Comentário Crítico
Após breve passagem pela pintura figurativa, Tomie
Ohtake define-se pelo abstracionismo. No início da década de 1960,
emprega uma gama cromática reduzida, com predominância de duas ou três
cores. Leva o olhar do espectador a percorrer superfícies em telas que
muitas vezes lembram nebulosas. Utiliza, em algumas obras, pinceladas
"rarefeitas" e tintas muito diluídas, explorando as transparências.
Posteriormente, surgem em seus quadros formas coloridas, grandes
retângulos, que parecem flutuar no espaço. Ao longo da década de 1960
emprega mais freqüentemente tons contrastantes. Revela afinidade com a
obra do pintor Mark Rothko (1903 - 1970), na pulsação obtida em suas
telas pelo uso da cor e nos refinados jogos de equilíbrio. A artista
explora a expressividade da matéria pictórica, mais densa, em texturas
rugosas, ou mais diluída e transparente.
Em gravura, começa trabalhando com serigrafia e
litogravura, a partir dos anos 1970. Para a maioria dos críticos, esse
aprendizado revitaliza sua obra pictórica. Surgem em suas telas a linha
curva e as formas orgânicas. Embora de caráter abstrato, ocorre em
alguns quadros a sugestão de paisagens: montanhas ou curvas de rios.
Intensifica o dinamismo e a sugestão de movimento. Em obras realizadas a
partir da década de 1980, emprega uma escala de cores mais quentes e
contrastes cromáticos mais intensos.
Dedica-se também à escultura, e realiza, por exemplo, a Estrela do Mar
(1985), colocada na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Propõe
intervenções em espaços urbanos, produzindo esculturas de grandes
dimensões, como as "ondas" em homenagem aos oitenta anos da imigração
japonesa, instaladas na avenida 23 de Maio, em São Paulo. Em esculturas
mais recentes, trabalha com tubos delgados, que estabelecem sinuosos
percursos no espaço.
A artista enfatiza, em entrevistas, a importância da
arte oriental, em especial a japonesa, em sua pintura, afirmando que
"essa influência se verifica na procura da síntese: poucos elementos
devem dizer muita coisa".1 Da tradição japonesa, Ohtake diz inspirar-se na noção de tempo do ukiyo-e
(imagens do mundo que passa), arte que revela cenas de uma beleza
fugaz. Pesquisa constantemente as possibilidades expressivas da pintura:
as transparências, as texturas e a vibração da luz. Declara fazer uma
pintura silenciosa, como a cidade em que nasceu. Em suas obras, revela
um intenso diálogo entre a tradição e a contemporaneidade.
Notas
1 Citado em Ohtake, Tomie; ARRUDA, Vitoria (Coord.). Exposição retrospectiva Tomie Ohtake. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2000, p. 65.
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