Um texto temático é predominantemente dissertativo, mas isso não significa que não pode ter figuras, e se as tiver, elas aparecerão de forma genérica. Esse tipo de texto pretende mostrar fatos ao leitor sem a preocupação de convencê-lo.
Nele, o tempo verbal mais usado é o presente atemporal, escrito na forma impessoal, para isso os pronomes eu, ele, ela, nós, etc. não são usados.
É um texto dinâmico com relações de anterioridade e de posterioridade, com predominância de substantivos abstratos e palavras abstratas, que indicam algo presente no mundo natural, mas com foco em conceitos.
Por ter uma função interpretativa, o texto temático explica o mundo, os temas ficam na superfície textual.
Texto figurativo
Um texto figurativo é do tipo narrativo, com predominância de termos concretos, ou seja, substantivos concretos. Com esses elementos cria um efeito de realidade, caracterizando uma imagem de mundo, onde são analisadas relações humanas e acontecimentos. No entanto, isso não representa que o texto figurativo não tenha tema, pelo contrario, o texto narrativo sempre apresenta, em suas estruturas profundas, um tema.
A função do texto figurativo é representativa, e para tal, ele usa palavras predominantemente concretas, onde os temas são encobertos pela camada figurativa. Os tempos verbais mais utilizados são: presente, imperfeito e futuro.
Quando dizemos que um texto é figurativo ou temático, na verdade o que queremos dizer é que é predominantemente e não exclusivamente figurativo ou temático, pois em um texto figurativo podem aparecer temas e vice e versa.
Para facilitar o entendimento do leitor em classificar um texto, ele pode chamar de figuras os elementos concretos que encontrar e de temas os elementos abstratos. Embora, o leitor, diante de um texto não deva se deter apenas a termos concretos ou não, e sim, procurar o significado mais amplo possível da leitura, o que mostrará sua competência linguística.
Temas - são os elementos abstratos, são as palavras ou expressões que não correspondem a algo existente no mundo natural, mas a elementos que organizam, categorizam, ordenam a realidade percebida pelos sentidos. Há dois níveis de concretização dos esquemas narrativos: o temático e o figurativo.
O figurativo é mais concreto do que o temático, cria um efeito de realidade, pois constrói uma cena real, com gente, bichos, cores, etc. Por isso representa o mundo no texto. Conforme o modo de concretização da estrutura narrativa, temos dois tipos de textos: os temáticos e os figurativos. Os textos temáticos procuram explicar os fatos e as coisas do mundo, buscam classificar, ordenar e interpretar a realidade. Quando se diz que um texto é figurativo ou temático, o que se quer dizer é que ele é predominantemente, e não exclusivamente, figurativo ou temático. Podem aparecer algumas figuras nos textos temáticos e alguns temas nos textos figurativos. A classificação decorre da predominância de elementos abstratos ou concretos, não da sua exclusividade. Como o nível temático e o nível figurativo são dois níveis sucessivos de concretização, podemos ter textos temáticos sem a cobertura figurativa, mas todo texto figurativo pressupõe, sob as figuras de um tema. Para entender um texto figurativo é preciso alcançar seu nível temático, pois um texto figurativo sempre joga com dados concretos para, por meio deles, revelar significados mais abstratos.
Os estudos lingüístico-gramaticais hoje focam sua lógica nos textos e não em palavras e frases isoladas. A combinação da morfologia, que forma o que se chama de eixo da escolha (paradigmático), com a sintaxe, que forma o eixo da combinação (sintagmático) gera o que realmente interessa quando se quer comunicar: a semântica.
A semântica é o sentido dos textos, pois as palavras só ganham sentido dentro de textos. O significado delas está no eixo da escolha, nos dicionários, mas na mensagem está o sentido. E mesmo assim a captação desse sentido depende de cada receptor. Nem sempre a mensagem que o produtor do texto quis passar é captada pelo receptor, que entende coisa bem diferente e essa passa a ser, para ele, a mensagem naquele texto.
