assim como eu acho que “Marry The Night” em 1993 seria “Queen of the Night“.
Ensaio para a V Asia
Se os americanos já foram “Born To Be Wild” agora é hora de ser “born to love” em “Highway Unicorn (Road to Love)“. Confesso que con um nome desse esperava algo mais experimental e lisérgico do que os synths trance da faixa feel-good. Mais uma vez a estrada é o foco de Lady Gaga que afirmou que a música é sobre ela voando pela estrada com nada mais do que um sonho. O teclado anos 80 evoca mais uma vez a utopia de libertação de Bruce Springsteen. A igreja não poderia ter ficado de fora e o órgão religioso está presente de novo encerrando a música.
Pelo título eu esperava que “Highway Unicorn (Road To Love)” fosse ser o que “Heavy Metal Lover” é, mais alucinógena com camadas de vocais distorcidos sobre riffs de guitarra. A música é bem coesa com o resto do cd, mas nesse ponto uma música que é boa parece repetitiva depois de tantas vezes ouvirmos a fórmula de synths futuristas, riffs longos e sintetizadores que já distorceram a voz dela de todas as formas possíveis nas faixas anteriores e bla bla bla. Já que conta com pouco vocal, pelo nome que tem poderia usar uma guitarra mais nervosa em solos mais variados e experimentais ao invés de só repetir os rifss já usados. Mas é aquela coisa, ainda é um cd pop né? Provavelmente tem o verso mais bizarro do disco: “I want your whiskey mouth/All over my blond south” o_O E aí? Quem topa?
Ah lá! A guitarrinha safada que eu acho que tinha que estar presente na música de cima, que tem METAL LOVER no nome, veio aqui em “Electric Chapel“. Uma das produções mais fortes do disco, menos é mais, conta só com uma base eletrônica de apoio para uma guitarra forte. Ainda é música pop, mas com muito mais perspicácia e vontade de ser rock’n'roll, um casamento perfeito. Falando na sagrada instituição do matrimônio, a temática church aparece aqui de novo, não só na referência à capela do título, mas também no sino da igreja, no órgão da capela e na letra: “Follow me, don’t be such a holy fool / follow me, I need something sacred from you / together we’ll both find a way to make it pure, love, work in a dirty way”.
Vocalmente encontrei momentos bem Madonna de novo, principalmente no refrão, fala se não seria o tipo de música que Madge cantaria naquele momento do show que fica na frente do palco só com um violão. A mistura de sexo, religião e amor dá um alô outra vez na faixa que começou a ser escrita na Austrália e só terminou na Europa, dentro do tourbus.
The Queen” é a última das três bonus track da special edition. Fala sobre ter coragem de ser quem você é, tem gente dizendo que seria mais uma música para Alexandre McQueen, eu não vejo a inteção, é mais uma música de aceitação mesmo com “I can be, the queen dancing inside of me“. Dá para ver porque é extra, nada de surpreendente. Seria ótima como jingle de natal da Hallmark nos anos 80.
Dizem que the best is saved for last, e Lady Gaga seguiu à risca, deixando para encerrar o disco com duas músicas do melhor material que ela produziu.
Yoü And I no American Idol
Primeiro “Yoü And I” que para mim é a quilômetrosss de distância a melhor do cd, senão uma das melhores de sua carreira HOT HOT HOT HOT HOT. Ouvi comparações com “Speechless” pelas duas serem baladinhas, mas não se engane, essa aqui é miles away muito melhor. A construção é magistral, a produção é perfeita, nada é por acaso. Lady Gaga tem um talento monstruoso quando não é pretensiosa. Nada de simbolismos religiosos milimetricamente calculados, conceitos mirabolantes, sem disco sticks, auto-tune e fírulas. O que vemos é Gaga sendo autêntica e confessional abrindo sua alma sobre o piano acompanhado por uma guitarra amiga e uns beats eletrônicos. Dizem que a letra faz referência ao seu namorado Luc Carl, com quem ela termina e volta o tempo todo: “There’s only three men that Imma serve my whole life/It’s my daddy and Nebraska and Jesus Christ.
