O
problema do método na psicologia sobre o qual incide a obra de Vigotsky
permeia todas as ciências humanas no século XX. Nesse momento,
discute-se e assume-se que não há como limitar esse campo de estudo a
uma epistemologia positivista como acontece com as ciências ditas
exatas. Essa discussão inicia-se quando percebemos que não há como
excluir a subjetividade desse tipo de trabalho, e não é por isso que
deixa de ser legítimo.
Ao Vigotsky dizer que o sujeito constrói-se em relação com o meio,
questiona-se o método da psicologia, uma vez que o empirismo não dá
conta de relações tão complexas e relativas, pois não há como
regulamentar, generalizar e quantificar tais situações.
Portanto, a preocupação passa a ser entender a gênese dessa
subjetividade do ser humano, em não entender apenas o fim, mas o
processo, ou seja, interpretá-lo. O que é o que acontece – mais uma vez
comparando – com as outras ciências humanas, como por exemplo, a
história, onde não cabe mais a questão acerca da veracidade de um
acontecimento, mas sim suas interpretações e implicações na sociedade.
Assim, a preocupação torna-se entender essa subjetividade que é tão
característica do ser humano, sua gênese. Na teoria, o ponto de partida
torna-se os signos, e para Vigotsky mais precisamente, a linguagem que é
mediadora da subjetividade entre os indivíduos, pois é produzida social
e historicamente e materializa as significações produzidas nesse
processo socio-histórico.
Mas mesmo assim é possível estabelecer um estudo de cunho científico,
pois apesar do indivíduo ser dotado de sua unidade, ele ainda é
construído socialmente e porta tais aspectos de seu meio, portanto não
podemos abolir o método e da formulação de teorias, mesmo porque
exceções são permitidas e bem-vindas inclusive para fins de
enriquecimento do estudo.
Contudo, nota-se o quão importante é a linguagem na teoria vogotskyana e
sua relação com a gênese do pensamento. Para ele, funções mentais são
relações sociais internalizadas, os signos são instrumentos
psicológicos, então a mediação aparece como ponto de partida
fundamental. Então, ele vê a linguagem com a função de comunicação, mas
que tem como função primordial a organização do pensamento
generalizante, portanto, quando as crianças aprendem a linguagem, passam
a conceber o mundo de outra forma, o que podemos exemplificar com a
protagonista do filme “O milagre de Anne Sullivan”, a Helen Keller, que
passa a relacionar-se com as outras pessoas e com o mundo de outra
maneira após aprender uma forma de linguagem, e acima de tudo passa a
conseguir ter um aprendizado. A linguagem é o sistema simbólico básico
de todos os grupos humanos.
A linguagem como pensamento generalizante é o que organiza e agrupa
idéias e coisas semelhantes entre si, e é o que a faz um instrumento do
pensamento. Quando a linguagem existe isolada do pensamento – fase
pré-intelectual – só há certa linguagem de alívio emocional e contato
social, como o balbucio dos bebês, não tem função de signo. E quando há o
pensamento separado da linguagem – fase pré-verbal – nota-se apenas uma
“inteligência prática”, onde o indivíduo consegue modificar o ambiente
para solucionar alguns problemas.
A articulação da linguagem com o pensamento é fundamental na espécie
humana, pois o biológico transforma-se no sócio-histórico, assim o
indivíduo insere-se num grupo cultural. O pensamento verbal passa a
dominar na ação psicológica humana.
Tais questões são cruciais na obra de Vigotsky. Segundo o autor, o pensamento passa a existir por meio de palavras.
Com isso, a reflexão torna-se inclusiva em relação às ciências humanas
por colocar as relações histórico-sociais como fundamentais na
filogênese do indivíduo e, ao acrescentar análises antes não relevantes
para a psicologia ele a enriqueceu de forma incomparável tirando-a de
uma análise meramente quantitativa e linear que não dá conta da
abrangência, pluralidade e subjetividade da mente humana, e também pode
explicar as diferenças entre os indivíduos de forma mais satisfatória a
coerente.
Filme
O milagre de Anne Sullivan. Ano/País/Gênero/Duração: 1962/EUA/Drama/102min Prod.: Fred Coe. Dir.: Arthur Penn Rot.: William Gibson
Bibliografia
SMOLKA, Ana Luísa B. O (im)próprio e o (im)pertinente na apropriação das práticas sociais.
OLIVEIRA, Marta Kohl. Pensamento e linguagem.
AGUIAR, Wanda. A pesquisa em Psicologia Sócio-Histórica: contribuições para o debate.
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