domingo, 11 de setembro de 2011

Ohtake, Tomie (1913)

     

Críticas

"A cor demorou a chegar. Primeiro vieram tímidas paisagens rapidamente abandonadas por uma abstração caligráfica e um mergulho numa nebulosa de cinzas, brancos e negros. Este foi um vôo profundo e demorado. A seguir, as formas começaram a crescer. (...) Tomie já usou a superfície da tela como um campo de matéria e de texturas que se articulavam, trabalhou com nuances de sombra e a fronteira de passagens de cor. Hoje tanto pode usar delicados equilíbrios de forma como arriscar cores violentas que são contidas com pulso firme. É difícil dividir as suas telas em antes ou depois ou em fases que se sucedem, pois na realidade Tomie foi pintando numa espiral ascendente. Mesmo nas primeiras telas não era a simples paisagem que a interessava. Quando chegou às texturas e à matéria, não fazia apenas o informalismo que vinha de Paris. Se chegou a formas muito construídas, isto também não significava somente uma divisão racional dos espaços. O que sempre importou em sua obra foi a própria pintura, como uma maneira de espelhar um momento de reflexão e não simplesmente para construir imagens.
(...) é difícil para quem já viu uma tela de Tomie Ohtake deixar de reconhecer os seus outros trabalhos. Mesmo que ela tenha passado toda a vida articulando elementos muito simples e delicadas superposições de cores - como muitos outros pintores num plano internacional -, a dosagem de cores e de elementos formais há muito fixou sua identidade (...).
Tomie então consegue fazer telas com uma qualidade física - a matéria é bonita, a textura é quase tátil, os contornos das formas são fortes no espaço - para tratar de coisas impalpáveis como equilíbrio, luz e sombra, movimento - o que ela sugere com curvas vertiginosas, sombreados de algumas superfícies e a maneira de articular as composições. Elementos tão ambíguos ela soluciona com aparente simplicidade, uma infatigável aplicação no trabalho e uma satisfação silenciosa no ato de pintar".
Casimiro Xavier de Mendonça
MENDONÇA, Casimiro Xavier de. O jogo do espaço e da luz. In: _______. Tomie Ohtake. São Paulo: Ex Libris, Raízes, 1983. p. 27-31.

"A artista substitui a cópia ou a reprodução de temas ou situações conhecidas pela sugestão formal, aproximando-se assim da técnica de pintura japonesa em preto e branco, chamada sumi-e, uma marca do ´pattern ancestral´, criando uma pintura sóbria e de grande refinamento plástico-visual, pela perfeita utilização das técnicas e dos materiais: pincéis, espátulas, pigmentos. A pintora não parou simplesmente nos arranjos caligráficos, mas através das subdivisões e frações dos caracteres shodo, cria um rico repertório formal que acompanha a sua obra até os dias atuais. Tomie Ohtake, ´como autêntica pintora, não se satifaz com os padrões informais do Ocidente´, tão em moda na década de 50, como não aceita integralmente a reprodução da caligrafia oriental. A artista soma aspectos caligráficos ao informalismo da arte européia, ligando-se à sugestão formal, típica da pintura sumi-e para obter surpreendentes resultados tonais de harmonias monocromáticas".
João J. Spinelli
SPINELLI, João J. Tomie Ohtake. In: _______. Tomie Ohtake: o antigo e o novo na obra de Tomie Ohtake.1985. f. 92. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Arte, Universidade de São Paulo, São Paulo.

"A pintura de Tomie Ohtake se desenvolve a partir das linguagens abstratas. Assim, da tendência informal que a caracteriza em fins dos anos 50 evolui para um abstracionismo gestual explorador da espacialidade em início dos anos 60, aventurando-se por telas de maior dimensão, pesquisando a cor e texturas com uma finura que marcaria sua contribuição. E dos inícios de 60 uma série de grande poética na qual se utiliza de fluente gestualidade com sensível redução cromática - ao máximo três tons de cor quase invariavelmente. Desse período surgirá toda uma fase de sobreposição de planos em ortogonal sobre a base da tela, com o materialismo e transparência cromáticas se impondo em composições sóbrias, de caligrafia visível, já denunciando sua vocação para a manipulação de uma ampla espacialidade. A presença do geometrismo dominando forma versus fundo, sempre com um tratamento pictórico elaborado, emergirá em inícios dos anos 70, e é por essa época que se define sua predileção por suportes de superfícies quadradas de grande vastidão espacial. A curva se insinua aos poucos dominando as superfícies das telas com refinadas transparências".
Aracy Amaral
AMARAL, Aracy (Org.).Tomie Ohtake. In: MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: perfil de um acervo. São Paulo: Techint Engenharia, 1988. p. 307.

 

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