Críticas
"A cor demorou a chegar.
Primeiro vieram tímidas paisagens rapidamente abandonadas por uma
abstração caligráfica e um mergulho numa nebulosa de cinzas, brancos e
negros. Este foi um vôo profundo e demorado. A seguir, as formas
começaram a crescer. (...) Tomie já usou a superfície da tela como um
campo de matéria e de texturas que se articulavam, trabalhou com nuances
de sombra e a fronteira de passagens de cor. Hoje tanto pode usar
delicados equilíbrios de forma como arriscar cores violentas que são
contidas com pulso firme. É difícil dividir as suas telas em antes ou
depois ou em fases que se sucedem, pois na realidade Tomie foi pintando
numa espiral ascendente. Mesmo nas primeiras telas não era a simples
paisagem que a interessava. Quando chegou às texturas e à matéria, não
fazia apenas o informalismo que vinha de Paris. Se chegou a formas muito
construídas, isto também não significava somente uma divisão racional
dos espaços. O que sempre importou em sua obra foi a própria pintura,
como uma maneira de espelhar um momento de reflexão e não simplesmente
para construir imagens.
(...) é difícil para quem já viu uma tela de Tomie
Ohtake deixar de reconhecer os seus outros trabalhos. Mesmo que ela
tenha passado toda a vida articulando elementos muito simples e
delicadas superposições de cores - como muitos outros pintores num plano
internacional -, a dosagem de cores e de elementos formais há muito
fixou sua identidade (...).
Tomie então consegue fazer telas com uma qualidade
física - a matéria é bonita, a textura é quase tátil, os contornos das
formas são fortes no espaço - para tratar de coisas impalpáveis como
equilíbrio, luz e sombra, movimento - o que ela sugere com curvas
vertiginosas, sombreados de algumas superfícies e a maneira de articular
as composições. Elementos tão ambíguos ela soluciona com aparente
simplicidade, uma infatigável aplicação no trabalho e uma satisfação
silenciosa no ato de pintar".
Casimiro Xavier de Mendonça
MENDONÇA, Casimiro Xavier de. O jogo do espaço e da luz. In: _______. Tomie Ohtake. São Paulo: Ex Libris, Raízes, 1983. p. 27-31.
"A artista substitui a cópia
ou a reprodução de temas ou situações conhecidas pela sugestão formal,
aproximando-se assim da técnica de pintura japonesa em preto e branco,
chamada sumi-e, uma marca do ´pattern ancestral´, criando uma pintura
sóbria e de grande refinamento plástico-visual, pela perfeita utilização
das técnicas e dos materiais: pincéis, espátulas, pigmentos. A pintora
não parou simplesmente nos arranjos caligráficos, mas através das
subdivisões e frações dos caracteres shodo, cria um rico repertório
formal que acompanha a sua obra até os dias atuais. Tomie Ohtake, ´como
autêntica pintora, não se satifaz com os padrões informais do Ocidente´,
tão em moda na década de 50, como não aceita integralmente a reprodução
da caligrafia oriental. A artista soma aspectos caligráficos ao
informalismo da arte européia, ligando-se à sugestão formal, típica da
pintura sumi-e para obter surpreendentes resultados tonais de harmonias
monocromáticas".
João J. Spinelli
SPINELLI, João J. Tomie Ohtake. In: _______. Tomie Ohtake:
o antigo e o novo na obra de Tomie Ohtake.1985. f. 92. Dissertação
(Mestrado) - Escola de Comunicações e Arte, Universidade de São Paulo,
São Paulo.
"A pintura de Tomie Ohtake se
desenvolve a partir das linguagens abstratas. Assim, da tendência
informal que a caracteriza em fins dos anos 50 evolui para um
abstracionismo gestual explorador da espacialidade em início dos anos
60, aventurando-se por telas de maior dimensão, pesquisando a cor e
texturas com uma finura que marcaria sua contribuição. E dos inícios de
60 uma série de grande poética na qual se utiliza de fluente
gestualidade com sensível redução cromática - ao máximo três tons de cor
quase invariavelmente. Desse período surgirá toda uma fase de
sobreposição de planos em ortogonal sobre a base da tela, com o
materialismo e transparência cromáticas se impondo em composições
sóbrias, de caligrafia visível, já denunciando sua vocação para a
manipulação de uma ampla espacialidade. A presença do geometrismo
dominando forma versus fundo, sempre com um tratamento pictórico
elaborado, emergirá em inícios dos anos 70, e é por essa época que se
define sua predileção por suportes de superfícies quadradas de grande
vastidão espacial. A curva se insinua aos poucos dominando as
superfícies das telas com refinadas transparências".
Aracy Amaral
AMARAL, Aracy (Org.).Tomie Ohtake. In:
MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: perfil de um
acervo. São Paulo: Techint Engenharia, 1988. p. 307.
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