domingo, 11 de março de 2012

Nosferatu e o Expressionismo Alemão


 

“Nosferatu – uma sinfonia de horror” é um dos maiores clássicos do cinema expressionista alemão. Dirigido pelo fabuloso diretor Murnau, o filme conta a terrível história de um simples cidadão alemão que recebe a proposta de vender um imóvel em frente à sua casa para um desconhecido morador da Transilvânia. Certo que esta negociação lhe renderá muito dinheiro, o jovem Hutter segue para o país dos ladrões e dos fantasmas, onde descobre que essa misteriosa pessoa é nada mais nada menos que Nosferatu, o grane vampiro. Ele compra o imóvel e segue para a cidade de Hutter atrás de sua mulher, Ellen. Este filme aborda temas bem interessantes para o ponto de vista do ano de 1922, 4 anos após o fim da primeira guerra e a 7 anos da quebra da bolsa de Nova Iorque. A ganância é abordada através do desejo do jovem Hutter de oferecer mais conforto para a sua amada Ellen, que por sua vez é simples e pura.
Ela não precisa disso. Na família existe um casal rico. Hutter talvez entenda a venda do imóvel defronte à sua casa para um conde na Romênia como a grande chance para aumentar seu patrimônio a fim de estar nas mesmas condições que este casal.
 No decorrer do filme, vários outros temas são recorrentes na narrativa, como a forte crença no sobrenatural, como lobisomens, fantasmas, vampiros etc. Clássico do expressionismo alemão. Mas, sem dúvida, o grande tema do filme é a morte, ou o desejo pelo mórbido, representado por Nosferatu, que é um morto-vivo. Distúrbios psicológicos, poder psiquico, loucura, o desespero e a hipnose também são inseridos na trama. Todas características marcantes dos filmes expressionistas. O amor incondicional, centrado no casal Hutter e Ellen, apesar de todo o macabrismo do filme, serve como contraponto às sequências horripilantes.
Fica claro no filme o discurso de Murnau de auto-defesa, quando ele aborda o tema da chamada “praga” vinda de outros lugares da Europa. Temos aí um simbolismo representado pela figura de Nosferatu, onde o diretor expressa o seu temor pelas mazelas que aflingem a Europa, um desejo de proteção e resguardado na cultura e pureza do povo alemão. Talvez possamos estar vendo o desenvolvimento do nacionalismo exacerbado na Alemanha pós-primeira guerra, assim como a necessidade da manutenção da “raça ariana”alemã, dois elementos fundamentais do Nazismo, movimento operário, liderado por Hitler, que surgiria anos mais tarde dentro deste país.
 Nosferatu, como sendo um clássico filme expressionista alemão, apresenta com muita propriedade e riqueza, diversos elementos desse movimento artístico, como o uso incrível da sombra como um personagem independente, as linhas e formas tortas (obliguas) em janelas, portas e prédios, como forma de nos transportar para um mundo de pesadelos e agonias, além da recorrente morbidez dos elementos fílmicos. Murnau basea-se na estrutura fílmica Griffithiana para compor a sua obra. Podemos ver uma apresentação bem precisa e objetiva dos personagens nos primeiros 10 minutos de filme, temos a separação do casal principal, o início dos transtornos e problemas, o mal se encontra com a mocinha. Até aí, temos a influência de Griffith. Depois disso, já temos o toque de Murnau, onde não é o mocinho que salva à mocinha do mal, ela mesmo se salva e salva os demais deste malfeitor. E eu diria que não temos um “Final Feliz” mas sim um “Semi-Final Feliz”.
 É observado também o uso frequente da íris, como corte de plenos, a presença do plano-detalhe e do plano ponto de vista em determinadas situações, maximizando o suspense, ou agonia da sequência. Também temos um recurso isolado de tomada panorâmica, quando Hutter inicia a sua viagem à cavalo até a Romênia.
 A trilha sonora não poderia ser melhor e digo até que sem ela, o filme perderia parte do seu brilho. Os recursos de ruído de ambientes, como o badalar de relógios, o bater de asas dos morcegos, acrescentam a tensão e expectativa necessária para este tipo de filme.
 As músicas são bem temáticas. Notamos uma sensível diferença nas sequências entre Hutter e sua esposa (mais suave e alegre), nas sequências de pessoas aterrorizadas com um perigo iminente (suspense) e nas investidas de Nosferatu em suas vítimas (terror, agonia, fatalidade). Uma observação interessante que faço é a parada da música no instante em que Hutter completa a frase “Rápido com a janta! Preciso ir ao castelo de Conde Orlock!”, conota um suspense e apreensão inigualável. Todos param o que estão fazendo para olhar o pobre infeliz que tem um encontro com a morte! Foi espetacular! Para mim, a trilha sonora é um dos elementos mais significativos do envolvimento emocional entre filme e espectador. Achei muito interessante o uso de filtros coloridos para determinadas situações no filme. Podemos observar que o filme é uma mescla de cores amarelas, azuis e vermelhas. Em ambientes internos que se passam à noite, temos o amarelo como principal cor, nas externas-noite, o azul e nas externas-dia, o vermelho. 
 Portanto, todos esses elementos estéticos compõem com brilhantismo a obra-prima de Murnau, reunindo recursos até então pouco explorados na linguagem do cinema.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.