quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

POLÊMICA SOBRE DATAS COMEMORATIVAS NAS ESCOLAS E CRECHES


Por ocasião da data comemorativa do “Dia do Índio”, 19 de abril, veio à tona uma discussão: O que fazer com as crianças neste dia.
A maioria dos educadores hoje, respaldados nas contestações às posturas tradicionais com as quais as escolas lidavam com estas datas, levantam a bandeira de que a data só deve ser comemorada dentro de toda uma contextualização histórica e reflexiva a respeito do índio.
A respeito disso a Revista Nova Escola escreveu:
 
"O Dia do Índio é comemorado em 19 de abril no Brasil para lembrar a data histórica de 1940, quando se deu o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. O evento quase fracassou nos dias de abertura, mas teve sucesso no dia 19, assim que as lideranças indígenas deixaram a desconfiança e o medo de lado e apareceram para discutir seus direitos, em um encontro marcante. Por ocasião da data, é comum encontrar nas escolas comemorações com fantasias, crianças pintadas, música e atividades culturais. No entanto, especialistas questionam a maneira como algumas dessas práticas são conduzidas e afirmam que, além de reproduzir antigos preconceitos e estereótipos, não geram aprendizagem alguma. "O índigena trabalhado em sala de aula hoje é, muitas vezes, aquele indígena de 1500 e parece que ele só se mantém índio se permanecer daquele modo. É preciso mostrar que o índio é contemporâneo e tem os mesmos direitos que muitos de nós, 'brancos'", diz a coordenadora de Educação Indígena no Acre, Maria do Socorro de Oliveira."

Com base no texto acima, a reportagem traz também uma lista de atividades que não devem ser feitas no dia do indio, como pintar as crianças, reproduzir em maquetes as suas ocas, etc. Alegando que não devemos “reproduzir preconceitos em sala de aula, mostrando o indígena como um ser à parte da sociedade ocidental, que anda nu pela mata e vive da caça de animais selvagens.”.
A respeito desta discussão, escrevi lá um comentário, que contrariava todos os demais.
            - Não devemos ser radical. Querer provocar em uma criança de 2 ou 3 anos de idade a compreensão da contemporaneidade dos índios é deveras complicado. Os próprios índios reivindicam o direito de perpetuar a sua cultura, os seus rituais e vestimentas festivas. Não se trata de estereotipar, mas de revelar essa cultura. Crianças nessa idade guardam mais na memória as experiências do que as informações repassadas, todos nós sabemos disso. Assim, pintar o corpo, dançar, construir, experimentar as heranças da culinária indígena, dos artefatos, como redes, potes, etc. são muito mais significativos para elas, em minha opinião.

Também, na comunidade do orkut, PROJETOS DE EDUCAÇÃO INFANTIL, surgiu essa mesma discussão. Lá, novamente, contrariando a todos os demais, eu escrevi o seguinte comentário:

- Concordo com o que foi dito a respeito da necessidade de se aprofundar no tema, de não tratar a data comemorativa como obrigatória e superficial... e tudo o mais...
Por ocasião do dia do índio, voltei a refletir sobre isso.
Eu que venho de uma geração de educadores que se encontrou no limite entre o tradicional e o construtivismo que surgia em forma de uma ditadura nas escolas. Ninguém se atrevia a assumir, sequer, que antes trabalhava de forma tradicional.
Essa experiência me levou a temer qualquer forma de radicalismo.                                               “- Ou isso ou aquilo!".
A minha filha, que tem 21 anos agora, foi quem me deu a melhor resposta para a minha inquietação, ela disse:                                                                                                                            “- Pode ficar certa que nas minhas lembranças de creche eu guardo apenas a sensação boa de me vestir de índio, de me pintar e dançar no pátio. Essa coisa de informações eu só comecei a compreender depois, nesse tempo eu compreendia menos e sentia mais as coisas.”
Acho que é por aí. As nossas crianças precisam muito mais experimentar do que ficar sabendo informações criteriosas a respeito disso ou daquilo.
E esse negócio de ser todo ano a mesma coisa, é a mesma coisa para a gente, para eles é sempre festa e novidades a cada ano.
Não estou defendendo o tradicionalismo ou outra coisa.
Contextualizar e significar é sempre o ideal, mas sem muitos alardes e também sem a obrigação de comemorar ou não. Cada um conhece a realidade as necessidades dos seus alunos, basta atendê-los com responsabilidade profissional e sensibilidade.
Lembremos que se a escola fizer de conta que não existe a data, ele vai ver lá fora, de alguma maneira, algo que o informe dela, aí sim, sem nenhuma ligação com ele.

Esse é, portanto um assunto, muito polêmico, que merece ser avaliado por todos nós com muito cuidado para não emitirmos conclusões precipitadas e equivocadas.

 

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