segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Dois álbuns trazem maracatu genuíno

Revisitado por artistas pernambucanos ao longo da década, como Chico Science & Nação Zumbi, Mestre Ambrósio e Antônio Nóbrega, o maracatu desta vez ganha projeção nacional em sua fonte primária. Dois CDs registram o trabalho contemporâneo da tradicional manifestação em PE. O primeiro, 'Nação Erê", do grupo de mesmo nome, de Recife, inaugura a coleção Erê - Crianças que Tocam o Brasil, do selo paulista Palavra Cantada. O segundo, a coletânea 'Maracatu Atômico", um projeto da pernambucana África Produções, reúne o próprio Nação Erê, criado em 92, e mais quatro grupos, alguns formados no século 19.

É o caso do maracatu do Leão Coroado (1863), com sede no bairro de Águas Compridas, Recife. Dois shows hoje, um Sesc Pompéia e outro no parque Ibirapuera, em São Paulo, marcam o lançamento do CD 'Nação Erê" - boa pedida para o Dia das Crianças. É a primeira gravação solo do grupo integrado por 22 crianças e adolescentes, entre percussionistas e bailarinas. O Nação Erê é representante do maracatu de baque virado, que tem ligação com os rituais de candomblé. A música segue a cadência da percussão, não há instrumento melódico. O tambor alfaia, por exemplo, que pode ser confeccionado em pele de bode e madeira de macaíba (palmeira), é o coração da batucada.

As 12 faixas do CD foram gravadas no bairro Brasília Teimosa, na periferia de Recife. Quem abriga o Nação Erê é o Centro de Educação Popular Mailde Araújo, que dá cursos de dança e música para crianças e adolescentes carentes. O CD é embrionário do projeto Canções do Brasil, do selo Palavra Cantada, especializado em músicas 'com critério" para crianças, como 'Canções de Brincar" (96) e 'Canções de Ninar" (94), contempla Sandra Peres e Paulo Tatit (ex-grupo Rumo) percorreram 26 Estados recolhendo músicas interpretadas (voz e instrumento) por crianças.

A coletânea 'Maracatu Atômico", da África Produções, foi lançada no sábado passado, na rua da Moeda, bairro do Recife Antigo. O show reuniu os grupos Leão Coroado e Nação Erê, que executam o maracatu de baque virado, além do Estrela de Ouro (da cidade de Aliança), Leão Vencedor (Carpina) e Piaba de Ouro (Tabajara), especializados no maracatu de baque solto (que incorpora instrumentos de metal). Seus mestres são Salustiano, ou Salu (Piaba de Ouro), Afonso Aguiar (Leão Coroado), Zé Duda (Estrela de Ouro) e Biá e Limoeiro (Leão Vencedor).

O 'maestro" do Nação Erê é Helenildo Anes, 19, o Pitota, que ingressou no grupo aos 7 anos. Segundo o diretor da África Produções, Afonso Oliveira, 31, existem atualmente cerca de 100 grupos de maracatu em Pernambuco. 'Maracatu Atômico", diz ele, é o primeiro CD que reúne as manifestações tradicionais (cada grupo interpreta quatro loas). 'Eles fizeram muito pela cultura brasileira, preservaram sua musicalidade, sua ancestralidade religiosa, mesmo perseguidos durante o Estado Novo (1937-45), que fechou vários espaços por discriminação", diz Oliveira.

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