Uma língua de sinais (português brasileiro) ou língua
gestual (português europeu) é uma língua que se utiliza de gestos, sinais e
expressões faciais e corporais, em vez de sons na comunicação. As línguas de
sinais são de aquisição visual e produção espacial e motora. São as línguas
naturais de cada comunidade de Surdos, ao redor do globo. Há no mundo muitas
línguas de sinais usadas como forma de comunicação entre pessoas surdas ou com
problemas auditivos. Muitas delas receberam reconhecimento oficial em vários
países.
As Línguas de sinais no Mundo
Assim como entre os idiomas falados, é grande a variedade de
línguas de sinais ao redor do mundo.
Muitos linguistas se dedicaram a estudar diferentes línguas
gestuais, concluindo que estas apresentavam diferenças consideráveis entre si.
Deve-se levar em conta que diferenças culturais são determinantes nos modos de
representação do mundo. Assim, os surdos sentem as mesmas dificuldades que os
ouvintes quando necessitam comunicar com outros que utilizam uma língua
diferente.
Cada país tem a sua própria língua gestual. Tomando como
exemplo alguns países lusófonos, vemos que utilizam diferentes línguas de
sinais: no Brasil existe a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), em Portugal
existe a Língua Gestual Portuguesa (LGP), em Angola existe a Língua Angolana de
Sinais (LAS), em Moçambique existe a Língua Moçambicana de Sinais (LMS).
Além disso, da mesma forma que acontece nas línguas faladas
oralmente, existem variações linguísticas dentro da própria língua de sinais,
isto é, regionalismos e/ou sotaques. Essas variações se devem a ligeiras
diferenças culturais e influências diversas no sistema de ensino do país, por
exemplo. Há, inclusive, uma língua de sinais pretensamente universal, análoga
ao Esperanto, conhecida como Gestuno, que é usada em convenções e competições
internacionais.
A língua de sinais é ainda usada em situações em que pessoas
sem quaisquer deficiências, ao nível da visão ou audição necessitam comunicar,
sem poderem usar sons. Exemplos disso são a comunicação entre mergulhadores e certos
rituais de iniciação entre aborígenes australianos, em que é proibido falar
oralmente por um período de tempo.[carece de fontes]
Não se sabe quando as línguas de sinais se iniciaram, mas
sua origem remonta possivelmente à mesma época ou a épocas anteriores àquelas
em que foram sendo desenvolvidas as línguas orais. Uma pista interessante para
esta possibilidade das línguas de sinais terem se desenvolvido primeiro que as
línguas orais é o fato que o bebê humano desenvolve a coordenação motora dos membros
antes de se tornar capaz de coordenar o aparelho fonoarticulatório. As línguas
de sinais são criações espontâneas do ser humano e se aprimoram exatamente da
mesma forma que as línguas orais. Nenhuma língua é superior ou inferior a
outra, cada língua se desenvolve e expande na medida da necessidade de seus
usuários.
Também é comum aos ouvintes pressupor que as línguas de
sinais sejam versões sinalizadas das línguas orais; por exemplo, muitos
acreditam que a LIBRAS é a versão sinalizada do português; que a Língua
Americana de Sinais é a versão sinalizada do inglês; que a Língua Japonesa de
Sinais é a versão sinalizada do japonês; e assim por diante. No entanto, embora
haja semelhanças ou aspectos comum entre as línguas de sinais, devido a um
certo contágio linguístico, as línguas de sinais são autónomas, não derivando
das orais e possuindo peculiaridades que as distinguem umas das outras e das
línguas orais.
A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as
línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir aos
seus usuários expressar-se sobre qualquer assunto, em qualquer situação,
domínio do conhecimento e esfera de atividade. Mais importante, ainda: é uma
língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos. Por outro lado, a Lingua
de Sinais, embora seja a lingua natural dos surdos, nao é a linguia materna de
qualquer surdo.
Alfabeto dactilológico
A difusão do alfabeto dactilológico de uma só mão entre os
ouvintes gerou a pressuposição de que esse alfabeto é a própria língua de
sinais, que há uma única língua de sinais e que essa língua é universal. No
entanto, o alfabeto dactilológico é apenas um suplemento das línguas de sinais,
cuja função é a soletração de palavras das línguas orais, tais como, nomes
próprios, siglas, empréstimos, etc.
De acordo om o Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES), o alfabeto dactilológico usado atualmente no Brasil é um conjunto de 27
formatos, ou configurações diferentes de uma das mãos, cada configuração
correspondendo a uma letra do alfabeto do português escrito, incluindo o “Ç”.
É muito aconselhável soletrar devagar, formando as palavras
com nitidez. Entre as palavras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou
mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a
palavra já soletrada para o lado. Normalmente o alfabeto manual é utilizado
para soletrar os nomes de pessoas, de lugares, de rótulos, etc., e para os
vocábulos não existentes na língua de sinais.
