Por Eduardo Guimarães*
Cumpre-me abordar o tema liberdade de
expressão. A primeira pergunta que se faz, nesse assunto, é: a liberdade
que se quer é para todos? Claro que sim. A segunda pergunta é sobre se
essa liberdade tem limites. Aí, dirão: liberdade não tem limites. Eu
digo que tem. O limite da liberdade de cada um é o direito do outro.
No momento em que você usa a sua
liberdade para tolher a do outro, você não está exercendo liberdade de
expressão, mas, sim, de opressão. Você está pedindo liberdade para si
para tirar a liberdade de alguém mais.
Particularmente, prezo muito a liberdade
de expressão e fiz muito por ela, no meu entender. Não para mim, mas
para todos aqueles que se vêem excluídos do debate público por não terem
acesso a meios de comunicação de massas financiados, em boa parte, com o
dinheiro de todos nós.
Sem liberdade na internet, não teria
conseguido mover medidas judiciais contra os grandes impérios de
comunicação. E, na verdade, a liberdade, no meu caso, não terá que ser
só na internet, mas também no Judiciário, pois do meu ativismo político
podem advir represálias judiciais ao fim de ações que empreendi não por
conta de interesses pessoais contrariados, mas pelos interesses
coletivos na comunicação e na liberdade de expressão.
Como organizar atos públicos para
desafiar impérios de comunicação se não fosse a internet livre? Poderia
eu defender leis que lá adiante poderão se voltar contra mim, por conta
de tudo o que fiz através da internet?
E vocês sabem quanta briga comprei com
os grandes, não sabem?Só compro briga com os tubarões, pessoal. Não vou
ficar polemizando com cidadãos que são tão prejudicados quanto eu pela
imprensa golpista, que quer nos tolher as liberdades.
Para os conscientes, minha história
construída toda sobre a liberdade na internet falará por mim. Para os
inconscientes, não. Mas o inconsciente já tem problemas demais com a
própria inconsciência sem que eu tenha que atacá-lo.
Continuarei defendendo a liberdade de
expressão para todos, sobretudo nos grandes meios e, claro, na internet.
Por isso, não apoiarei um projeto como o do senador Eduardo Azeredo,
pois ele deixa, sim, margem para retaliar gente como eu.
Todos são a favor da liberdade na
internet. Luto há anos contra a mídia usando a rede e seria vítima de
censura. Mas sou pai, sou avô. Vivo intranqüilo com a minha neta de nove
anos, a Letícia Maria. Ela adora a internet. O pai lhe deu um
computador. Pôs filtros, mas há subterfúgios, pois há gente se inserindo
nas redes sociais para aliciar menores.
A minha querida amiga Janice Ascari, uma
mulher de valor que luta pelos direitos civis e que tenta cumprir seu
papel de procuradora da República abstendo-se de paixões
político-partidárias, respeitando a própria obrigação de zelar pelo
interesse coletivo, mandou-me muito material sobre crimes na internet,
que ainda abordarei.
Um texto interessante é sobre pornografia infantil no Twitter, que pode ser encontrado aqui.
Sobre crimes na internet, há vários outros dados estonteantes. Eis alguns deles:
•Pesquisa indica crescimento acelerado de crimes na internet no Brasil http://bit.ly/fJeZZ9
•Mulheres são as maiores vítimas de crimes na internet http://bit.ly/g8N3vN
•65% dos internautas já foram vítimas de crimes na internet http://bit.ly/gQR9WE
•Brasil é considerado o maior laboratório de crimes na internet do mundo http://bit.ly/edjJdb
•Crimes na internet rendem mais do que tráfico de drogas, no Brasil http://bit.ly/hLv4Be
•Jornal da Record – Mulheres vítimas de difamação na internet (vídeo) http://youtu.be/HiphToFZBXU
•A dificuldade de se identificar e condenar autores de crimes na internet http://bit.ly/hJHmEI
•Relatório final da CPI da Pedofilia aponta dificuldades na identificação de criminosos na internet http://bit.ly/ijveCU
•Faltam delegacias especializadas em crimes virtuais http://bit.ly/eAPPTE
•Ministério Público Federal reclama da dificuldade de combater crimes na internet por falta de legislação adequada http://bit.ly/e2BbEs
•Especialistas afirmam que o desafio é conciliar liberdade da internet com segurança http://bit.ly/g0IkNY
O fato é o de que, sem radicalismos, com serenidade, o Brasil tem que discutir o assunto crimes na internet, pois não param de crescer. Não será o projeto que se convencionou chamar de AI-5 Digital. Ele é ruim. Deixa margem para uso malicioso contra gente como eu. Mas há que fazer alguma coisa, pois os crimes na internet não param de crescer.