Se ela queria um momento rock em seu cd, aqui alcançou com maestria. A música perfeita pro momento rock’n'roll “esqueiro pra cima” no show. Mas porque o resto do cd não é assim? Simples: A galera do pop – RedOne, DJ White Shadow e Fernando Garibay – abriu espaço para a produção da lenda viva do gênero Robert “Mutt” Lange. Ele produziu simplesmente “Back to Black” do AC/DC, um dos melhores cds de rock já feitos. “Mutt” tem a habilidade de se adaptar ao ambiente que se encontra. Acredite, já produziu de AC/DC, Def Leppard a Backstreet Boys e Shania Twain. Seu trabalho mais recente foi o “Hands All Over” do Maroon 5. A guitarra nervosa também não foi tocada por qualquer um, mas por Brian May, guitarrista de uma bandinha aí, uma tal de Queen, rs, conhece? Ela devia ter deixado RedOne e companhia de lado e trabalho muito mais com essa galera.
O segundo final apoteótico e glorioso vem em “The Edge of Glory“. O uptempo europop de Fernando Garibay começa tímido mas explode em um refrão viciante. Deveria ter sido o segundo single, mas nos contentamos sendo o terceiro. O sucesso nos charts foi instantâneo assim que lançada e o clipe já foi gravado.
O single foi escrito logo após a morte de seu avô no ano passado mas ao invés de falar sobre a perda de um ente querido de uma forma melosa ela ataca e resolve mostrar que a vida ainda pode ser celebrada. Questionável porém é a aparição mais uma vez de Clarence Clemons e seu saxafone nervosoooo, hahaha. Em uma entrevista Clarence disse que estava em casa montando um aparelho de ginástica em uma sexta-feira quando sua esposa atendeu o telefone e disse que o time de Lady GaGa estava na linha querendo que ele fosse a Nova Iorque tocar para o seu cd. Ele disse que poderia na segunda ou terça mas eles disseram que precisava ser AGORA, haha. Ele largou o que estava fazendo e foi para o aeroporto, chegando na cidade foi direto para o estúdio. Fã da cantora, lembrou que ela foi extremamente amigável e não deu instruções sobre o que ele devia fazer, só colocou o playback das músicas que ele participaria e disse que era pra Clarence fazer o que o seu coração quisesse. Poético não é? Está aí a história de como esse saxofone foi parar em “Born This Way”.
Lady Gaga no David Letterman
Eu sempre digo que no ponto que está em sua carreira, Lady Gaga é mais estilo do que substância. Seu visual é sempre à frente do tempo, seu time fica responsável por mantê-la interessante de se ver, porém escondida por baixo dos figurinos exóticos, da sua chamada “música artística”, das mensagens de aceitação e liberação o que temos é uma popstar que faz música pop da forma mais banal. Isso acaba criando um desnível entre o que ela fala/veste e o que canta. Sua pretensão visual é bem maior do que a sonora.
Por outro lado é preciso reconhecer que ela está tentando evoluir seu som. As raízes urban e as músicas fáceis nem parecem ser da mesma artista, porém a euforia de ser grande e épica, dando vida ao cd na estrada e após shows talvez tenha tirado um pouco do foco do necessário e do desnecessário. Editar o que vai ficar de fora é tão importante quanto o que vai entrar. Ela brilha quando é menos em “Yoü And I”, “Government Hooker” e “Electric Chapel” mas se perde ao manter o disco ocupado demais com excesso de instrumentos e sintetizadores. Gaga disse que queria criar o novo “Thriller”, mas será que ela parou para ouvir o disco? Faixas atemporais como “Wanna Be Starting Something”, “Thriller” e “Billie Jean” tem um elemento principal que lidera o que deve ser construído em volta delas.