Os sinais de pontuação, tais como, vírgulas, ponto final e
de interrogação, às vezes, são desenhados no ar. Preposições e outras classes
de palavras de que a língua não dispõe são inseridas na sinalização por meio da
dactilologia, ou do alfabeto manual.
Línguas de sinais e línguas orais
Ao falarmos em língua de sinais estamos a referir-nos a língua materna/natural de uma comunidade de surdos, isto é, uma língua de produção manuo-motora e de recepção visual, com vocabulário e gramática próprios, não dependente da língua oral, usada pela comunidade surda e alguns ouvintes, tais como parentes de surdos, intérpretes, professores e outros.Aspectos comuns
- Arbitrariedade: As línguas orais são maioritariamente arbitrárias, não se depreende a palavra simplesmente pelo sua representatividade, mas é necessário conhecer o seu significado. A iconicidade encontra-se presente nas línguas de sinais, mais do que nas orais, mas a sua arbitrariedade continua a ser dominante. Embora, nas línguas de sinais, alguns gestos sejam totalmente icónicos, é impossível, como nas línguas orais, depreender o significado da grande maioria dos sinais, apenas pela sua representação.
- Comunidade: As línguas orais têm uma comunidade que as adquirem, como língua materna, cujo desenvolvimento se faz através de uma comunidade de origem, passando pela família, a escola e as associações. Todas as línguas orais têm variações linguísticas. Todas as línguas gestuais possuem estas mesmas características.
- Sistema linguístico: As línguas orais são sistemas regidos por regras. O mesmo acontece com as línguas de sinais, conforme referenciado por Stokoe (1960).
- Produtividade: As línguas orais possuem a características da produtividade e da recursividade, sendo possível aos seus falantes nativos produzirem e compreenderem um número infinito de enunciados, mesmo que estes nunca tenham sido produzidos antes. Acontece o mesmo com as línguas de sinais, sendo encontradas a criatividade e produtividade nas produções, por exemplo, da LGP, pelos seus gestuantes nativos, parecendo não haver limite criativo.
- Aspectos contrastivos: As línguas orais possuem aspectos contrastivos, isto é, as unidades fonológicas do sistema de determinada língua estabelecem-se por oposições contrastivas, ou seja, em pares de palavras, em que a substituição de uma unidade fonológica (um fonema) por outra altera o significado da palavra (por exemplo: parra e barra). Acontece o mesmo nas línguas de sinais, sendo que em vez de unidade fonológica, muda um pequeno aspecto do gesto (por exemplo, na LGP: método e liberdade).
- Evolução e renovação: As línguas orais modificam-se, como no caso das palavras que caem em desuso, outras que são adquiridas, a fim de aumentar o vocabulário e ainda no caso da mudança de significado das palavras. O mesmo acontece nas línguas de sinais, a fim de responder às necessidades que a evolução socio-cultural impõe (por exemplo, na LGP, os seis gestos de "comboio", ou os gestos de "filme").
- Aquisição:A aquisição de qualquer língua oral é natural, desde que haja um ambiente propício desde nascença. Na língua gestual acontece de igual forma, não tendo o indivíduo surdo que exercer esforço para aprender uma língua de sinais, ou necessidade de qualquer preparação especial.
- Funções da linguagem: As línguas orais podem ser analisadas de acordo com as suas funções. O mesmo acontece com as línguas de sinais. As funções são: a função referencial,a emotiva, a conotativa, a fática, a metalinguística, e a poética.
- Processamento: Embora usando modalidades de produção e percepção, as línguas orais e de sinais são processadas na mesma área cerebral.
Características próprias das línguas de sinais
Kyle e Woll apontam algumas propriedades exclusivas das línguas de sinais, tais como o uso de gestos simultâneos, o uso do espaço e a organização e ordem que daí resultam. Assim, as línguas de sinais possuem uma modalidade de produção motora (mãos, face e corpo) e uma modalidade de percepção visual.Embora existam aspectos universais, pelos quais se regem todas as línguas de sinais, a comunicação gestual dos Surdos não é universal. As línguas de sinais, assim como as orais, pertencem às comunidades onde são usadas, tendo apresentando diferenças consideráveis entre as determinadas línguas.
As línguas de sinais não seguem a ordem e estrutura frásicas das línguas orais, assim o importante não é colocar um sinal atrás do outro, como se faz nas línguas orais (uma palavra após a outra). O importante em sinais é representar a informação, reconstruir o conteúdo visual da informação, pois os surdos lidam com memória visual. As línguas de sinais possuem sua gramática própria, assim como as línguas orais possuem as suas, sendo elas totalmente independentes.
Referências
- ↑ Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa, pág. 54.
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