segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Grupo da ECA revive a radionovela


USP Online
USPonline ? No início dos anos 40, o Brasil inteiro acercava-se do rádio quando entrava no ar o prefixo característico: "Senhoras e senhoritas, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro apresenta Em busca da felicidade". Era a primeira história radiofônica seriada do país, que duraria dois anos. Depois vieram outras radionovelas como ?O Direito de Nascer? que passou diariamente pela rádio São Paulo e, depois, pela rádio Record durante nove anos. Vivia-se a época de ouro do rádio.

Mas o que aconteceu com esse gênero nos anos que se sucederam? Desapareceu? Sem saber, pensamos que sim. E com estranhamento recebemos a informação: o Grupo de Estudos e Desenvolvimento em Áudio (GAUDIO) da Escola de Comunicações e Artes da USP realiza a partir desta quarta-feira (22) o seminário ?Encantos e Encontros da Radiodramaturgia?. Sabemos que o evento pretende discutir o passado, o presente e também o futuro da radionovela, um gênero que viveu seu auge e que depois foi perdendo força com a chegada e o sucessivo crescimento da televisão no país. Mas, qual o futuro de algo que se supunha terminado?

Conversando com os organizadores do evento, descobrimos que a radionovela não sumiu das programações, ficando apenas esquecida do grande público. ?A imagem que as pessoas têm da radiodramaturgia é aquela dos anos 40 e 50, quando as tramas mobilizavam o país e atingiam todo o território brasileiro por meio da Rádio Nacional. Saudosismo à parte, as radionovelas continuaram, mas de uma forma muito mais tímida e regionalizada?, destaca Silvia Duprat, coordenadora do evento.

Segundo a pesquisadora, há vários exemplos que atestam a permanência da radionovela até os dias de hoje: no norte do país, a Radio Nacional da Amazônia apresenta uma radionovela diária desde 1985. No final da década de 90 foi criada uma companhia de radiodramaturgia em Campinas, que produziu mais de uma centena de radionovelas. Em São Paulo, A Rádio Cultura AM passou peças radiofônicas nos anos de 98 e 99. Rádios comunitárias do Ceará também produzem peças do gênero.

Quando se pensa em radiodramaturgia, há ainda também as manifestações de radioteatro. ?Diferentemente das radionovelas, que possuem uma estrutura folhetinesca que exige ao final de cada capítulo um ?gancho? para o próximo, a peça de radioteatro é unitária?, afirma o professor Ângelo Piovesan, também responsável pelo evento. Segundo ele, a mesma Rádio Cultura levou contos adaptados de Machado de Assis para o rádio e possui outros projetos nesse sentido.

Ontem e hoje

As radionovelas atuais não são as mesmas dos anos 40 e 50. De lá para cá o gênero passou por várias mudanças. O formato inicial, baseado em radionovelas mexicanas, trazia dramas pesados e emocionais. Tratavam-se de tragédias familiares que apresentavam um clima denso e pesado. Os capítulos eram extensos, com mais de 40 minutos, e buscavam entreter os ouvintes por um longo período, uma vez que o rádio era o principal meio de entretenimento.

Hoje, trabalha-se muito mais com temas do cotidiano com um toque humorístico. Usa-se também a narrativa ficcional para tratar de fatos reais como se apresentasse um serviço (informação útil) para o ouvinte. Atualmente, o número de capítulos é menor, 10 ou 15, em formato de minisséries, com um tempo menor para cada capítulo: 15 minutos de duração.

Mas, porque as radionovelas perderam o espaço que possuíam? ?Os dois principais pólos nacionais, Rio e São Paulo, são hoje os maiores produtores de televisão. Toda a atenção está voltada para a TV, o que faz com que a produção de radiodramaturgia saia desse eixo e se regionalize?, aponta Piovesan. Ele também ressalta que outro ponto importante são as verbas publicitárias: é muito mais fácil para quem deseja anunciar seus produtos divulgá-los na Rede Globo, que possuí abrangência nacional, do que negociar com as mais de 4 mil emissoras de rádio, sem contar as mais de 8 mil rádios comunitárias.

Piovesan destaca também que o rádio não é mais um ?acontecimento? como antigamente, quando as pessoas se reuniam na casa daquelas que possuíam o aparelho transmissor para escutar as radionovelas. ?Hoje as pessoas trocam e-mails e dirigem ouvindo rádio. Ele está presente o dia inteiro na vida das pessoas, competindo com outros elementos que lhes tiram a atenção?, continua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.