Independentemente desse ruído de comunicação, ou seja, o emissor querendo dizer uma coisa e o receptor entendendo outra, os textos também são classificados como temáticos, isto é, quando predomina a idéia, e figurativos, isto é, quando predominam as palavras que indicam seres do mundo natural, concretos.
Melhor é analisar alguns provérbios e constatar o que é figura e o que é idéia.
1) “EM TERRA DE CEGO, QUEM TEM UM OLHO É REI.”
Figuras: Terra, cego, olho e rei
Tema: Essa máxima pode ser interpretada tematicamente na referênciaTema: Essa máxima pode ser interpretada tematicamente na referência a que, entre pessoas ignorantes, pouco espertas, aquele que se destaca um pouco acima delas é tratado como se fosse rei. Em geral, ela é usada quando nos referimos à mediocridade.
Há, portanto, forte temática pejorativa, insinuando que, dentre os medíocres, o menos medíocre leva vantagem. Mas... ainda assim a mediocridade predomina.
2) ‘FAÇAM O QUE EU DIGO, MAS NÃO FAÇAM O QUE EU FAÇO.”
Figuras: EU, VOCÊS
Tema: Tematicamente o provérbio indica que o autor ou usuário dessa frase sabe o que é certo, o que deve ser feito, mas ele mesmo nunca faz. Temos exemplos disso claramente na política e entre os políticos. Eles sabem o que precisa ser feito, mas os interesses da categoria são mais fortes do que os interesses do povo e nunca fazem o que é preciso, só o que lhes interessa. E quantos conselheiros são hábeis no manejo do discurso e mais hábeis ainda na prática do contrário ao que pregam!
Essa frase, por uma necessidade de rima, já chegou a ser alterada, numa insinuação muito mais ampla, porque passa a abranger os representantes de entidade religiosa: “Frei omás, façam o que ele diz, mas não façam o que ele faz”.
3) “CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE!”
Figuras: povo, governo (mais precisamente governantes)
Tema: Óbvia referência aos que sofrem as conseqüências de terem escolhido mal aqueles que os governam. Vemos aqui uma íntima ligação com o primeiro provérbio acima. Os medíocres escolhem um menos medíocre para governá-los e enganá-los. Nem vamos nos referir a algumas eleições em que, sabidamente, candidatos que se locupletaram com o dinheiro público, alguns cassados, outros se exoneraram para evitar a cassação, foram reconduzidos pelo povo aos seus cargos anteriores, por voto livre. É, de fato, cada povo tem o governo que merece!
Mas esse provérbio também nos leva ao famoso tema da mulher de malandro. Tem povo que gosta de sofrer!
4) “ÁGUA É MOLE, PEDRA É DURA. TANTO BATE, ATÉ QUE FURA!
Figuras: água, pedra, bater, furar
Tema: Louvação à persistência como qualidade. Ela passa a idéia de que se deve persistir para não fracassar. Não se deve aceitar um não com docilidade quando realmente se busca alguma coisa que a pessoa julga justa ou necessária. É preciso insistir até e para atingir o objetivo.
5) “OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE”
Figuras: olho e dente
Tema: Um brado à vingança como restauradora da justiça. Já fazia parte do antiqüíssimo Código de Hamurábi, na época da Babilônia. Se nos ativermos à leitura de romances de Érico Veríssimo, em relação ao Rio Grande do Sul, ou dos autores nordestinos da primeira metade do século XX, perceberemos como agiam os chefes de clãs ou ‘coronéis’ disputas entre famílias rivais. Em Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, ou “Fogo Morto”, de José Lins do Rego, ou ainda “São Jorge dos Ilhéus”, de Jorge Amado, veremos muito essa máxima “restauradora da justiça” ser empregada com constância.
Como esses poucos exemplos, esperamos ter deixado bem claros os conceitos de textos figurativos e textos temáticos.
Prof. Elon Macena
Diretor Acadêmico-Pedagógico da Unisa – Universidade de Santo Amaro
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