O fato é o de que, sem radicalismos, com serenidade, o Brasil tem que discutir o assunto crimes na internet, pois não param de crescer. Não será o projeto que se convencionou chamar de AI-5 Digital. Ele é ruim. Deixa margem para uso malicioso contra gente como eu. Mas há que fazer alguma coisa, pois os crimes na internet não param de crescer.
Do fim da campanha eleitoral para cá,
por duas vezes os filhos da direita midiática se valeram dessa
“liberdade de expressão” para propor o assassinato de nordestinos e da
presidente da República alegando ser “brincadeira”.
Não quero uma internet em que possam ser
cometidos crimes como os que os links acima denunciam, pois esses links
também denunciam as dificuldades para se combater esses crimes que a
falta de leis e de estrutura do Estado geram.
Sempre aparecerão os exaltados querendo
criminalizar todo aquele que quiser discutir qualquer assunto. Alguns
sob preocupações legítimas e outros por mísero oportunismo, para se
projetarem. Ações que são boas mesmo, ficam só no ataque àqueles que,
como eu, não decidem nada.
Prefiro combater os tubarões, mas não
com discursos. Continuarei agindo para garantir uma comunicação cidadã
no Brasil. Não apenas na internet, mas nela também. Não defenderei leis
que possam ser usadas para tolher a liberdade de expressão, desde que
essa não seja liberdade para tolher liberdades, também.
Essa discussão sobre regulação da
internet é um debate muito profundo, cheio de prós e contras e não se
pode discuti-la a quente, com paixões extremadas e intransigência. Não
se pode ignorar que o maior ativo da internet, que é a possibilidade de
se divulgar o que se quiser, é, também, seu maior passivo.
Tal liberdade pode ser usada para o bem e
para o mal. É como um medicamento que, tomado abaixo ou acima da dose
recomendada, pode causar danos ao paciente. Por isso, o que peço é o
debate, um debate que contemple não só o a liberdade de expressão, mas
os riscos que os crimes na internet constituem de forma crescente, até
por conta da rápida inclusão digital que se opera no Brasil.
O que não dá para aceitar são aqueles
que, em nome de ideais libertários que acalentam, julguem-se no direito
de atacar pessoalmente aqueles dos quais divergem.
O que prego é que se combata, de alguma
forma, a proliferação de páginas na internet que aliciam crianças, que
difamam mulheres, que estimulam a violência contra negros, nordestinos,
homossexuais, enfim, que se proteja a sociedade do uso da internet para
causar mal a inocentes.
Essa preocupação deveria unir a todos os
cidadãos, independentemente de ideologia, preferência política, posição
geográfica, classe social, idade, sexo etc., pois todos podemos ter um
ente querido atingido pelo uso malévolo da internet, até aqueles que não
querem que se faça nada mais do que se vem fazendo contra esses crimes
que não param de aumentar.
Sempre estarei disposto ao debate sério,
respeitoso e bem-intencionado. Sempre estarei disposto a aprender e a
ensinar. E sempre disposto a dar espaço ao contraditório, do que são
provas as dezenas de milhares de comentários aqui publicados, que contêm
divergências múltiplas de minha opinião e que provam quanto preso a
liberdade de expressão.
* Matéria originalmente publicada no Blog Cidadania
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