Born This Way” é um cd coeso, ela tinha a vontade de criar uma ode aos anos 80 e assim faz, indo de Bruce Springsteen a Whitney Houston. Tem seus bons momentos e seus maus momentos. O talento está lá, e quando Gaga resolver deixar um pouco de lado seus “hitmakers” e resolver trabalhar mais com gente como “Mutt” Lange, Paul Epworth, quem sabe Sia, e outros produtores menos óbvios e de fórmulas esgotadas ela deve conseguir voar mais alto em qualidade, porém vive no limiar entre querer dar vida à sua música-arte e criar hits radiofônicos.
Acho interessante observar como duas das maiores cantoras pop do planeta foram em direção totalmente opostas em seus trabalhos. A maior artista pop do começo da década, Britney Spears, foi em busca de um som futurista, apostando em europop e dubstep, ritmos do momento, enquanto a atual maior cantora pop foi buscar inspiração no passado, mexendo com o que os anos 80 teve de melhor, mas com muito cuidado, porque viajar no tempo é correr o risco de cair no cafona. No final quem ganha é o pop. Se alguns fãs fossem menos tolos em ficar disputando quem é melhor poderiam aproveitar mais dois projetos tão diferentes.
Lady Gaga é mentora no American Idol
Existem na minha opinião 2 barreiras na busca pela imortalização de Lady Gaga, para entrar nos anais da história do pop como ela quer: 1 – o próprio mercado. Não existe mais artistas à prova de balas. O mesmo fã que te endeusa é aquele que se agrupa a outros milhões nas redes sociais e pode lhe destruir. Nos anos de ouro de Madonna, Michael Jackson e até os Beatles ninguém se agrupava para falar mal. Os seus comentários ficavam restritos ao meio em qual você vivia, não existia redes sociais. São artistas consagrados mas que entraram para a história sem haters expressivos tentando lhes derrubar. Hoje em dia a opinião pública tem muito mais importância em definir se um cd é bom ou não. Alguém que não gosta se junta com outro que não gosta e quando menos espera existem milhares descrentes falando mal do cd entre si.
2 – o consumo fácil e banalizado. No século passado ouvir música significava gastar uma grana comprando um cd. Ouvir de tudo significava gastar rios de dinheiro, então a massa mainstream se pautava em consumir o que todo mundo está ouvindo. “Ai vou ouvir o “Like a Prayer”, todo mundo gosta.” Poucos artistas alcançavam o planeta todo. Hoje em dia através de torrents e outras formas de download você consegue ouvir quantos cds consegue baixar, e tudo de graça. São milhares os artistas que tem sua mensagem transmitida pelo mundo. Pode ouvir “Born This Way” e depois ouvir os outros 20 discos da sua playlist. É tanta música para se ouvir que o indivíduo não precisa ouvir um só.
Essas duas barreiras Lady Gaga ou qualquer outro artista tem que superar se quiser ser lembrando como o ícone de uma geração daqui 15, 20 anos.
Don’t Skip: “Marry The Night”, “Government Hooker”, “Americano”, “Bloody Mary”, “Fashion of His Love”, “Electric Chapel”, “Yoü And I” e “The Edge of Glory”.
Lady Gaga – Born This Way (Special Edition)
CD1:
01. Marry The Night [4:25]
02. Born This Way [4:20]
03. Government Hooker [4:14]
04. Judas [4:09]
05. Americano [4:06]
06. Hair [5:08]
07. Scheiße [3:45]
08. Bloody Mary [4:05]
09. Black Jesus + Amen Fashion [3:36]
10. Bad Kids [3:51]
11. Fashion Of His Love [3:39]
12. Highway Unicorn (Road To Love) [4:16]
13. Heavy Metal Lover [4:13]
14. Electric Chapel [4:12]
15. The Queen [5:17]
16. Yoü And I [5:07]
17. The Edge Of Glory [5:21]
CD2:
01. Born This Way (Country Road Version) [4:21]
02. Judas (DJ White Shadow Remix) [4:07]
03. Marry The Night (Zedd Remix) [4:21]
04. Scheiße (DJ White Shadow Mugler) [9:35]
05. Fashion Of His Love (Fernando Garibay Remix) [3:45]
06. Born This Way (Jost & Naaf Remix) [5:59]

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