domingo, 11 de março de 2012

O Labirinto e o encontro das mentes fantásticas

Quando Maurice Sendak escreveu "Outside Over There" em 1981, ele não imaginava que, cinco anos depois, a sua história serviria de inspiração para um dos grandes filmes fantásticos da década de 80: "Labirinto - A Magia do Tempo". Além de Sendak, outros nomes de peso fazem parte dessa rede encantada que ajudou o filme a se tornar o que é. Vamos à pipoca.

jim henson george lucas labirinto magia tempo david bowie outside over there


Labirinto - A Magia do Tempo foi idealizado no momento certo, oportuno. O seu enredo absurdo e assustador, envolvendo o sequestro de uma criancinha e o sutil romance entre uma adolescente e um homem adulto; e as suas personagens sedutoras, frágeis e também grotescas, dificilmente encontrariam o espaço e a acolhida devida nos dias de hoje, em que o pensamento e a atitude politicamente correta tornaram-se norma, roubando dos textos originais e do ato de ler e apreciar uma obra de arte toda a magia inerente a ela. Quando eu era pequena tinha o costume de assistir a determinados filmes inúmeras vezes. Meu pai dizia que eu ia gastar a fita e que a tela da TV ia queimar. Que ele não ia renovar a mensalidade da locadora porque eu não variava o meu repertório. Ele tinha todo um papo. A verdade é que havia filmes que eu tinha prazer em saber de coração cada fala, cada cena, enquanto outros simplesmente me causavam um temporal de emoções. E o Labirinto é um deles.
Realizado em 1986 por Jim Henson (seu último longa metragem antes de falecer) e produzido por George Lucas, o filme Labirinto - A Magia do Tempo conta com a participação do ícone pop David Bowie no papel do extravagante Jareth, o rei dos goblins, e Jennifer Connelly como a jovem Sarah Williams. A trama aparentemente simplista se desenvolve em torno de Sarah, que sai em busca do seu irmão, o bebê Toby, que foi levado pelo rei dos goblins, numa aventura que mudaria para sempre a sua vida. O filme conta também com a participação excepcional de bonecos animados e marionetas - a maestria de Henson, o pai dos Muppets.
Quando Maurice Sendak, escritor e ilustrador americano de literatura infantil, escreveu "Outside Over There" em 1981, ele não imaginava que, cinco anos depois, a sua história serviria de inspiração para Jim Henson e sua equipe. Além de Sendak, outros nomes e obras clássicas fizeram parte desta rede encantada que ajudou o filme Labirinto a se tornar o que é: O Mágico de Oz, Alice no País das Maravilhas e o trabalho de M. C. Escher, por exemplo. Entretanto, foi o conto de Sendak que lhe conferiu este caráter fantástico, de aventura e de mistérios. E Henson não poderia ter escolhido melhor, já que Sendak produziu obras primorosas que dão voz ao nosso imaginário de maneira sem igual.


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Para situá-los, o livro de Maurice Sendak Outside Over There conta a história de um bebê que é sequestrado por goblins e resgatado mais tarde pela sua irmã, então com nove anos de idade: "Com papai no mar e mamãe no porto, Ida tocava o seu fagote para acalantar o bebê, mas sem olhar. Então vieram os duendes. Eles forçaram a porta e puxaram o bebê para fora, deixando em seu lugar um outro todo feito de gêlo." * Apesar das pequenas diferenças entre os enredos, ambos os autores, Henson e Sendak, compartilham do mesmo tema, que é a forma particular como uma criança aprende a lidar com os mais variados sentimentos e situações (perigo, medo, frustração, inveja, tédio) atribuindo-lhes significados pertinentes para toda uma vida. É por isso que este filme sempre me causou um turbilhão de sensações. Pois era como entrar num pesadelo repleto de mensagens e camadas infinitas. Um pesadelo leve e denso cujo autor fez verdadeiro uso da linguagem (sem travas ou censuras) situando-a em outras realidades.

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O que existe de mais bonito no conceito da intertextualidade é o diálogo que pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento e em todas as manifestações em que o homem é capaz de imprimir a sua marca, sublimando as pequenas coisas por algo maior. A relação entre o Labirinto e a obra de Lewis Carroll, por exemplo, é que as duas histórias, a princípio superficiais, são enganadoras e nos fazem questionar o significado do que se diz ou se vê. Tanto em Alice, quanto em Labirinto, o mundo imaginado da toca do coelho e do labirinto em si se tornam entidades autônomas que nos convidam a jogar e a decifrar. Num eterno embate entre o real e o imaginário, a razão e a falta dela. O mesmo poderia ser dito sobre as ilusões de ótica tão impressionantes e paradoxais de Escher que, apesar de fazer uso de uma linguagem ou meio completamente distinto, nos desconcerta e faz ascender a outros mundos.
É por meio do diálogo e da troca entre todas estas obras que vemos nascer um trabalho mais rico e sólido, capaz de perdurar décadas. Neste caso, nostálgicos 25 anos.
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