Antes de falar desta segunda temporada, faço aqui uma consideração: da mesma forma que a Flashstar Filmes teve que fazer, esta resenha da segunda temporada acompanha o nome oficial da série aqui no Brasil: Saint Seiya: The Lost Canvas. Tal mudança foi uma exigência do estúdio que produz o anime no Japão. Portanto, ainda que, para nós, brasileiros, tudo isso ainda se trate de uma espécie de prelúdio do bom e velho Cavaleiros do Zodíaco,
é justo que possamos estar em consonância com a distribuição no país,
respeitando os apontamentos de quem produz. A primeira temporada, da
qual já tratei aqui no blog, permanece com o nome clássico, mas acredito
que agora, até o fim, se mantenha o nome inteiro original.
Isto posto, posso agora tratar
desta nova temporada, ainda que produtos japoneses, sobretudo animes,
tem uma lógica de temporadas um pouco diferente dos americanos. Com 13
episódios lançados no Japão diretamente em DVD e em Blu-Ray, assim como a primeira temporada, acompanhamos a jornada de Tenma, cavaleiro de bronze que defende a constelação de Pégaso, acompanhado por Yuzuriha, de Grou e Yato,
de Unicórnio, até o Castelo de Hades. Nesta jornada, encontram muitos
inimigos poderosos, e também muitos aliados bastante importantes nessa
caminhada. Dentre eles, Manigold, de Câncer e El Cid, de Capricórnio, ambos cavaleiros de ouro bastante poderosos. Também entendemos um pouco melhor a relação entre Sage, o Grande Mestre do Santuário e Hakurei, seu irmão gêmeo e antigo cavaleiro de Altar. A
trama, assim, se desenvolve não só centrada na missão do trio liderado
por Tenma, protagonista da história, mas também e principalmente na
jornada indivisual de cada um destes personagens.
Neste
ponto, coloca-se então algo bastante latente em todas as produções
deste universo: o aprofundamento de cada um dos personagens, focalizando
o seu momento atual e explicando cada uma de suas ações e pensamentos
por meio de suas experiências, referências e toda a sua bagagem
anterior. A intempestividade de Manigold, característica também encontrada em Máscara da Morte
(cavaleiro de Câncer dos tempos atuais) é bastante instigante quando o
personagem está em busca de justiça de uma maneira bastante particular.
Da mesma forma, o ser perfeccionista de El Cid se mostra na sua busca
pelo golpe ideal. Fazendo novamente um paralelo com a série clássica,
como ambos os referentes destes cavaleiros tomaram papéis de antagonismo
(coincidentemente, enfrentando Shiryu), não se pode mostrar como cada um deles entende o que é ser um cavaleiro de Athena. O mesmo pode ser notado em Albafica de Peixes na primeira temporada, já que Afrodite
também foi visto somente como um vilão. Deste modo, pode-se ver algo
aqui que não fora visto anteriormente: a importância dos cavaleiros de
ouro na hierarquia dos protetores da deusa. Se
na séria antiga parecia que somente 5 dos 88 cavaleiros defendiam
verdadeiramente o juramento e a razão de existirem, aqui todos tem a sua
parcela em uma grande guerra. Vimos parte da devoção dos cavaleiros de
ouro somente na Saga de Hades dos tempos modernos, mas a série clássica ficou marcada exatamente pela chamada Batalha das 12 Casas, onde os dourados eram, de fato, os inimigos a serem vencidos.
Algo
que chama a atenção e que talvez possa incomodar um pouco é forma como a
narrativa se desenvolve para os demais personagens. Não há grandes
batalhas entre cavaleiros de prata ou bronze contra espectros "normais".
Quando estes aparecem, são ambos dizimados pelo poder infinito do
inimigo, tanto de um lado como do outro. A
trama entre El Cid e seus aprendizes poderia render ótimos momentos
onde eles pudessem participar ativamente da guerra santa. Chegaram a ser
apresentados, cada um com suas personalidades bem iniciadas, mas tudo
se vai quando todos são destruidos com um único ataque de uma grande
divindade. O mesmo ocorreu na primeira temporada com os postulantes a
cavaleiro treinados por Hasgard, de Touro. Afinal, haveria espaço
para nos apegarmos a mais personagens que, teoricamente, seriam fracos,
mas que cresceriam e se tornariam grandes ídolos, como na série
clássica, onde Seiya era, de fato, protagonista, mas outros tantos
personagens também recebiam atenção e acabavam roubando preferência do
público. Como exemplo, quantos tinham como cavaleiro preferido Hyoga ou Ikki?
Cada qual, à sua maneira, tendo um carisma e uma tragetória muito
interessante, dava corpo a um grupo de cavaleiros que buscava um
objetivo comum.
Em The Lost Canvas,
o papel de protagonismo momentâneo cabe a estes cavaleiros de ouro
citados anteriormente, o que é bom, mas como o ciclo de cada um acaba
com a sua redenção e morte, não há tempo para se torcer para que eles
cheguem ao final junto aos demais. Ao mesmo tempo, Yato jamais atingiu o
carisma e o desenvolvimento próprio para que se torça realmente por
ele. Yuzuriha é ainda pior, já que ninguém liga que ela tenha
conquistado sua armadura de Grou (?), nem que tenham sido treinada por
Hakurei, ao lado de Shion.
Ambos, de fato, assumem papel de ajudantes (no pior sentido) do
protagonista, aqueles que ninguém liga se estão vivos ou mortos. Até
porque, graças a informações que temos dos tempos atuais, sabemos que
nenhum deles sobrevive ao final desta Guerra Santa, já que somente Dokko
e Shion sobram. Sinto falta, portanto, de algo que possa nos remeter a
algumas das imagens clássicas de nossa infância que justificavam
lembrarmos dos Cavaleiros do Zodiaco. No final das contas,
a escolha da produtora japonesa em não permitir a tradução aqui no
Brasil acabou vindo a calhar. Não faz mais sentido pensar em CDZ
quando, no final das contas, somente um pode ser entendido como
protagonista. Os demais estão lá para facilitar o seu caminho, não para
chegarem junto com ele ao final.
Contudo,
tudo isso talvez seja sinal de um certo saudosismo, ou uma estranha
nostaugia. Entendo que a sensação que tive lá com meus 10, 11 anos de
idade ao assistir cada um dos cavaleiros de bronze serem massacrados
para, depois de tudo, vencerem com apenas um golpe jamais retornará. E,
abrindo os olhos para este novo momento, posso vislumbrar coisas que não
me importavam naquele momento, onde The Lost Canvas supera CDZ,
tais como a trama principal, que é muito melhor articulada entre os
ambientes e personagens, e as batalhas, que mesmo mantendo sempre aquela
mesma expressão "ele parou meu golpe mais poderoso com apenas uma das mãos", abre espaço para ótimas possibilidades narrativas. Não
poderia imaginar a solução dada para o desfecho da batalha entre El Cid
e Oneiros, com a ajuda da flecha de Sagitário lançada por Sísifo. Frustação mesmo foi o prometido embate no final da temporada, com a marcha dos cavaleiros até o Castelo de Hades, com todos eles voltando pra casa sem nem ao menos encontrar ninguém. Neste ponto, senti o mesmo que Kardia, o cavaleiro de Escorpião, que parece ser um dos personagens centrais da próxima temporada, juntamente com Dégel, de Aquário.
Imagens por: http://www.cavzodiaco.com.br/
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