Dados do Ministério da Educação indicam que o Brasil avançou em ritmo lento em sala de aula – e a qualidade do ensino é ainda uma meta distante
Cenário de atraso Os índices brasileiros de repetência se assemelham aos africanos |
Um novo conjunto de dados sobre a educação
brasileira traz à luz um fato incômodo: na última década,
os avanços em sala de aula foram bem mais lentos do que o esperado –
e o necessário. Os números, reunidos na versão preliminar
de um relatório do Ministério da Educação (MEC), revelam
que o Brasil deixou de atingir as metas mais básicas rumo à excelência
acadêmica. Elas compõem o Plano Nacional de Educação,
documento formulado dez anos atrás, durante o governo Fernando Henrique,
que, pela primeira vez, definiu objetivos concretos para a educação
pública do país, justamente até 2010. Fica bem claro ali
que o Brasil patinou no enfrentamento de questões cruciais, tais como os
elevadíssimos índices de repetência, indicador-mor da incompetência
da própria escola. A meta para este ano era chegar a 10%, índice
ainda alto – mas a repetência estacionou em 13%, como em alguns dos
países africanos. Outro dado que ajuda a traduzir a ineficácia do
ensino é a evasão escolar. Nesse caso, pasme-se, o Brasil até
piorou. De 2006 a 2008, o porcentual de estudantes que abandonaram a sala de aula
pulou de 10% para 11% – quando o objetivo era baixar a taxa, nesse mesmo
período, para 9%. Alerta a especialista Maria Helena Guimarães:
"Essas são questões que os países mais ricos já
equacionaram, com eficácia, mais de um século atrás".
Ainda que a tendência geral seja de melhora do ensino,
a persistência da má qualidade nas escolas brasileiras faz refletir
sobre a necessidade de acelerar o passo. Sabe-se que as deficiências no
nível básico repercutem, de forma decisiva, nos indicadores de acesso
à universidade – um dado que merece atenção por sinalizar
as chances de um país competir globalmente. O Brasil conta hoje com apenas
14% dos jovens em idade considerada ideal (entre 18 e 24 anos) na universidade.
É um número mínimo na comparação até
com países da América Latina, como o Chile, onde a taxa já
está em 21% – e também frustrante diante da meta do presente
plano de educação, que previa, a esta altura, pelo menos 30% dos
jovens brasileiros no ensino superior. O atraso do país ainda se reflete
no medidor do analfabetismo: a taxa é de 10%, quando deveria ter caído
para 4%. Ao escancarar esse e outros nós, o atual documento do MEC tem
o mérito de traçar um diagnóstico preciso, iluminar as várias
lacunas e reforçar a ideia de que, com o acesso já garantido à
sala de aula, é premente investir com mais vigor na tão almejada
excelência acadêmica.
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